Antes do show com ingressos esgotados que Frejat fez no dia 22 de junho no Center Convention de Uberlândia (MG), tive a oportunidade de conversar com o músico, em nome do Jornal CORREIO de Uberlândia. O bate-papo, que pode ser lido na íntegra abaixo, foi publicado no jornal com uma resenha de Adreana Oliveira – vale conferir, também, o texto da editora. A matéria conjunta também saiu no próprio site do Frejat. A entrevista segue abaixo:
IGOR MIRANDA / CORREIO DE UBERLÂNDIA – Você não lança um disco completo, de inéditas, desde “Intimidade entre estranhos”. O “Amor é quente” é um EP, curto, lançado no iTunes. Por que essa decisão de lançar algo mais breve e em formato virtual? Tem algo a ver com a situação atual da indústria fonográfica ou foi uma decisão particular, sem pensar nos fatores externos?
Frejat – Estou numa dúvida permanente sobre a importância do formato físico e acho importante incentivar o consumo pago de música no ambiente digital, mas se tiver vontade ou certeza que devo lançar um CD no futuro, o farei. O mais importante para mim é continuar compondo e tocando.
Você também mantém um trabalho muito reconhecido como produtor. Até conversei recentemente com o BNegão, com quem você trabalhou no EP conjunto com o Autoramas, e ele te elogiou bastante. Como é “virar a chave” e passar para o trabalho de produção? Para se conseguir um bom resultado, a visão tem de ser muito diferente da visão do músico?
Eu não consigo ter uma visão diferente da minha, mas o papel de produtor apenas me permite uma perspectiva menos contaminada pela criação da canção ou do arranjo e me sinto muito seguro para comentar sobre o trabalho.
No ano passado, você participou da elogiada homenagem ao Cazuza no Rock In Rio. Como foi participar desse trabalho?
Foi estimulante e honroso ser o curador do evento, com a responsabilidade de escolher os convidados e o repertório. Foi uma homenagem bonita e merecida.
Ainda sobre Cazuza, havia uma sintonia diferente entre vocês quando trabalhavam nas composições. Músicos que compõem em parceria sempre têm formas diferentes de trabalhar, então, gostaria que me contasse um pouco como vocês trabalhavam nas músicas.
Isso é muito difícil de explicar em palavras, mas acho que nosso encontro foi um daqueles acasos especiais das nossas vidas e só tenho orgulho e boas lembranças da nossa parceria.
A parceria com Maurício Barros segue forte e presente, tanto nos tempos de Barão quanto na carreira solo. Como tem sido manter o Maurício por perto até os dias de hoje?
Segue firme e forte e é importante para mim, pois ele me conhece como poucos e tem um senso crítico muito apurado, o que me ajuda a avaliar as coisas de formas que nunca imaginaria. Acho que nossa afinidade hoje é um elemento essencial nas minhas escolhas e tento deixar isso claro quando posso, pois, aos olhos do público, o trabalho de um artista e seus êxitos muitas vezes são vistos como resultado apenas de um esforço individual, desvalorizando a presença das outras pessoas ao redor que colaboraram de forma fundamental. A minha banda, que está comigo desde 2001, contribui de forma intensa no trabalho, especialmente nos palcos e gravações que fazemos.
Sei que você tem influências da MPB, mas é inegável que o Barão Vermelho ficou mais rock n’ roll quando o Cazuza saiu e você assumiu a linha de frente. Como foi esse processo de mudança da formação, ainda na década de 80?
Foi muito difícil e cruel ter a sensação que teríamos que começar de novo, mas acreditávamos no potencial do grupo e graças a Deus e a muito trabalho duro, a vida nos deu uma segunda chance. Lutamos muito para provar nossa capacidade, mas isso nos uniu e nos fortaleceu também.
Nos anos 90, o Barão lançou dois dos discos que estão entre os melhores feitos pela banda em minha opinião: “Supermercados da vida” e “Carne crua”. Mas a repercussão já não era a mesma em comparação aos anos 80. A que você acha que isso se deve?
Eu acho que esses discos saíram num momento em que o rock saiu da frente da mídia, pois entraram em cena o sertanejo, o axé, e o pagode como uma afirmação de ritmos populares que queriam se ver nas telas das TVs. O poprock dos anos 80 foi claramente construído por uma classe média urbana que começou a perder espaço na cara do país dali em diante. Apesar disso, a turnê do “Carne Crua” foi uma das maiores que fizemos, pois durou dois anos.
Na sua carreira solo, você se prende menos a estilos, faz um trabalho mais solto. Existia esse dilema de “soar sempre de certa forma” no Barão?
Não, uma banda de rock soa, ou deve soar naturalmente do jeito dela, em princípio. No meu trabalho, essa obrigação não existe no ponto de partida de um arranjo e isso me agrada.
Seus discos solos repercutiram muito bem, mas você lançou poucos trabalhos de estúdio desde o fim do Barão. A cirurgia nas cordas vocais pela qual você passou em 2004 seria um dos motivos? O que justificaria?
Não, foi falta de tempo mesmo, por conta dos shows, além dessa dúvida frequente sobre o valor de gravar um disco inteiro nos dias de hoje. A cirurgia, graças a Deus, só me ensinou a cantar e cuidar melhor da minha voz, zero de perda.
O Barão se separou, mas já contou com duas reuniões. Uma delas, mais recente, para comemorar os 30 anos de carreira da banda. Vocês pensam em mais reuniões? E nunca pensaram em voltar “de vez”, de forma definitiva?
Não penso em voltarmos de vez e penso também que para retornarmos deverá existir uma razão muito forte para justificar a celebração da obra que fizemos e da qual todos temos muito orgulho.
Sei que a nova turnê é o principal plano de agora. Mas você tem planejado outros trabalhos posteriores, seja em estúdio, seja nos palcos?
Sim, compor muito e pensar se lanço ou não um disco no ano que vem. Enquanto isso, vou gravando várias músicas que toquei em meus shows nos últimos tempos em versões de estúdio para serem oferecidas no iTunes e outros sites digitais.