Melódico e impactante, folk platino da banda gaúcha Cuscobayo é irresistível

Cuscobayo: “Na Cancha” (2013)

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É formidável ser apresentado a estilos e culturas musicais diferentes, que fogem da estética e do padrão de costume. Preciso passar a vocês as impressões que tive com o primeiro EP do Cuscobayo, mas pela quebra dos próprios clichês que estou acostumado a ouvir – e analisar -, este texto se tornou um exercício mais complicado do que parece.
O Cuscobayo foi formado em 2012, na cidade de Caxias do Sul (RS), e é composto por Alejandro Montes de Oca (trompete e voz), Lourenço Golin (baixo), Marcos Sandoval (cajón e voz), Rafael Castilhos (percussões) e Rafael Froner (violão, ukulele e voz). Pelo termo ou rótulo, é difícil compreender a proposta do grupo. Eles fazem folk platino. Ou seja, agregam elementos da música tradicional do sul do Brasil, da Argentina e do Uruguai.
Não há questões separatistas, nem limitações de fronteiras. A cultura da região é apresentada, com qualidade, pelo quinteto. Nas quatro faixas do EP “Na Cancha”, que é muito bem produzido e equalizado, a banda apresenta uma sonoridade acústica, tranquila e trabalhada, especialmente, na melodia. Os ganchos melódicos de todas as faixas são notavelmente grudentos.

“Ô, Vagabundo!” abre com um fade de percussão seguido da entrada de violão e do resto do instrumental, liderado por um trompete irresistível. A letra, que é um ode à vadiagem, resgata inconscientemente um pouco do sentimento platino. Versos como “Vou queimar identidade; E inventar um nome falso” e “Clandestino na minha terra; Sou local em qualquer parte” evidenciam que não há uma barreira que separa o Brasil de outros países – e, especialmente, de outras culturas. Ainda mais quando outras fronteiras estão mais próximas do que a capital de sua própria terra.
“Amenidade”, como o título indica, é amena. Para uma música, não é uma qualidade, nem um defeito. Menos efervescente, a canção traz um pouco do charme da música popular brasileira – até porque a frente instrumental é do violão, e não do trompete. Na sequência, a folk “O Tempo Que Te Resta” tem ganchos melódicos bem trabalhados, nuances impactantes e ótima letra. Teria um apelo radiofônico mais interessante caso fosse mais curta – tem 4 minutos e meio de duração.

“Vaguear Perdido” é o momento de maior proximidade com o outro lado da fronteira. Não só pela boa letra em espanhol, mas pela influência ainda mais nítida da música argentina e uruguaia na construção melódica. Para quem está acostumado com a variante música brasileira, essa faixa, que é um pouco mais reta, pode causar estranheza de primeira. Apesar disso, é uma boa música.

A proposta do Cuscobayo é muito distinta, especialmente para quem não está no sul. Por isso, pode ser incompreendida em uma primeira audição e, em termos de mercado, o grupo pode ficar restrito à sua localidade – justamente por ser regional.
Mas fica o recado para quem não compreender a mensagem de início: não se deve ser ignorante a ponto de provar de uma boa produção artística apenas uma vez. Qualidades, detalhes e nuances são facilmente notadas no trabalho do quinteto caxiense, que tem muitas virtudes. Um disco full-length é uma boa pedida e pode fazer a minha nota aumentar.

Nota 8

Alejandro Montes de Oca (vocal, trompete)
Lourenço Golin (baixo)
Marcos Sandoval (vocal, cajón)
Rafael Castilhos (percussões)
Rafael Froner (vocal, violão e ukulele)

01. Ô, Vagabundo!
02. Amenidade
03. O Tempo Que Te Resta
04. Vaguear Perdido

Observação: o Cuscobayo já divulgou novas músicas no canal da banda no YouTube. Clique aqui para conferir.

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Igor Miranda
Igor Miranda
Igor Miranda é jornalista formado pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), com pós-graduação em Jornalismo Digital. Escreve sobre música desde 2007. Além de editar este site, é colaborador da Rolling Stone Brasil. Trabalhou para veículos como Whiplash.Net, portal Cifras, revista Guitarload, jornal Correio de Uberlândia, entre outros. Instagram, Twitter e Facebook: @igormirandasite.

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