O mundo globalizado permite uma troca de culturas que, antigamente, não era imaginável. Há, por exemplo, muitos projetos que trabalham com estilos musicais tradicionais de outros países. É o caso do Duo, de Jundiaí (SP), formado por César Ricky (voz, violão, guitarra, mandolin e gaita) e sua esposa, Jackie M. Mendes (voz, tin whistle e low whistle).
César Ricky e Jackie M. Mendes, que integraram a banda Tehilim Celtic Rock de 2006 a 2012, agora apostam em um projeto mais intimista, mais orientado ao folk. Mas ainda há uma mistura latente entre folk, rock e música celta, praticada com excelência. Composições bem trabalhadas, com ótimos arranjos, dão a tônica do Duo, que lançou recentemente o vídeo “Live Sessions”, registro ao vivo das composições do casal. Vale a pena conferir esse trabalho.
Pude bater um papo com César Ricky, que falou sobre o projeto. Confira o vídeo e o bate-papo:
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IGOR MIRANDA: Como nasceu a proposta de trabalhar em um formato de dupla, mesmo com a trajetória construída pela banda Tehilim Celtic Rock nos anos anteriores? O que levou a esse formato e quais são as facilidades e dificuldades de trabalhar nele?
César Ricky: “Na verdade, quando começamos o Tehilim Celtic Rock, nunca pensamos em ter uma banda. O que aconteceu na época, é que o primeiro CD, que lançamos para apresentar nosso trabalho para artistas que nos contratavam, caiu no gosto das pessoas. Consequentemente, tivemos que montar uma banda para fazer as apresentações. Ficamos assim de 2006 até 2012, quando resolvemos dar uma pausa. Logo que voltamos, em 2013, eu comentei com a Jackie que queria testar o formato dupla, rearranjando as músicas e utilizando um pedal de loop para as bases, quando fosse o momento de fazer solos ou duetos entre guitarra e tin whistle. E aconteceu que deu certo! As adaptações vieram mais sobre o que tocar nesse formato. Percebemos que era mais interessante explorar músicas com vocal do que as instrumentais. E já que o nosso interesse era colocar vocal, também notamos que uma mudança no estilo musical seria inevitável. Como o bluegrass, o country e o folk americano tem muita influência dos irlandeses que foram embora para os EUA, foi o estilo musical onde melhor consegui encaixar a voz e compor. O lado bom de ser uma dupla é que ensaiamos em casa, a logística fica mais simples e podemos cobrar um preço mais baixo quando saímos. Sem falar que as pessoas interagem com a música vinda de uma dupla, de uma maneira diferente do que com uma banda. O lado ruim é que algumas músicas instrumentais mais elaboradas e pesadas, que gravamos no passado, acabam ficando de lado. Por isso que nesse caso preferimos ser honestos com quem vai assistir, explicamos que em Duo a pessoa não irá ver uma apresentação do Tehilim Celtic Rock, mas o Duo feito pelos criadores da banda (e esse foi um ponto muito crucial que nos levou a criação do Duo)”.
Uma curiosidade digna de revista Caras: há, também, facilidades e dificuldades nessa mistura de trabalho e casamento?
“Hahahahah, gostei! Muito mais facilidades do que dificuldades. Nós conhecemos um ao outro melhor do que ninguém. Sabemos o gosto de cada um e como funciona a forma como trabalhamos. Sem dúvidas, dentro da chatice musical que cada músico carrega consigo, nós suportamos um ao outro com mais facilidade por que nos conhecemos intimamente. É bem mais fácil de trabalhar assim”.
Como surgiu a ideia de trabalhar em um estilo tão pouco disseminado no Brasil, justamente por ser tradicional de outras partes do mundo?
“Surgiu de duas coisas. Primeiro, porque ouvimos muita música produzida em outros países. Nós gostamos muito da transculturação, não somos muito bons em apreciar a nossa própria cultura (mesmo reconhecendo seu valor), mas gostamos muito daquilo que é diferente de nós. Segundo, porque fazer algo que é diferente do que a maioria das pessoas estão fazendo é legal, é sair do comum e explorar um caminho novo, e isso é empolgante. Não temos vantagens em relação a agendar shows e fechar contratos. Porém, o fato de fazermos um tipo de música diferente acaba sendo curioso para a maioria das pessoas”.
Apesar de ainda pouco disseminadas no Brasil, as influências folk/celtic estão presentes no mainstream, tanto em artistas do passado quanto da atualidade. Temos, até mesmo no meu estado de Minas Gerais, o Tuatha de Danann como um dos representantes nacionais. Há uma tentativa de apostar em um mercado internacional com esse tipo de trabalho?
“No exterior a influência celta é bem grande na música. Desde o metal mais pesado até mesmo no pop. E isso acontece tanto nos EUA como na Europa. Aqui no Brasil, o Tuatha de Danann é um exemplo de quem resolveu arriscar sem ter medo do que iria acontecer, por isso eles merecem todos os méritos. Nós temos muito interesse em conseguir fazer com que a nossa carreira se torne internacional. Cantamos em inglês não somente por causa do estilo, mas para globalizar a nossa imagem. Confesso que ainda precisamos encontrar os caminhos de contatos para essa carreira internacional, pois nem sempre é fácil. Mas quem sabe o futuro nos reserva algo interessante nessa questão”.
O Tehilim Celtic Rock lançou CDs, enquanto o Duo aposta, inicialmente, em um vídeo disponibilizado virtualmente. Como vocês encaram essa mudança de mídia (física para virtual) e, consequentemente, de mercado?
“Em 2012, o último álbum que lançamos com o Tehilim Celtic Rock foi direto para download gratuito. Se você observar, quando queremos conhecer uma banda, não buscamos mais o áudio dela, procuramos no YouTube. Quando optamos por fazer um vídeo, logo de cara, foi pensando que a melhor forma de lançarmos esse novo formato seria mostrando um pocket show, ao invés de somente o áudio. Obviamente que nós liberamos o áudio para download gratuito (www.noisetrade.com/tehilimcelticrock/duo-live-sessions), mas o nosso interesse é que as pessoas nos vejam. Acho que a música atual é muito corrigida e maquiada, não existem mais “erros” que os músicos cometem no palco. Ninguém toca com perfeição em todas as apresentações, e todo mundo erra. Esse foi um lado que eu quis que ficasse livre no Duo, não fizemos correção de nada para sermos os mais autênticos possíveis”.
Vocês pretendem lançar algo em formato físico, ou gravações de estúdio (full-length)? Quais são os próximos planos para o Duo?
“Algumas vezes passa pela cabeça a vontade de fazer um DVD/Blu-Ray. Porém, quando pensamos que em dias onde as pessoas assistem vídeos de YouTube pela TV (além dos tablets, smartphones e computadores), confesso que desanima. O que desanima é pensar que o investimento para isso é alto demais para quem é independente, sem falar que corre o risco de tudo ficar parado num estoque. De qualquer forma, estamos deixando o vídeo rodar e estamos curtindo o resultado disso. Mas temos em nossos planos fazer outros trabalhos em vídeo, com certeza”