O Trela transborda segurança em seu trabalho. Não é para menos: os músicos já estiveram em projetos diferentes antes de embarcarem em algo juntos. Max (vocal), Chaveirinho (guitarra), Thiago (baixo) e Carlinhos (bateria) são “velhos de guerra” da cena de Piracicaba (SP) e tocam juntos há mais de 10 anos.
Assim como grande parte das bandas de rock do interior paulista, o Trela traz o rap como influência em seu rock n’ roll. Mas, além de outras pitadas de reggae, é curioso que a parte rock n’ roll do grupo aposta em algo semelhante ao classic rock, com os divertidos clichês em riffs que todos adoramos. O EP “A arte de improvisar” (2014) impressiona pelo entrosamento e pela capacidade de se trabalhar em ótimas melodias. Tudo soa bem colocado e redondo nas cinco faixas do trabalho, que deixa uma excelente impressão e um gosto de “quero mais”.
Tive a oportunidade (e o prazer) de bater um papo com Max. Falamos sobre a história da banda, videoclipes, processo de composição e as participações de Marcão Britto (ex-Charlie Brown Jr e A Banca, Bula) e Zeider Pires (Planta e Raiz) na música “O que eu não vejo”. Marcão também assina a produção das cinco faixas. Confira:
IGOR MIRANDA: Pelo o que soube, o Trela não é o primeiro projeto dos músicos envolvidos – algo natural, até porque dá para notar a maturidade no som da banda. De onde veio cada um e como vocês se juntaram?
MAX – TRELA: “Não só não é nosso primeiro projeto musical, como também não é nosso primeiro projeto juntos. Eu, meu irmão (Chaverinho) e o Carlinhos tocamos juntos desde a adolescência. Já tivemos banda de escola, o Carlinhos e o Thiago tocaram juntos em uma banda de reggae, depois montamos uma banda de pop rock nós quatro. Já são mais de dez anos tocando juntos e isso nos deu um entrosamento e química músical que toda banda almeja conseguir. Somos de Piracicaba, interior de SP, onde existe sim uma cena musical, mas limitada para o rock. São poucos os que decidem apostar de verdade em ter uma banda”.
Em uma tentativa de parecerem únicas, muitas bandas inventam que têm várias influências, mas soam como uma coisa só. O Trela realmente mistura: guitarra puxada pro rock clássico, cozinha (baixo e bateria) versátil mas com pegada hardcore e vocal que vai, de fato, do rock ao rap. Ainda tem o espaço pros momentos do reggae. Como funciona o processo de composição de vocês? Quem faz o que e como é feito?
“Aprendemos a compor juntos, como banda. Todas as músicas do Trela são iniciadas como jams de estúdio. Gravamos essas bases e depois eu pego pra ouvir no carro, ou no quarto até que algumas delas me inspiram a escrever. Faço então a letra e melodia e depois gravo uma voz guia por cima da base escolhida. Assim nascem nossas demos. A grande vantagem disso é que a sonoridade acaba recebendo pitadas das influências particulares de cada um”.
A participação do Marcão em “O que eu não vejo” dispensa comentários. Só de ouvir, dá para saber que é ele tocando, especialmente pela pegada no solo. Fora o trabalho de produção, que ficou bom. Como foi contar com o Marcão no EP?
“Imagine ser fã do trabalho de um cara desde que você montou a sua primeira banda e depois de abrir alguns shows da banda dele (A Banca), ele ouve seu som e te convida pra gravar um disco no estúdio dele, com própria produção. Surreal. Para a gente, foi algo muito estranho no começo, pois estávamos criando a sonoridade do Trela tendo como guru um cara que sempre usamos como exemplo de onde queríamos chegar. Poderíamos ter produzido com um produtor de renome e que nos lapidasse dos pés à cabeça, comercialmente falando, mas não. Nesse momento inicial da banda precisávamos de alguém que tivesse muita estrada, muita experiência com nosso público e com o palco, pra nos ajudar a escolher as músicas que realmente funcionariam para o Trela nos shows. O Marcão foi praticamente nosso quinto integrante”.
Além disso, o vocalista do Planta & Raiz, Zeider Pires, também participou – da mesma música, inclusive. Como foi o convite e como rolou essa parceria?
“O Zeider é um dos artistas mais gente fina que você pode conhecer nos bastidores. Entre um festival e outro, trocamos ideias algumas vezes e, em um show que o Planta fez em Piracicaba, tomamos coragem e fizemos o convite. Ele prontamente aceitou participar, ainda mais quando soube que a produção seria do Marcão, parceiro de longa data. Mandamos algumas das músicas para ele escolher qual gravar e ele adorou ‘O que eu não vejo’. Quando ele gravou os vocais, a música cresceu tanto que acabou se tornando um single indiscutível”.
Em três meses vocês lançaram dois clipes. Quase metade do EP já tem um registro em vídeo. Os canais de música na TV não ditam mais a moda como antigamente, mas ainda assim há uma aposta muito forte nos clipes – por conta da internet, imagino. Como vocês enxergam isso? O que leva vocês a apostarem, também, em vídeos?
“Com a falência dos canais puramente de videoclipes, como a antiga MTV, graças à facilidade de se assistir tudo e qualquer vídeo a qualquer instante no YouTube, começou a se criar uma nova forma de produção de clipes, voltados para o internauta. Esses clipes não precisam mais ser megaproduzidos, por agencias caríssimas e equipes imensas. Os chamados webclipes precisam apenas de uma sacada legal, algo que os tornem diferentes do habitual, pois, em tempos de HD, o que conta mesmo é a ideia. Aliado a tudo isso, o lugar onde se ‘ouve’ mais música hoje é no YouTube. Então pensamos, por que não ter clipe de todas as músicas? Assim temos mais gente ouvindo nossas músicas e ainda podemos complementar a mensagem das letras com imagens. Estamos, então, produzindo um vídeo para cada uma das nossas faixas”.
Vocês estão gravando um disco, certo? Como está o processo de gravação e o que o ouvinte pode esperar do próximo lançamento do Trela?
“Atualmente estamos produzindo algumas demos em nosso estúdio, e provavelmente vamos lançar elas como singles soltos. Não sentimos necessidade de estarmos presos à produção de discos cheios para ter material inédito. De qualquer forma, é provável que para o ano que vem o Trela lance um novo EP, com novas participações e com uma sonoridade já mais madura depois do nosso primeiro ano de estrada com o Trela”.