Menino veneno! Carreira de Ritchie teria sido sabotada por Roberto Carlos, diz livro

Impulsionado pela polêmica gerada pela minissérie “Tim Maia: Vale o que vier”, da TV Globo, onde houve acusações de que a trajetória de Roberto Carlos com Tim Maia foi manipulada, o jornalista André Barcinski decidiu divulgar um trecho de seu livro “Pavões Misteriosos – 1974-1983: A explosão da música pop no Brasil”, onde fala de uma suposta situação emblemática entre Roberto Carlos e outro cantor expressivo no Brasil: o inglês Ritchie.
O trecho da obra fala sobre o início de Ritchie como artista pop no Brasil, logo após o lançamento do álbum “Vôo de Coração” (1983), de grande sucesso na época. O cantor se tornou a sensação do momento e teria despertado a atenção de Roberto Carlos. Mas, supostamente, não de uma forma muito positiva ou amigável.
De acordo com uma entrevista de Tim Maia à revista Istoé, Roberto Carlos trabalhou por trás das cortinas para que Ritchie não repetisse o sucesso do disco que contém a música “Menina Veneno”. Em outra entrevista concedida ao site Na Rota do Rock, Ritchie nega qualquer intervenção do “Rei” em sua carreira e reforça que isso se tornou um mito dito como verdade por muitas pessoas.
Abaixo, segue o trecho do livro divulgado por André Barcinski em seu blog, no Portal R7:
“O futuro parecia promissor para Ritchie: rico, famoso, e com um contrato de mais três discos com a CBS. Mas uma série de desentendimentos e crises acabaria por prejudicar sua carreira. Depois do sucesso de Vôo de Coração, ele nunca mais teria um LP entre os 50 mais vendidos do ano no Brasil. Quando foi gravar o segundo disco, E a Vida Continua, o cantor sentiu certa má vontade por parte da CBS. ‘Eles não divulgaram o disco, não pareciam interessados’. A música de trabalho, A Mulher Invisível, outra parceria com Bernardo Vilhena, fez sucesso nas rádios, mas logo sumiu das paradas. O LP vendeu 100 mil cópias, uma boa marca, mas pálida em comparação ao 1,2 milhão de Vôo de Coração. O disco seguinte, Circular, vendeu menos ainda: 60 mil.

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Ritchie ficou perplexo. Não entendia como havia passado, em tão pouco tempo, de prioridade a um estorvo na CBS. Até que leu uma entrevista de Tim Maia à revista IstoÉ, em que o Síndico afirmava que Roberto Carlos, o maior nome da gravadora, havia ‘puxado o tapete’ de Ritchie. ‘Eu não podia acreditar. O Roberto sempre foi muito carinhoso comigo, sempre fez questão de me receber no camarim dele, sempre me tratou muito bem. Até hoje, não acredito que isso tenha partido do Roberto’.

Um dia, Ritchie foi cumprimentar Tim Maia depois de um show no Canecão. O camarim estava lotado. Assim que viu Ritchie, Tim gritou: ‘Agora todo mundo pra fora, que vou receber meu amigo Ritchie, o homem que foi derrubado da CBS pelo Roberto Carlos’. Claudio Condé, da CBS, nega: ‘Isso é viagem. O Roberto nunca teve esse tipo de ciúme’.

Para piorar a situação, Ritchie havia comprado briga com outro peso-pesado da indústria da música: Chacrinha. Por um bom tempo, o cantor havia participado dos playbacks que o Velho Guerreiro promovia em clubes do subúrbio do Rio de Janeiro, mas essas apresentações começaram, gradativamente, a atrapalhar a agenda de shows de Ritchie. ‘O filho do Chacrinha, Leleco, marcou um playback comigo, a Alcione e o Sidney Magal no estacionamento de um shopping, mas eu tinha um show de verdade em Belo Horizonte, e meu empresário disse que eu não poderia comparecer’.

Resultado: Ritchie passou a ter cada vez mais dificuldades em aparecer na TV e viu notinhas maliciosas plantadas em colunas musicais. Uma delas dizia: ‘O artista inglês Ritchie, tão bem acolhido pelos brasileiros, se recusa a trabalhar com artistas brasileiros’. ‘Fiquei puto da vida’. Em janeiro de 1985, Ritchie, o maior vendedor de discos do Brasil no ano anterior, foi ignorado pelo Rock in Rio. ‘Aquilo me deixou arrasado. Lembro que um dos organizadores do festival deu uma declaração de que eu nem brasileiro era. Como pode uma coisa dessas?’.

Ritchie estava tão por baixo na CBS que a gravadora concordou em rescindir seu contrato, mesmo faltando um disco. O cantor assinou com a Polygram e lançou, em 1987, o compacto de Transas, tema da novela global Roda de Fogo. Transas vendeu muito bem, mas o primeiro LP pela Polygram, Loucura e Mágica, não passou de 25 mil cópias. Em três anos, Ritchie fora de maior astro do Brasil a fracasso de vendas, tornando-se um exemplo marcante da efemeridade dos fenômenos pop.

Anos depois, quando fazia um show em Angra dos Reis, o cantor foi procurado por um homem, que se apresentou como radialista e lhe disse: ‘Há anos quero te contar um caso: quando você lançou A Mulher Invisível, aconteceu algo que eu nunca tinha presenciado em mais de 30 anos trabalhando em rádio: eu ganhei um jabá da sua própria gravadora para não tocar sua música!'”

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Igor Miranda
Igor Miranda
Igor Miranda é jornalista formado pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), com pós-graduação em Jornalismo Digital. Escreve sobre música desde 2007. Além de editar este site, é colaborador da Rolling Stone Brasil. Trabalhou para veículos como Whiplash.Net, portal Cifras, revista Guitarload, jornal Correio de Uberlândia, entre outros. Instagram, Twitter e Facebook: @igormirandasite.

1 COMENTÁRIO

  1. Quanto ao Ritchie me parece um certo exagero: até hoje “Menina Veneno” é como sucesso impar dele! Agora que Roberto Carlos sempre foi o sucesso atrelado a Midia é Inegável: basta a comparação ao contemporâneo dele: o Agnaldo Rayol, por exemplo! Ronnie Von em Entrevista revelou ter ouvido do Roberto Carlos porque sendo rico havia sido Cantor, numa alusão que poderia o Ronnie ser por exemplo: Empresário de qualquer área que pretendesse atuar! E Ronnie a favor tinha a beleza e forte carisma, onde até minha tia, ficou como “decepcionada” com a declaração dele quando separou da esposa, ter sentido saudade do piano, como um paradoxo, a apresentação dele como cantor romântico!!!

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