“Psycho Circus” é um dos discos mais confusos do KISS. Ace Frehley e Peter Criss se reuniram com a banda, mas não participaram das gravações do primeiro álbum após a volta. A decisão, tomada pelo produtor Bruce Fairbairn por uma questão técnica, permanece indigesta até os dias de hoje pelos fãs do grupo.
Fato é que o período foi muito produtivo para o KISS. Nos anos anteriores, o cronograma era sempre muito apertado. Novo disco, turnê de divulgação, um tempinho de folga e volta tudo outra vez. Até chegar em “Psycho Circus”, a banda havia feito turnês em pubs e em convenções para fãs diehards. Com menor produção e mais tempo disponível, é natural que um músico-compositor comece a trabalhar em novas canções.
Dezenove músicas foram gravadas para “Psycho Circus” – isso porque Ace Frehley e Peter Criss não foram envolvidos no processo e só há uma música de Frehley, “Into The Void”, no registro final. Dez foram escolhidas com um padrão evidente: trazer o ambiente rock n’ roll com ares de grandiosidade ao estilo “Destroyer”. E, curiosamente, o produtor seria o mesmo, Bob Ezrin, mas Paul Stanley e Gene Simmons acabaram decidindo por Bruce Fairbairn. Não sei se ele conseguiu realmente captar a essência e a proposta que o KISS queria, mas isso é assunto para outro momento.
No geral, as faixas que ficaram de fora, em sua maioria feitas por Gene Simmons, fogem dessa proposta de “grandiosidade obrigatória”. Por isso, são interessantes. Conheça as músicas renegadas do “Psycho Circus”, além de versões alternativas de faixas que entraram na tracklist final:
“I Wanna Rule The World”: a idolatria de Gene Simmons pelos Beatles não é secreta. Em algumas faixas que chegaram a ser lançadas pela banda, ele deixa a influência bem clara. Essa canção é bem Beatle e, apesar de ser boa, é um pouco longa demais – por isso, fica enjoativa. A proposta não combina com o disco, o que também justifica ter ficado de fora da tracklist final.
“I Am Yours”: com um toque orquestrado como pano de fundo em alguns momentos, essa faixa é um momento bem açucarado do Demon, que mandou muito bem nos vocais. Com uma melhor produção e uma linha de bateria menos monótona, poderia entrar fácil no lugar de “I Finally Found My Way”, por exemplo.
“Body And Soul”: a única faixa feita por Paul Stanley com gravação concretizada que ficou de fora de “Psycho Circus”. Essa música adianta uma outra faceta do Starchild que foi apresentada em “Live To Win”: a pegada um pouco mais contemporânea e radiofônica com a cara das décadas de 1990 e 2000. O baixo foi gravado por Bruce Kulick. O refrão e o riff principal são fantásticos e poderia ter entrado na tracklist final, apesar de realmente não combinar muito com a proposta do disco.
“Sweet & Dirty Love”: como foi que essa música ficou de fora? Esse é um dos melhores momentos da carreira de Ace Frehley enquanto guitarrista. Rock n’ roll em sua essência, com muito slide e uma pegada quase blues rock. Aparentemente, é Ace mesmo quem toca, pois Gene Simmons chega a gritar “Ace!” antes do solo principal.
“Carnival Of Souls”: apesar do título, essa música tem pouco a ver com o disco de mesmo nome, lançado em 1997. Faixa volátil e pesada, com variações de tempo e boa performance instrumental no geral. Foge do padrão e por isso é muito boa. Aparece regravada em “Asshole”, disco solo de Gene Simmons.
“It’s My Life”: típica parceria entre Gene Simmons e Paul Stanley, essa música, feita em 1981, merecia estar em qualquer disco do KISS. Consistente, preserva a essência da banda com excelência. O outtake originalmente feito para “Psycho Circus” é ligeiramente diferente da versão que saiu em “Box Set”, com menor ênfase na bateria, maior destaque aos backing vocals e algumas linhas extra de guitarra. Ouça a partir dos 15min45seg do vídeo abaixo:
“Rain Keeps Fallin'”: pela timbragem dos instrumentos e pela abordagem um pouco mais pop, parece ter sido gravada na década de 1980. No entanto, foi registrada em meados de 1998 mesmo. O instrumental é envolvente, só faltou uma linha de voz tão poderosa quanto.
“In Your Face”: uma composição típica de Ace Frehley, essa música entrou como bônus da edição limitada do “Psycho Circus”. Injusto, pois é uma boa música e poderia ter entrado. Paulada roqueira nos padrões dos discos solo do Spaceman. Ouça a versão alternativa (outtake) a partir dos 7min10seg do vídeo abaixo:
“Raise Your Glasses”: a versão a seguir é listada como “Collector’s Mix”, mas trata-se apenas da demo gravada por Paul Stanley com Bob Ezrin, quando Bruce Fairbairn ainda não estava definido como o produtor de “Psycho Circus”. Ligeiramente diferente da faixa que saiu no álbum, especialmente pela bateria mais consistente e crua (seria Kevin Valentine, Peter Criss ou nenhum dos dois?), essa demo me agrada mais do que a mix final.