Um trecho da entrevista de Flemming Rasmussen ao Ultimate Guitar é bem curioso. O produtor, que trabalhou com o Metallica na década de 1980, disse que “Jason Newsted era melhor do que Cliff Burton em aspectos técnicos”.
Flemming Rasmussen fala com um conhecimento de causa que poucos têm. Ele produziu “Ride The Lightning”, “Master Of Puppets” e “…And Justice For All”. Viu de perto o processo que gerou tais álbuns. Nós só conhecemos o produto final. Discurso de autoridade, que merece ser dissecado.
Quando é dito que Jason Newsted era melhor do que Cliff Burton, há uma série de aspectos que devem ser considerados. A estranheza inicial é certa, porque Burton se destacava muito. Mas ele tinha espaço para isso. O trabalho de estúdio, o espaço para contribuição nas composições e até a regulagem dos instrumentos em apresentações ao vivo jogavam holofotes, mesmo que de forma moderada, ao falecido baixista.
Jason Newsted nunca teve essa oportunidade. “…And Justice For All”, com a pista de baixo em volume quase zero, é o exemplo mais conhecido, mas o instrumento também não teve o valor que merecia nos trabalhos posteriores. Nem mesmo no recente “Death Magnetic”, já com Robert Trujillo. Não dá para dizer que Newsted poderia ter contribuído mais nas composições porque simplesmente não é possível saber se ele realmente era tão criativo à época, a ponto de trazer boas colaborações – apesar das bandas que integrou posteriormente. Mas não houve brecha para praticamente nada.
Quando Flemming Rasmussen diz que Jason Newsted era melhor em questões técnicas, fica evidente, também, outra questão: Cliff Burton muitas vezes não tocava como um baixista. Apesar de ter sido um ótimo músico, parecia um guitarrista com um instrumento mais grave em mãos durante várias ocasiões. Em uma faixa mais complexa, como “Master of Puppets”, ele basicamente segue as linhas de James Hetfield e Kirk Hammett. Newsted, por sua vez, preenchia melhor os espaços. Ao vivo, demonstrava um tipo de solidez pouco notada por leigos e ainda se destacava nos vocais. Nesse sentido técnico, dá até para dizer que Newsted supera Robert Trujillo. Provavelmente Burton teria esse amadurecimento ao longo dos anos, se não fosse a tragédia. Mas especulações são inválidas nesse campo.
Há, ainda, questões pessoais levantadas ao longo dos anos, como a de que Jason Newsted sofria bullying na banda. Duvido que tenha sido da forma relatada em entrevistas posteriores, mas não tenho conhecimento de causa para opinar. Não estava lá para saber. Também não é correto sacramentar que Newsted foi melhor que Burton no Metallica e vice-versa – trata-se de uma questão pessoal. Cada fã tem sua preferência. No entanto, como baixista, o trabalho de Newsted teve muita solidez nos poucos momentos em que é possível analisar, especialmente ao vivo, e aparentemente somava muito ao som do grupo. Burton, por sua vez, tinha destaques individuais. E, infelizmente, a tragédia canoniza.
A impressão passada pelos demais integrantes do Metallica é que, depois de Cliff Burton, eles queriam um baixista apenas para tocar o instrumento e não um integrante, de fato. Nada de “novo jogador para o time” – James Hetfield e Lars Ulrich, em especial, parecem ter buscado alguém para executar as trilhas e se apresentar ao vivo. Algo semelhante ao que os Rolling Stones fizeram com Darryl Jones e o Bon Jovi, com Hugh McDonald. O espaço limitado para Jason Newsted nos discos representa isso. Robert Trujillo caminha para o mesmo destino. Inclusive, quem o viu tocando em outros projetos fora do Metallica, sabe que ele poderia ter feito algo com maior destaque em “Death Magnetic”.