A turma do rock/metal não sabe envelhecer?

Gênero marcado pela rebeldia e por ter os jovens como principais fãs, o rock, enfim, envelheceu. Estamos em um momento onde praticamente separamos o estilo em dois mundos: o atual e o antigo. O retrô está na moda, pois há bandas atuais que emulam o antigo em seu trabalho. Enquanto isso, os velhos heróis que não morreram aos 27 continuam por aí. Muitos deles, em crise de meia-idade.
Em agosto de 2015, por exemplo, o site Metal Sucks destacou que no release de imprensa que divulgava informações sobre “Golgotha”, até então novo álbum do W.A.S.P., a foto de Blackie Lawless é bem antiga. Não é necessário fazer uma busca muito aprofundada para constatar que a imagem utilizada é da mesma sessão feita para divulgar o disco antecessor, “Babylon”, de 2009. A aparência do músico mudou bastante nos últimos anos e ele se rejeita a fazer qualquer adaptação – continua com os mesmos trajes e as mesmas características das últimas décadas. Para piorar, ainda usa fotografias antigas.
Há outros exemplos sintomáticos, especialmente dentro do hard rock. Os integrantes do Poison, por exemplo, são a personificação do botox. Sobre o Ratt, nem se fala: são os Dinho Ouro Preto dos Estados Unidos. O Cinderella é tipo o “grupo do livro” com as tias do quarteirão – turma que também conta com Sebastian Bach (aquele mesmo, que canta sobre a juventude em “Youth Gone Wild” toda noite) como integrante. O pessoal do Tesla, sem os cabelos, seria o quinteto profissional do churrasco no fim de semana. Há, ainda, outros exemplos no metal, apesar de menos frequentes.
Chacotas à parte (se o problema fosse só aparência, não seria o ponto desse texto), esse fenômeno se repete entre bandas que também têm uma característica em comum: no geral, nenhuma delas lança material novo. Quando há álbum de inéditas ou coisa do tipo, a regularidade é risível, com pausas de cinco ou dez anos entre um disco e outro. Algo nesse sentido acontece atualmente com o Van Halen, que finalmente havia voltado às boas com “A Different Kind Of Truth” e agora está em dissonância porque, segundo Eddie Van Halen, um dos integrantes aparentemente não sabe lidar com a idade.
Há, ainda, os casos de músicos que não sabem adequar sua performance à idade avançada. Até pouco tempo atrás, Mark Slaughter estava tentando gritar como no início dos anos 90, como mostra alguns registros amadores de shows do Slaughter. O já mencionado Sebastian Bach continua forçando suas cordas vocais em busca do som que, mesmo mais de 20 anos atrás, só conseguia mesmo em estúdio. O KISS demorou um bocado para abaixar o tom de suas músicas. Poderia passar o dia citando exemplos. Quando há uma tentativa de adaptar-se às condições atuais, como Axl Rose fez ao deixar de lado a opção rasgada em seus agudos (apesar de concordar que não foi feito da melhor forma), o público rejeita de forma massiva.
Tudo isso não parece ser apenas um acaso. A turma do hard e alguns nomes do metal vivem no passado. Vestem suas fantasias apenas no verão, quando fazem turnês caça-níqueis, e ficam anos sem entregar material novo para os fãs. Muitos nem se importam em ter um disco com músicas inéditas – quem precisa de material diferente quando se tem as mesmas canções de sempre, não é mesmo?
Não há problema nenhum em envelhecer. Há nomes que souberam chegar a idades avançadas ainda apresentando algo relevante, seja entre nomes clássicos, do hard rock ou do metal. Não sugiro que essas bandas da “eterna juventude” coloquem uniformes da firma para fazer seus minguados shows. Mas a breguice dos estilos em questão afasta novos fãs e até mesmo os antigos que ainda procuram por novidades.
Destaco, novamente, que o julgamento não é apenas sobre visual ou aparência: é só mais uma constatação de que os ídolos não sabem envelhecer, nem sabem a hora de parar. Há um reflexo na parte física, mas o sintoma se repete musicalmente.
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Igor Miranda
Igor Miranda
Igor Miranda é jornalista formado pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), com pós-graduação em Jornalismo Digital. Escreve sobre música desde 2007. Além de editar este site, é colaborador da Rolling Stone Brasil. Trabalhou para veículos como Whiplash.Net, portal Cifras, revista Guitarload, jornal Correio de Uberlândia, entre outros. Instagram, Twitter e Facebook: @igormirandasite.

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