Entre os nomes de som pesado, o Dr. Sin é a minha banda brasileira favorita. Uma característica, em especial, sempre me fez ter carinho pelo trio: o valor atribuído a seus discos. Cada trabalho tem seu charme e, geralmente, não há música ruim ou mal colocada na tracklist. Ao vivo, pude conferir Edu Ardanuy e os irmãos Andria e Ivan Busic em duas ocasiões no ano de 2013. Em ambas, ótimas apresentações.
Senti, porém, certo desgaste em “Intactus”, álbum mais recente, lançado neste ano. Trata-se de um bom disco, só que, diferentemente dos anteriores, não havia aquela faixa de se tirar o fôlego. Por mais que a banda negue (inclusive, em entrevista concedida a mim) novas direções musicais nesse novo trabalho, a sensação deixada nesse full-length é de que os caras tentaram mudar, mas não chegaram a um denominador satisfatório.
A banda, então, anunciou uma turnê de despedida por meio de uma publicação pouco explicativa no Facebook. A partir de 2016, Dr. Sin será passado. Nos comentários da própria postagem e em outros espaços de discussão nas mídias sociais, muitos atribuem esse fim a questões de mercado, falta de espaço do trio na mídia tradicional e todo aquele blá-blá-blá que já conhecemos.
Muitos se esquecem, no entanto, que o Dr. Sin enfrenta essa situação há anos, assim como a esmagadora maioria das bandas de hard rock e metal no Brasil. Os estilos em questão nunca foram populares e até ganharam uma sobrevida com a internet e suas ferramentas que facilitam a divulgação.
Entre todas essas especulações, não há porque deixar de cogitar o mais simples motivo que poderia levar ao fim da banda: ela já deu o que poderia dar. Poucos chegam a mais de 20 anos de carreira e sete álbuns de inéditas lançados sem atritos – que muitas vezes se tornam públicos por meio da imprensa –, mudanças de formação e afins. É uma marca positiva dentro do contexto que o Dr. Sin esteve inserido desde sua criação, em 1992.
A decisão do trio em encerrar suas atividades é rara e nobre, considerando que inúmeras bandas do estilo se arrastam, diminuem consideravelmente sua produtividade em estúdio para investir em turnês eternas e mostram, ano após ano, que só estão tentando repetir um passado de glórias. Não é demérito para ninguém, nem todos conseguem se reinventar com êxito em um cenário cada vez mais saudosista e pouco reformulado. Só é maçante quando alguém se torna um pastiche de si e, de certa forma, o Dr. Sin acabou antes de ser vítima de uma situação como essa.
Andria Busic, Ivan Busic e Edu Ardanuy já se dedicam a atividades paralelas, como aulas, workshops e trabalhos de produção com outras bandas. Não morreram, nem saíram do meio musical. Enxergar tudo isso como o fim de um ciclo é muito mais produtivo do que os papos batidos de “Brasil é isso”, “enquanto isso só toca lixo na rádio” e por aí vai – apesar da recente declaração de Ardanuy reforçar esse tipo de pensamento.