O Rock In Rio começou nesta sexta-feira (18) e foi até domingo (20). Até quinta-feira (24), tem uma pausa. Daí, mais quatro dias de festival – o evento termina no domingo. Consegui me planejar e fui, como consumidor e não como jornalista credenciado, no sábado (19), considerado o “dia do metal”. Ou um deles, visto que há som de peso, também, na quinta e na sexta-feira.
O line-up do dia 19 me agradou. O incontestável Metallica, a grandiosa novidade Royal Blood, o híbrido Korn, o nacional Angra com Doro Pesch e Dee Snider, e o Môtley Crüe, uma das minhas bandas favoritas. Além desses, rolou apresentações de Gojira, Ministry com Burton C. Bell (Fear Factory) e Noturnall com Michael Kiske (ex-Helloween).
Como estive no Rock In Rio sem credencial, a tentativa desse texto é explicitar o ponto de vista que um consumidor teria do evento – sem sala de imprensa, acesso separado e regalias do tipo.
É evidente que temos erros e acertos por parte da produção, mas o saldo final é muito positivo. Os equívocos nem sempre dependem da organização do evento em si. No fim das contas, recomendo a experiência de estar no Rock In Rio para todos que quiserem e puderem ir. O ingresso não é tão caro (em comparação a outros eventos do gênero) e muitos atributos positivos do festival são exclusivos. Não é em qualquer lugar que se faz algo tão grandioso como o Rock In Rio.
Estrutura fora do evento
Demorei cerca de 2h30min para chegar ao festival. Estava na zona sul do Rio de Janeiro (RJ) e me desloquei até a zona oeste, local do evento – cerca de 35 km de distância entre os dois pontos. O mesmo tempo foi gasto na volta. Optei pelo transporte convencional, que me custou cerca de R$ 14, ao invés da opção “primeira classe”, com ida e volta por R$ 70.
Alguns problemas estavam nítidos. O terminal intermediário estava lotado e era necessário dar algumas voltas até chegar ao ponto de embarque dos BRTs. O público foi deixado a alguns quilômetros da entrada. Na volta, o mesmo problema, só que pior, pela concentração ainda maior de pessoas.
Como disse, a distância entre o ponto final de ônibus e a entrada do Rock In Rio era de alguns quilômetros. Até chegar ao festival, todo tipo de chão: areia, terra, barro e piso irregular. Sorte que não choveu.
Nesse ponto, erros atrás de erros – o transporte demorado e a “via sacra” até chegar ao festival foram os principais problemas. A área próxima à entrada estava em obras. Deveriam estar finalizadas ou alguma solução deveria ter sido pensada.
Estrutura dentro do evento
Do lado de fora, um pesadelo. Do lado de dentro, um sonho. O Rock In Rio se propõe a ir além: não é só um festival de música, mas sim um grande parque de entretenimento que conta com shows. Stands, lojas, dezenas de opções de alimentação, brinquedos e muito mais. E tudo operou muito bem, apesar das filas nas lanchonetes e afins.
Há quem conteste os preços praticados dentro do Rock In Rio. Mas paga-se um preço a mais para ter tantas opções no local. Além disso, o festival permite que cada pessoa leve até cinco itens de alimentação – algo inadmissível em quase todos os outros eventos de música no Brasil.
A visão além da música é positiva e oferece um diferencial ao Rock In Rio, porque nem todos querem assistir a todas as apresentações. Com isso, há muitas opções de entretenimento fora da área dos palcos.
Por falar em palcos, ambos estavam impecáveis. O Palco Mundo conta com uma estrutura incrível. O som é cristalino, a regulagem é perfeita e os complementos funcionam perfeitamente. Não se iluda pela transmissão da TV: é muito melhor ao vivo.
Há relatos de que os banheiros estavam lotados. Quem disse isso, não esteve em todos eles ou deu azar. Várias opções estavam distribuídas pelo evento e havia sanitários disponíveis para suprir a demanda – inclusive, nas proximidades dos palcos.
Shows
– Noturnall: não assisti à apresentação.
– Angra: pude conferir a segunda parte do show. A banda acertou a mão nos convidados – em especial Dee Snider, vocalista do Twisted Sister, que colocou o público para pular. No geral, o grupo se mostrou muito afiado e tecnicamente impecável. Fabio Lione ainda não me parece ser a melhor opção para os vocais das músicas antigas, mas não a peteca cair e já se mostrou muito competente no álbum “Secret Garden”, um dos melhores do Angra.
– Ministry: o som da banda não me desce, mas é inegável a competência dos envolvidos. O metal industrial do grupo soa muito bem e, no palco, os integrantes são bem performáticos.
– Gojira: acompanhei de longe algumas músicas. O grupo faz um som bem pesado, tem muito groove e se mostrou muito maduro. Vale a pena conferir ao vivo.
– Korn: a banda superou o estigma bobo estipulado por fãs mais tradicionais e colocou todo mundo pra pular no Palco Sunset. O repertório mesclou, com maestria, os hits às músicas mais desconhecidas. E o grupo nunca soou tão pesado.
– Royal Blood: a dupla britânica foi uma surpresa para muitos. Já conhecia a banda, por meio de seu primeiro (e único) álbum, lançado no ano passado. Ao vivo, é ainda melhor: Mike Kerr (baixista e vocalista) é muito técnico e Ben Thatcher (baterista), um poço de carisma. Juntos, têm muita sintonia. A transmissão pela TV não mostra o som do baixo como ele realmente é – soa muito melhor ao vivo. O duo foi, sem dúvidas, um dos grandes destaques da noite.
– Mötley Crüe: um dos melhores shows que já assisti na vida. A banda é enérgica, sabe se portar no palco e tem os caminhos para deixar todo mundo, no mínimo, impressionado: disparos de chamas, iluminação sincronizada, duas backing vocals à frente no palco, destaque para baixo e bateria na mesa de som e, é claro, muitos sons clássicos. O repertório resumiu o que há de melhor na carreira do Crüe, que está de despedida e não vai fazer mais turnês após 2016. Sorte de quem esteve por lá e viu aquela que, provavelmente, será a última apresentação da banda no Brasil.
– Metallica: assisti parte do show mais esperado da noite e entendi, logo de cara, o porquê de tanto alarde. Os caras são bons mesmo. Soam impecáveis ao vivo e não perderam o pique em nenhum momento, mesmo com o problema de som que deixou a apresentação parada por alguns minutos. O único problema, especialmente para quem já viu alguma performance do Metallica anteriormente, é que pouco se mudou nos últimos anos. Mas a promessa do baterista Lars Ulrich, que garantiu o retorno do grupo aos estúdios para gravar um novo disco ainda neste ano, pode dar fim a certo marasmo.