Três lançamentos movimentaram o universo metálico nos últimos dias: “The Book Of Souls”, do Iron Maiden; “Bad Magic”, do Motörhead; e “Meliora”, do Ghost. Os trabalhos agradam de formas e em contextos distintos.
“The Book Of Souls” mostra que o Iron Maiden segue vivo, pulsante e determinado sobre o que quer fazer. Depois de dois álbuns repetitivos e maçantes – “A Matter Of Life And Death” (2006) e “The Final Frontier” (2010) –, a banda trabalhou, praticamente em silêncio, num novo disco que, em um panorama geral, supera as expectativas. Bruce Dickinson gravou o álbum com um câncer na língua e o público só soube da doença quando já estava sendo tratada e quase curada.
Curiosamente, Dickinson é quem apresenta maior desgaste em “The Book Of Souls”. No geral, o cantor soube adaptar sua voz nas músicas, mas em alguns momentos chega a dar agonia por tanto forçar os vocais. Já a banda soa bem e, finalmente, conseguiu fazer algo que estava tentando fazer nos álbuns anteriores: ficar mais sofisticada. Passagens orquestradas e bem construídas a nível instrumental são recorrentes no novo disco, que também se mostrou oxigenado por trazer mais composições de Adrian Smith, Dave Murray, Janick Gers e Bruce Dickinson, ao invés da centralização em Steve Harris.
O único verdadeiro problema de “The Book Of Souls” está em alguns exageros, naturais para quem quer a direção artística almejada pelo Iron Maiden. Algumas faixas são grandes demais. “The Red And The Black”, curiosamente assinada apenas por Harris, é a única das superlongas que não me cansou em seus 13 minutos de duração. As outras (faixa título e “Empire Of The Clouds”) são complicadas. Mas não comprometem tanto assim.
Se o Iron Maiden demonstra apenas uma pontinha de desgaste e ainda consegue surpreender, não dá para dizer o mesmo sobre o Motörhead. O trio nem sempre tem o objetivo de trazer algo realmente novo. O problema é que nem mesmo o feijão-com-arroz está saindo tão bem. Lemmy Kilmister está, claramente, com o freio de mão puxado e a banda o acompanha nesse sentido. “Bad Magic” não traz nenhuma paulada de impacto, nem transborda adrenalina em suas composições. Mas é bom, entretém e apresenta composições no padrão Motörhead – ponto para o repertório, que é consistente.
A única real novidade do álbum é o cover de “Sympathy For The Devil”, original dos Rolling Stones. A versão de Lemmy e sua trupe é razoável e mantém aspectos de fidelidade àquela conhecida por todos. É mais simplista e, diferente do que poderia se imaginar, não é mais veloz ou tão mais pesada.
É triste imaginar que, provavelmente, estaremos noticiando a morte de Lemmy daqui alguns anos ou até meses – provavelmente após algum show, pois o homem vive pela banda. Resta-nos desfrutar enquanto ainda é possível.
Já que os nomes do passado já começam a demonstrar algum tipo de desgaste, novas bandas emergem e se consolidam de vez. Caso do tão criticado Ghost, que parece ter chegado a um resultado bem satisfatório em “Meliora”, terceiro álbum do grupo, que tem influências e apoio de nomes do heavy metal, mas está longe de ser um representante tradicional do gênero.
Finalmente, o Ghost conseguiu soar um pouco mais agressivo, sem perder a coesão que sempre teve por aquela que sempre foi uma das virtudes da banda: o apelo pop inegável em linhas vocais, refrães e algumas passagens instrumentais. A produção valorizou mais os timbres, especialmente da cozinha, e o repertório ajudou muito. Com “Meliora”, o grupo deixa de ser uma novidade excêntrica para se firmar de vez como realidade no cenário.