O Mötley Crüe fará o seu último show nesta quinta-feira, 31 de dezembro de 2015. A trajetória da banda, ao menos em cima dos palcos, se encerra justamente na entrada do seu 35° aniversário.
O desejo dos músicos de embarcar em outros projetos, além das limitações físicas de Mick Mars (apesar de o próprio guitarrista afirmar que ele não é motivo nenhum para tudo isso), justificam o fim do Mötley Crüe, que considero prematuro. O quarteto já mostrou que tem lenha para queimar em “Saints Of Los Angeles”. Por isso, para mim, trata-se muito mais de uma questão de interesse dos integrantes em trabalharem em outras coisas.
Vale destacar, ainda, que as brechas deste fim já existem e foram destacadas pelos integrantes em entrevistas. É possível que a banda divulgue novo material gravado em estúdio ou até faça apresentações especiais. O Mötley só acabou mesmo para turnês.
Retrospectiva
Em quase 35 anos de carreira, o Mötley Crüe lançou nove discos de estúdio, que tiveram mais de 100 milhões de cópias vendidas em todo o mundo. Dezenas de turnês também consolidaram o grupo como uma das maiores forças do rock quando o assunto é show.
O Mötley Crüe teve um auge duradouro ao longo da década de 1980, por vezes baseado em um contraste com a decadência. Viscerais e quase metálicos, os álbuns “Too Fast For Love” e “Shout At The Devil” apresentaram a banda ao mundo, enquanto “Theatre Of Pain” e “Girls, Girls, Girls”, mais baseados no hard rock oitentista, consolidaram o grupo entre os maiores do mundo.
Apesar do auge duradouro, o quarteto chegou ao topo de verdade com “Dr. Feelgood”. O disco consagrou o Mötley em tons definitivos, tanto comercial quanto artisticamente.
A partir da década de 1990, muito vai-e-vem: Vince Neil saiu da banda em 1992 e foi substituído por John Corabi, que gravou o álbum autointitulado, de 1994 – para mim, um dos melhores da discografia. Neil voltou em 1997, ano de lançamento do detestável “Generation Swine”. Dois anos depois, Tommy Lee pulou do barco e, com Randy Castillo em seu lugar, o grupo registrou o bom “New Tattoo”.
Em 2004, a formação original se reuniu e, desde então, não se separou mais. O foco, no entanto, esteve na estrada: foram feitas 16 turnês até então, incluindo a de despedida. Nesse período, apenas um álbum de inéditas foi lançado, o ótimo “Saints Of Los Angeles”, de 2008.
Com uma arrecadação estimada em US$ 25 milhões, a Final Tour começou em julho do ano passado e se estica até o último dia de 2015, quando o Mötley Crüe faz o terceiro show de uma série no Staples Center, de Los Angeles, cidade natal da banda. Ao fim, o grupo terá feito 158 shows dentro dessa turnê, sendo 130 na América do Norte, 16 na Europa, 5 na Ásia, 6 na Oceania e somente um na América do Sul, que aconteceu há três meses, no Rock In Rio.
Futuro
Os quatro integrantes do Mötley Crüe parecem já ter desenhado o futuro. Alguns já trabalham em bandas paralelas de forma mais concreta, como Vince Neil e Nikki Sixx. Outros, como Tommy Lee e Mick Mars, devem dar início a novos projetos já em 2016.
Vince Neil destacou, em entrevista ao Las Vegas Review Journal, que trabalha com a mesma banda solo há 15 anos e tem show marcado já para o dia 10 de janeiro. “Poderei focar o futuro da minha carreira musical, além de meus outros negócios”, afirmou. O cantor tem um restaurante e uma cantina, além de já ter sido dono de um time de futebol americano.
Sempre muito ativo, Nikki Sixx não deve mudar tanto a sua agenda para 2016, em comparação aos anos anteriores. O Sixx:A.M. deve ganhar força, tanto pela aposentadoria do Mötley Crüe, quanto pelo guitarrista DJ Ashba ter saído do Guns N’ Roses. A ideia é lançar um par de álbuns com o grupo em 2016. O baixista também tem um programa de rádio e projetos fora do âmbito musical.
Caso cumpra o que anunciou, Mick Mars deve ser o que mais vai surpreender. Ele afirmou que fará um novo álbum solo, ao lado de John Corabi, ex-vocalista do Mötley Crüe. E não para por aí. “As pessoas me pedem isso há anos, além de uma biografia. Não decidi ainda quem vou querer que escreva comigo, mas farei o livro. Também quero montar uma banda para excursionar. Não será um grupo solo, a Mick Mars Band ou algo do tipo. Terá um nome”, disse, em entrevista à radio canadense 100.3 The Bear, no início de 2014.
Tommy Lee é a incógnita. Ele está envolvido há anos com a Electronic Dance Music (EDM) e lançou material novo com um DJ parceiro em maio deste ano. Nas entrevistas, não deixa claro o que pretende para 2016. “Ainda não revelei nada a ninguém, mas já tenho planos. Estou compondo músicas e deixando guardadas. Vou descansar um pouco, pois ficamos os últimos dois anos na estrada, mas em 2016 todos saberão o que é”, disse, ao ClubHead TV.