Esperava-se que Paul Stanley lançasse, em algum momento, uma carreira solo. No KISS, o músico sempre se deu bem com seu eterno parceiro, Gene Simmons, mas sempre tive a sensação de que nem sempre Stanley fez o que quis, artisticamente falando, em sua banda.
Em sua biografia, “Uma vida sem máscaras”, Paul Stanley deixa claro que, desde que o início do KISS, lida com duas personas. Existe Stanley Harvey Eisen, a pessoa, e Starchild, o personagem. Somado ao fato de que o KISS é uma instituição que precisa oferecer o que os fãs desejam, dá para entender o motivo pelo qual é raro ver Stanley no primor de sua sinceridade artística.
Paul Stanley alçou voo separado dos demais em 1978, ao lado dos demais músicos do KISS, no projeto em que cada um lançou um trabalho solo. Assim como Ace Frehley, Paul Stanley pouco se preocupou em “reinventar a roda” em seu trabalho. Ainda que um pouco envolto pela persona Starchild, mostrou ao público suas influências e o que poderia oferecer “sozinho”. Foi bem recebido.
Desde então, um novo disco solo de Paul Stanley passou a ser especulado ao longo dos anos 1980, visto que ele capitaneava quase sozinho o KISS na época. Ao fim da década, Stanley começou a trabalhar em algumas demo solo e fez uma turnê com músicos contratados, incluindo Bob Kulick, irmão de Bruce Kulick e o ghost musician mais conhecido do KISS, e Eric Singer, que substituiria Eric Carr no projeto principal futuramente.
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Porém, um novo álbum solo de Paul Stanley só saiu mesmo em 24 de outubro de 2006, 10 anos atrás. “Live To Win” mostra um Stanley diferente. Aqui, Paul já é um cinquentão, repleto de referências e experiências diferentes – um pouco diferente do ambicioso Starchild que queria seguir dominando o mundo em 1978.
Musicalmente, “Live To Win” não é nada inventivo. O disco todo é permeado por um pop rock de pegada contemporânea, próximo ao que bandas como Bon Jovi e Nickelback estavam fazendo à época. O diferencial está em dois aspectos: os sensos lírico e melódico de Paul Stanley. O Starchild nunca foi um virtuoso, mas sempre foi um grande compositor e se tornou um cantor muito acima da média com o tempo. São esses os elementos de destaque por aqui.
Na pegada do pop rock contemporâneo, a faixa título abre o disco com uma letra que soa como um relato pessoal da difícil trajetória de Paul Stanley, que sofreu bullying na infância e sofreu com depressão na década de 1980, após desilusões amorosas e rachaduras no KISS. A sonoridade típica da década de 2000 também se faz presente em “Lift”. Destacam-se o refrão melódico e a interpretação de Stanley.
Com direito a algumas batidas sintetizadas, a curta “Wake Up Screaming” mostra Paul Stanley mais disposto a se arriscar em tonalidades agudas. A voz do Starchild já apresenta marcas do tempo, ainda não estava tão deteriorada como nos dias de hoje. Ou seja: uma rouquidão bem-vinda. A bela “Everytime I See You Around” reforça a excelência de Stanley ao fazer baladas. Uma das melhores do disco.
“Bulletproof” aposta em uma pegada mais clássica, com vozes de apoio femininas e riffs destacados. Outro grande momento do álbum. “All About You” segura a peteca com nova interpretação de destaque por parte de Paul Stanley. Há, aqui, um solo de guitarra – algo raro neste disco. Outra boa balada, “Second To None” apresenta bons ganchos melódicos e uma letra que trata de um “amor maduro” – a inspiração parece ser a atual esposa, Erin Sutton, com quem Stanley é casado desde 2005.
“It’s Not Me” retoma a pegada pop rock contemporâneo. As guitarras só aparecem de verdade no refrão e no solo – em outros momentos, apenas colaboram com o ambiente. A açucarada balada “Loving You Without You Now” tem uma melodia que lembra “Second To None” nos versos, mas é mais ousada no refrão. “Where Angels Dare” encerra o play sem muitas surpresas, mas com mais guitarra na mixagem.
O trabalho solo também rendeu uma curta turnê, com músicos contratados, que passou por Estados Unidos e Austrália entre 2006 e 2007. No setlist, várias músicas ignoradas nos repertórios dos shows do KISS foram resgatadas, como “A Million To One” e “Magic Touch”, entre outras. Uma das apresentações, feita em Chicago, rendeu o DVD “One Live Kiss”, lançado em 2008.
Desde então, Paul Stanley nunca mais se aventurou em carreira solo. Atualmente, ele lidera um projeto de covers de soul music, chamado Soul Station, mas os shows são bastante esporádicos.
Uma pena que o Starchild nunca mais tenha alçado voos solo. “Live To Win” é um disco gostoso de se ouvir. É carregado da pessoalidade que Paul Stanley gosta de assumir quando compõe. Exala sinceridade, seja em seus versos ou em suas melodias. Era o que Stanley precisava fazer naquele momento.
Paul Stanley (vocal, guitarra, percussão, arranjos de cordas)
Corky James (guitarra, baixo)
Brad Fernquist (guitarra)
John 5 (guitarra)
Andreas Carlsson (guitarra)
Victor Indrizzo (bateria)
Greg Kurstin (piano)
Zac Rae (piano)
Harry Sommerdahl (teclados, programação)
Tommy Denander (guitarra em 1 e 3)
Bruce Kulick (baixo em 4, 7 e 9)
01. Live to Win
02. Lift
03. Wake up Screaming
04. Everytime I See You Around
05. Bulletproof
06. All About You
07. Second to None
08. It’s Not Me
09. Loving You Without You Now
10. Where Angels Dare