Richie Kotzen sofreu mais no Mr. Big do que no Poison

Em entrevista passada ao Blues Rock Review, Richie Kotzen disse que bandas como Poison e Mr. Big não têm nada a ver com ele. “Musicalmente, não há nenhuma semelhança. Para ser honesto, esses dois grupos não têm nada a ver comigo. Foram boas oportunidades para me tornar conhecido e explorar a composição com outras pessoas”.

Kotzen já criticou abertamente o Poison – também pudera, saiu da banda prematuramente por ter dormido com a noiva de Rikki Rockett (apesar do noivado já ter acabado, de acordo com entrevista do guitarrista ao Rockpages.gr, e que ele sairia da banda de qualquer jeito após a turnê de “Native Tongue”). Em relação ao Mr. Big, já soltou algumas declarações que demonstram descontentamento com tal fase, mas não costuma ser muito específico.

Mas, acredite se quiser: apesar do sensacionalismo envolvendo a passagem de Kotzen pelo Poison, a coisa foi bem pior no Mr. Big. De acordo com o próprio guitarrista, em entrevistas concedidas nos últimos anos, a situação entre os integrantes do grupo virtuoso não era das melhores.

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Kotzen entrou em um cenário que já denotava o comodismo do Mr. Big: ele faria apenas turnês esporádicas com a banda, que desacelerava cada vez mais o ritmo de trabalho. O grupo até se propôs a associar sua agenda com a de Richie, que também trabalhava em discos solo e no projeto Vertú, com Stanley Clarke e Lenny White.

Por um lado, ao menos aparentemente, Kotzen preferiu não repetir o erro de se dedicar “full-time” ao Mr. Big, como fez no Poison. Por outro lado, mostra que o Mr. Big estava realmente perto do fim – o que aconteceu três anos após a entrada do guitarrista na banda. Nesse período, deu tempo do quarteto lançar dois álbuns de inéditas: “Get Over It” e “Actual Size”.

Kotzen define “Get Over It” como uma “demo melhorada”, enquanto “Actual Size” foi realmente um trabalho “de corpo e alma”, para ele. Mas o processo de gravação de “Actual Size” foi um estorvo para o músico.

“Tivemos a ideia de fazê-lo em minha casa, então de repente a banda está toda lá. Não é segredo que muito antes de eu entrar, os músicos já não se gostavam. Ao trabalharmos no álbum, não me dei conta que além de fazê-los funcionar nessas gravações, eu teria que ficar paranoico pensando ‘por que diabos eles não se gostam?’ dentro de minha casa. Foi muito ruim”, disse, em entrevista ao Examiner.

Richie ficou mordido com declarações de Billy Sheehan e principalmente Eric Martin, feitas poucos anos depois do fim do Mr. Big, em que afirmam que as gravações de “Actual Size” foram terríveis. “Se qualquer um deles está falando que foi terrível fazer o álbum, eles não têm ideia de como foi péssimo ter que lidar com essa psicologia dentro da minha casa”, afirmou Kotzen, que afirma gostar bastante de “Actual Size”, apesar dos pesares.

A relação dos músicos com o palco também não deixava Kotzen muito feliz. Segundo o guitarrista, Eric Martin simplesmente se recusava a cantar “Wake Up” ao vivo. O motivo é nebuloso, mas curiosamente é uma faixa que não contém Martin entre os coautores: foi feita por Kotzen e Richie Zito.

É interessante observar, também, que o clima ruim no Mr. Big se refletiu também na autoria das canções, completamente segregada. Os integrantes trabalharam na maioria das músicas de forma separada, com parceiros de fora.

Apenas duas faixas de “Actual Size” reúnem mais de um membro na criação: “I Don’t Want to Be Happy” (Eric Martin, Richie Zito, Richie Kotzen e André Pessis) e “How Did I Give Myself Away” (Eric Martin, Billy Sheehan Richie Kotzen e André Pessis). Vale destacar que “Shine”, de Kotzen com Zito, é o maior sucesso do álbum e um dos maiores da carreira do grupo.

No Poison, Kotzen “deu liga” com Bret Michaels, apesar da simplicidade da criação ter incomodado o guitarrista. É fato que as composições da dupla, a real responsável por “Native Tongue” (em especial Richie, mas Bret foi, no ponto criativo, aquele que deu o toque Poison às músicas), se encaixaram. Imagino que o guitarrista se orgulhe do produto final, mesmo com algumas críticas, porque disse inúmeras vezes que é o principal autor do disco.

Ressalto ainda que, curiosamente, “How Did I Give Myself Away” é a única faixa de “Actual Size” com colaboração de Billy Sheehan. O baixista, inclusive, estava para sair da banda após o lançamento do álbum.

Em entrevista concedida à Cover Guitarra, Billy afirma que o Mr. Big chegou a oferecer uma turnê com um baixista substituto (o nome não foi revelado) para promotores japoneses, que prontamente recusaram. O músico só aceitou retornar se aquela fosse a última tour da banda. Dito e feito: o grupo acabou em 2002 – e voltou em 2009, mas concilia agenda com o The Winery Dogs.

A situação insustentável do Mr. Big não deixou apenas Richie Kotzen de saco cheio. Um dos motivos para Paul Gilbert, guitarrista antecessor, sair da banda foi justamente o problema entre os músicos, em especial entre Eric Martin e Billy Sheehan. Diferenças que, aparentemente, eram criativas – muito diferente dos problemas “banais” entre Kotzen e Rikki Rockett.

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Igor Miranda
Igor Miranda
Igor Miranda é jornalista formado pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), com pós-graduação em Jornalismo Digital. Escreve sobre música desde 2007. Além de editar este site, é colaborador da Rolling Stone Brasil. Trabalhou para veículos como Whiplash.Net, portal Cifras, revista Guitarload, jornal Correio de Uberlândia, entre outros. Instagram, Twitter e Facebook: @igormirandasite.

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