O fim de semana foi movimentado para os fãs de Megadeth. A banda não fez nenhum show importante, nem lançou nada de novo – foram os rumores da saída do guitarrista Kiko Loureiro, para um suposto retorno de Marty Friedman ao grupo, que fizeram os últimos dias serem agitados.
Dave Mustaine esclareceu, posteriormente, que Kiko Loureiro não está fora do Megadeth. Entretanto, a situação fez com que debates da seguinte temática aflorassem na internet: e se Marty Friedman realmente voltasse à banda?
Desde o início, a suposta saída de Kiko Loureiro, para um ainda mais suposto retorno de Marty Friedman, foi noticiado como um mero rumor, com base em informações divulgadas pela página do fã-clube Rust In Page no Facebook. Além do que foi reportado por eles e replicado no Whiplash, um administrador da fanpage chegou a publicar, nos comentários de uma das postagens, que tinha conhecimento de desentendimentos entre Kiko Loureiro e Dave Mustaine. Não sabemos se procede – nem mesmo o pessoal da página falou mais sobre o assunto.
Tenho minhas dúvidas se realmente rolaram desentendimentos. Entrevistei Kiko Loureiro em duas ocasiões e, na mais recente, quando recém-entrou ao Megadeth, mostrou-se muito compreensivo com relação à sua posição no grupo. Ele entende que Dave Mustaine não é só o chefe: é o cara que tem experiência e talento o bastante para direcionar a banda que concebeu. Dessa forma, não imagino um ambiente de contestação por ali.
Não é o momento de saídas
Fato é que não imagino Kiko Loureiro deixando o Megadeth agora. Nem por vontade própria, nem por desejo de Dave Mustaine. E o motivo é simples: a parceria deu certo em diversos sentidos.
Criativamente, a atual formação deu liga a ponto de Kiko Loureiro ser co-autor de três músicas de “Dystopia”, ao lado de Dave Mustaine: “Post American World”, “Poisonous Shadows” e “Conquer Or Die!” – a última, uma faixa instrumental (algo raro na discografia do Megadeth) com solos do menino Kiko. A última vez que um músico além de Mustaine foi creditado por colaborar em mais de duas canções em um disco do Megadeth foi em “Risk”, quando Marty Friedman participou na concepção melódica de sete faixas.
Comercialmente, o momento do Megadeth também é bom. “Dystopia” obteve o 3° lugar das paradas dos Estados Unidos, principal mercado fonográfico mundial, na sua primeira semana de lançamento. Foi a posição mais alta desde “Countdown To Extinction” (1992), que estreou na 2ª posição.
Vale destacar, ainda, que, em 10 meses, “Dystopia” vendeu 137 mil cópias também nos Estados Unidos. É o melhor resultado desde “United Abominations” (2007), que, em três meses, teve 122 mil discos comercializados na terra do Tio Sam.
Nas paradas do Reino Unido, “Dystopia” atingiu a 11ª colocação – a melhor desde a 6ª de “Youthanasia” (1994). As posições obtidas nos charts australianos e canadenses, bem como de outros países da Europa, também foram expressivas.
Seria burrice dar fim ao bom momento vivenciado atualmente pelo Megadeth. “Dystopia” é um bom disco, foi bem recebido pelo público e a tendência é que o grupo se mantenha em alta caso siga trabalhando bem.
Até mesmo para Kiko Loureiro, individualmente, não faz sentido dar fim à sua passagem pelo Megadeth. Ele sabe, desde o início, que Dave Mustaine é quem manda. Por mais que o departamento de RH da banda seja duramente criticado, Mustaine tem se mostrado cada vez mais brando – e até, aparentemente, fácil de se lidar – em entrevistas recentes. Está muito diferente do porra-louca que, na década de 1980, dispensava músicos a rodo.
Nunca diga nunca
Apesar de tudo isso, acredito que ainda chegará o momento de Marty Friedman voltar. Não vejo Kiko Loureiro como um integrante de longa data do Megadeth. Queira ou não, sua entrada para a banda é, mercadologicamente, estratégica: o Angra nunca foi muito conhecido nos Estados Unidos, onde Kiko reside há alguns anos, nem em escala mundial nas mesmas proporções da banda de Dave Mustaine.
Passar algum tempo com o Megadeth é algo positivo para que Kiko Loureiro se promova enquanto artista. Sabe-se, porém, que o menino Kiko tem potencial para ir além disso. Em função disso, não o enxergo no Megadeth daqui, por exemplo, dez anos. Por outro lado, vejo a banda ativa daqui uma década – se o destino, é claro, permitir.
A volta de Marty Friedman também já foi ensaiada algumas vezes, bem como a do falecido Nick Menza. A mais recente, em 2014, não rolou por questões pontualmente financeiras, segundo informações divulgadas de forma extraoficial. Enquanto Friedman diz, em entrevistas, que, artisticamente, não há mais o que fazer com o Megadeth, é importante destacar que o fator determinante para o seu não-retorno foi, como de costume, grana.
A situação mostra, por outro lado, que Dave Mustaine não tem rancor ou reticência em falar sobre Marty Friedman – diferente de outros momentos, especialmente lá para os idos de 2004, quando ele não perdoava, nem mesmo, o eterno braço-direito David Ellefson. O assunto parece ser rediscutido de tempos em tempos e, em algum momento, pode dar certo.
Arrisco-me a dizer que, dentro de alguns anos, Marty Friedman pode voltar ao Megadeth. Seja para uma ocasião comemorativa, ainda com Kiko Loureiro na banda, ou para assumir o posto de guitarrista. Posso (e espero) estar incrivelmente enganado – Kiko faz bem ao grupo de Dave Mustaine.
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