“Blue & Lonesome”, disco dos Rolling Stones com releituras de clássicos do blues, reforçou a conexão que a banda tem com o tradicional gênero musical. Entretanto, não foi a primeira experiência de um dos integrantes do grupo com um projeto do tipo.
Em 1992, Mick Jagger trabalhou em um disco de releituras de clássicos do blues. Na época, ele contou com a colaboração do produtor Rick Rubin para tirar o projeto do papel.
A ideia
Mick Jagger pensava em gravar um álbum do tipo desde agosto de 1990, com o fim da turnê que divulgava o álbum “Steel Wheels” (1989). Entretanto, ele já trabalhava, também com Rick Rubin, em um full-length com com músicas autorais, que viria a ser “Wandering Spirit” (1993).
O frontman dos Stones deu uma pausa nas gravações de “Wandering Spirit” e retomou o projeto de blues que havia pensado. Rick Rubin, por sua vez, recomendou a contratação da banda Red Devils (foto abaixo), de Los Angeles, para acompanhar Jagger no projeto.
Antes, era necessário um teste de fogo: em maio de 1992, Mick Jagger foi a um show dos Red Devils e cantou alguns standards do blues, como “Who Do You Love?” (Bo Diddley) e “Blues With A Feeling” (Little Walter). Deu certo: com a química que rolou durante o show, Jagger se empolgou e começou a projetar o novo disco com releituras de canções blues.
Gravações
Em junho de 1992, Mick Jagger, Rick Rubin e os Red Devils começaram a trabalhar, juntos, no estúdio Ocean Way Recording, em Hollywood.
O processo de gravação foi bastante simples: Jagger pegou alguns discos de blues, tocou suas músicas favoritas apenas uma vez e pediu para que os instrumentistas fizessem uma jam a partir do que haviam escutado. A ideia era que tudo soasse espontâneo, sem ensaios.
O resultado foi uma maratona de 13 horas de gravação, regada a muito blues, que renderam mais de 12 músicas. A maior parte das canções foi gravada em takes iniciais. Nada sofisticado, assim como “Blue & Lonesome”, registrado todo ao vivo.
Material engavetado
Apesar de ter agradado, Mick Jagger nunca lançou o material gravado com os Red Devils. E não há, nem mesmo, uma justificativa aparente, visto que o material é de boa qualidade: os Devils tocam muito bem e Jagger interpreta o cancioneiro bluesy de forma legítima.
Curiosamente, Mick Jagger voltou a trabalhar em “Wandering Spirit” logo após a aventura blues. Em termos comerciais, foi a melhor aposta que Jagger poderia ter feito: o disco vendeu bem e chegou ao top 15 das paradas dos Estados Unidos e Reino Unido. Nada nas proporções dos Rolling Stones, mas um bom resultado para quem tem uma tímida discografia solo.
A única canção de tais sessões que chegou à luz do dia no catálogo de Jagger foi a versão para “Checkin’ Up On My Baby” (Sonny Boy Williamson II). A faixa está presente na coletânea “The Very Best Of Mick Jagger” (2007).
Por outro lado, há anos, as gravações têm sido distribuídas por meios não-oficiais, em formato de bootleg. Hoje em dia, evidentemente, a versão completa está presente no YouTube.
Ouça:
Mick Jagger & The Red Devils – Studio Blues Sessions (1992)
Mick Jagger (vocal)
Lester Butler (gaita)
Paul Size (guitarra)
Jonny Ray Bartel (baixo)
Bill Bateman (bateria)
1) Blues With A Feeling (Little Walter)
2) I Got My Eyes On You (Buddy Guy)
3) Still A Fool (Muddy Waters)
4) Checkin’ Up On My Baby (Sonny Boy Williamson II)
5) One Way Out (Sonny Boy Williamson II)
6) Talk To Me Baby (Elmore James)
7) Evil (Howlin’ Wolf)
8) That Ain’t Your Business (Slim Harpo)
9) Shake ‘m On Down (Bukka White)
10) Somebody Loves Me (George White’s Scandals)
11) Dream Girl Blues (J. D. Miller & Slim Harpo)
12) 40 Days, 40 Nights (B. Roth)
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