Há quem reconheça a qualidade dos trabalhos de Blaze Bayley com o Iron Maiden. O cantor gravou dois álbuns com a banda: “The X Factor” (1995) e “Virtual XI” (1998). Todavia, é consenso que o trabalho do grupo atingiu o seu nível máximo com Bruce Dickinson, a quem Bayley substituiu em 1994 – e que acabou voltando em 1999.
Blaze Bayley jura, de pés juntos, que poderia ter agradado mais fãs de Iron Maiden caso tivesse gravado um terceiro disco com a banda. Cabe, então, o exercício de imaginação: e se Bayley tivesse durado o suficiente para registrar mais um álbum após “Virtual XI”?
Em recente entrevista ao EonMusic, Blaze Bayley falou que músicas feitas para o sucessor do “Virtual XI”, projetado com ele nos vocais, foram parar no disco “Brave New World”. O álbum, de 2000, marcou o retorno de Bruce Dickinson ao posto de cantor, além da volta do guitarrista Adrian Smith.
“Não lembro de todas, mas ‘Dream Of Mirrors’ é uma das músicas (feitas quando ele ainda estava na banda). Steve (Harris, baixista) gostou muito daquelas canções que fizemos, assim como eu. Ele disse: ‘eu realmente gostaria de manter essas canções’. Eu não tinha planos naquela época, mas tive ideias durante a turnê e que acabaram em ‘Silicon Messiah’, meu disco solo”, afirmou.
Em estrutura musical, “Virtual XI” e “Brave New World” não são tão diferentes assim. Os experimentos progressivos de “The X Factor” haviam se encorpado no seu sucessor, apesar de carecer em inspiração. Atribui-se isto, especialmente, a Steve Harris, principal compositor do grupo nos álbuns da fase Blaze. Ele não acertou a mão na parte criativa e nem teve grande ajuda de seus demais colegas neste quesito.
É notável que Blaze Bayley, consequentemente, acabaria aprendendo a agradar os fãs de Iron Maiden – na medida do possível. Por mais que ele tenha integrado o bom Wolfsbane anteriormente, a cobrança e a pressão são extremamente diferentes. E, definitivamente, não é fácil substituir um nome como Bruce Dickinson. Em um terceiro disco, Bayley acabaria se mostrando melhor, devido à experiência obtida em uma grande banda.
Como Blaze Bayley disse, outras ideias que ele queria gravar no sucessor de “Virtual XI” acabaram parando, também, em “Silicon Messiah” (2000), disco solo do cantor. É, em minha opinião, um trabalho mais consistente que os feitos com o Maiden.
Parte do fracasso da passagem de Blaze Bayley pelo Iron Maiden também tem ligação com o próprio time de instrumentistas, que ainda aprendia a melhor forma de trabalhar com nuances e estruturas mais progressivas. A “culpa” não é só de Blaze. Inegavelmente, ele não encaixou bem no Maiden, mas não deve ser o único a ser criticado pelo produto final deste período.
Ao unir os momentos mais progressivos de “Brave New World” e “Silicon Messiah”, dá para se notar que um bom disco poderia ter sido feito com Blaze Bayley. E, agora, é o momento de concluir o exercício de imaginação: o suposto terceiro disco da era Blaze não seria melhor que o trabalho feito com o retorno de Bruce Dickinson, todavia, amenizaria um pouco a imagem de “fiasco” que atribuiu-se à passagem de Bayley pelo grupo. E o registro em questão, muito provavelmente, seria melhor que “The X Factor” e “Virtual XI”, trabalhos de transição.
Apesar de tudo, Blaze Bayley demonstrou entender, ainda em entrevista ao EonMusic, o motivo de sua saída, em 1999, para o retorno de Bruce Dickinson. “Era algo ligado aos negócios. Acho que a EMI (gravadora) botou muita pressão na banda. Todos estavam em reuniões e fazia sentido a volta de Bruce, assim como Rob Halford retornou ao Judas Priest. Não foi agradável para mim, mas funcionou. E disse à época que, mesmo fora, o Iron Maiden era necessário para a indústria musical. Desejo muita sorte e enorme sucesso a eles, pois eles merecem. O sacrifício pessoal que cada integrante fez pelo grupo é incrível”, afirmou.