(Foto: Satellite June / divulgação) |
A Holanda não é, exatamente, um local que apresenta grandes bandas de rock para o mundo. Entretanto, o DeWolff está começando a mudar a regra do jogo para o país. Com seis discos na bagagem, o trio formado pelos irmãos Pablo (vocal) e Luka van de Poel (bateria) e pelo organista Robin Piso tem conquistado cada vez mais destaque com seu hard rock de tom setentista, que bebe das fontes da psicodelia, do southern rock e, ocasionalmente, até do blues.
O disco mais recente do DeWolff é “Thrust” e foi lançado neste ano pela Mascot Records. Conscientes de que estão cada vez maiores, os músicos resolveram apostar, nesta vez, em uma sonoridade mais estruturada, com menos canções oriundas de jams. Os primeiros segundos do disco, com a introdução de “Big Talk”, chegam a soar como uma banda de AOR – obviamente, tudo volta ao normal pouco tempo depois, mas isso já reflete a mudança. O resultado é um disco que preserva o som empoeirado e deliciosamente retrô de outrora, mas com faixas ainda mais consistentes e, em alguns casos, de potencial até radiofônico.
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O novo momento do DeWolff foi pautado em entrevista exclusiva com Robin Piso, que revelou que o processo de composição de “Thrust” foi um pouco diferente dessa vez – por isso, há músicas mais estruturadas do que resultantes de jams. “Acho que ‘Thrust’ ainda tem o som do DeWolff, mas quando começamos, estávamos curtindo mais The Doors, Pink Floyd e coisas psicodélicas. Isso foi mudando com o tempo. Passamos a gostar mais de stoner rock, country, funk, e as músicas são mais compostas a partir de uma melodia vocal ou letra. Isso mudou a nossa forma de compor. Geralmente, começávamos com improvisos e aí aparecia o riff, que seria o elemento central da música. Agora, fizemos improvisos para buscar melodias vocais e não riffs”, afirmou.
Conforme destacou Piso, a mudança no processo de composição foi natural. “A gente não senta e pensa: ‘devemos fazer um disco de reggae?’ (risos). Quando se ouve música tanto quanto nós ouvimos e descobre coisas diferentes, a inspiração naturalmente chega às suas composições. Tivemos um ano de 2016 muito pesado de turnê, com 170 shows, então não tivemos tempo de compor em estúdio. No começo de 2017, combinamos de fazer o novo disco e estávamos apreensivos, porque, geralmente, temos ideias feitas durante a turnê, mas dessa vez fizemos tantos shows que não chegamos com nada. Começamos a tocar e tudo fluiu, acho que conseguimos boas músicas dentro de três semanas”, disse.
Nem tudo em “Thrust”, porém, foi feito a seis mãos. A balada “Outta Step & Ill At Ease”, que fecha o disco, foi composta na íntegra por Pablo van de Poel. “Estávamos em turnê por muito tempo, sempre indo para a cama, Luca estava em outro lugar, então, Pablo realmente se sentia sozinho em seu quarto de hotel. Daí, ele escreveu aquela música naquele momento, como algo pessoal. Às vezes é tudo tão pessoal para ele, tanto que ele faz algumas letras sozinho, mas o restante é mais geral, como ‘Tragedy? Not Today’, que é sobre um cara muito azarado. Nós três a fizemos”, disse Robin Piso.
Outro elemento preservado dos trabalhos anteriores para “Thrust” é o processo de gravação em si: analógico e ao vivo, com todos os integrantes tocando juntos. “Temos nosso próprio estúdio e fazemos de forma completamente analógica. Gravamos em fita e isso gera um tipo de som. No entanto, acho que muitas pessoas pensam que soa retrô porque é uma banda de verdade tocando, o que é meio triste, porque, em muito da música moderna, não é uma banda tocando: há muita produção, camadas extras, especialmente na música eletrônica. Quando você ouve o disco, você não pensa: ‘oh, eles foram para o estúdio, montaram o equipamento e começaram a tocar’. As pessoas acham que nosso som é retrô, mas penso que seja apenas o som de uma banda tocando. Não estão mais acostumados com isso. Claro que há bandas gravando discos, mas fazem de maneira limpa e com cada um tocando seu instrumento separadamente”, afirmou.
Os singles e suas mensagens de tom político
Três faixas podem resumir o que “Thrust” pode apresentar ao público. E são justamente os singles: “Deceit & Woo”, “Big Talk” e “California Burning”. As duas primeiras foram feitas com base no momento político que o mundo vive atualmente – “Deceit & Woo”, por exemplo, foi composta após Donald Trump ter sido eleito presidente dos Estados Unidos. “Pensamos: ‘é tão louco que um cara assim pode ser uma das pessoas mais poderosas do mundo’. Conversamos sobre isso e começamos a compor, então, fizemos ‘Deceit & Woo’ . Como iria demorar para lançar o disco, lançamos a demo online, porque era relevante para a época. ‘Big Talk’ também tem uma visão política e isso também é diferente dos discos anteriores, porque as letras eram sobre coisas mais simples. Dessa vez, compomos juntos e definimos sobre o que cada música falaria”, afirmou.
Para Robin Piso, pautar algo que acontece na política dos Estados Unidos em uma composição não é tão distante do que está acontecendo na Holanda atualmente. “Agora, todos nós podemos nos relacionar com essas músicas e há muita coisa acontecendo na política agora. É tão louco que Trump esteja no comando, há algo parecido na Holanda com um cara de extrema-direita, Geert Wilders e sua ‘big mouth’ (‘boca grande’) a qual muitas pessoas podem apelar. Ele diz coisas como: ‘eles (imigrantes) vêm e roubam nossos empregos’. Conheço muitas pessoas que pensam que isso é verdade porque ele fala alto, mas não há base em cima disso. É disso que ‘Big Talk’ fala. É um problema na Holanda e acho que com Trump é o mesmo: ele diz coisas em alto e bom som, mas geralmente está mentindo”, afirmou.
A mania de comparação
Ao ouvir uma banda nova, é comum que os ouvintes tentem fazer comparações com outros artistas ou, mesmo, tentem rotular em determinado estilo. Para um grupo como o DeWolff, que agrega influências tão distintas, isso pode ser um problema. Robin Piso revelou que muitas pessoas associam o som do trio ao de nomes como Deep Purple e The Doors – muitas vezes, apenas pela presença de órgão Hammond.
“Não sou grande fã do Van Halen, mas há algo muito legal na música ‘Runnin’ With The Devil’. Só ouvimos música, não bandas, e daí surge muita inspiração. Muitas pessoas querem nos comparar, dizendo: ‘vocês soam exatamente como Deep Purple’. Encaro isso como um elogio, fico feliz de lembrarmos outra banda que você ache legal, mas também penso: ‘não há uma música sequer que seja igual ao Deep Purple ou Led Zeppelin’. As pessoas também nos comparam com The Doors, mas eles sequer usam órgão Hammond na banda. Muitas pessoas querem comparar e eu também faço isso quando descubro uma banda nova e preciso contar aos meus amigos sobre isso. É uma maneira fácil de se divulgar música, mas nós não estamos apostando em renascimento dos anos 1960 ou 1970, é uma coisa nova”, afirmou ele, que destacou influências de nomes atuais no som do DeWolff, como The Black Keys, Alabama Shakes e até Jack White.
Foco: dominação mundial
Com “Thrust” lançado – inclusive nos Estados Unidos, diferente de outros registros –, o DeWolff está focado em excursionar e até tentar passar por locais onde ainda não tocou, como as Américas. “Nosso foco principal é a dominação mundial (risos). Vamos espalhar nossa música pelo mundo. Adoraria tocar no Brasil também. Vejo as estatísticas do Spotify e percebo que temos muitos ouvintes em São Paulo. Acho que já temos alguns fãs no Brasil e as pessoas gostariam de nós, então, vamos tentar ir em alguma ocasião. Apenas vamos fazer tudo funcionar, tocando e excursionando. Com sorte, vamos ficar maiores e, talvez, dividir o palco com os Rolling Stones algum dia – temos que ser rápidos, porque não sei se eles têm muito tempo ainda, eles estão mais velhos, mas ainda são incríveis”, disse.