Da rixa com Van Halen ao jazz, como era tocar com David Lee Roth

Ao deixar sua banda original, vocalista montou supergrupo com Steve Vai na guitarra, Billy Sheehan no baixo e Gregg Bissonette na bateria

Em meio à pujante formação da banda solo do vocalista David Lee Roth, que trazia os virtuosos Steve Vai na guitarra e Billy Sheehan no baixo, havia um baterista que garantia a consistência de tudo aquilo. Trata-se de Gregg Bissonette, que fez parte do grupo de 1985 até 1992 – pegando, inclusive, a segunda formação, sucedendo as saídas de Vai e Sheehan em 1988.

Bissonette concedeu uma entrevista à ‘Rolling Stone‘ e falou, com detalhes, sobre sua passagem pela banda de David Lee Roth. O músico gravou os três primeiros álbuns do cantor, ‘Eat ‘Em and Smile’ (1986), ‘Skyscraper’ (1988) e ‘A Little Ain’t Enough’ (1991), além de se apresentar nas turnês de divulgação.

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Antes de se juntar a DLR, o baterista tocou com Gino Vannelli e Maynard Ferguson, mas o então ex-vocalista do Van Halen foi o responsável por fazer sua carreira na música decolar. E nem era para ele ter se juntado ao grupo, pois havia feito teste para outro projeto.

Ele conta:

“Eu estava fazendo audição para Vinnie Vincent, do Kiss. Ele estava começando o Vinnie Vincent Invasion. Fui com Myron Grombacher, da banda de Pat Benatar. Mas Vinnie já havia escolhido um baterista: era um cara do Texas, chamado Bobby Rock. Mesmo assim, ele não quis ser indeilcado e acabou fazendo o teste conosco. Quando acabou, ele disse que curtiu e que eu seria ótimo para tocar com Dave Roth. Perguntei se não era o cara do Van Halen e ele disse que não, pois havia saído e estava procurando por um baterista. E falou: ‘ligue para Steve Vai'”.

O baterista ligou, marcou a audição com Steve Vai e Billy Sheehan. Deu certo. Só faltava tocar com David Lee Roth e o produtor, Ted Templeman. Foi aprovado. Estava na hora de gravar o primeiro álbum solo de Diamond Dave, ‘Eat ‘Em And Smile’.

“Entramos no carro de Dave, fomos comprar comida mexicana e ele mostrou ‘That’s Life’, de Frank Sinatra. Ele falou: ‘você tocou com Maynard Ferguson, certamente consegue tocar isso’. É bem eclético. Gravamos ‘That’s Life’ com uma seção completa de sopro, assim como ‘I’m Easy’. Daí tem músicas como ‘Shyboy’, ‘Yankee Rose’ e ‘Goin’ Crazy’, que são mais hard rock. Foi divertido. Ensaiamos muito e sabíamos o que fazer, não foi tipo: ‘vamos lá trabalhar na música’. Sabíamos as partes.”

A primeira turnê reforçou essa química entre os músicos. No repertório, faixas do primeiro álbum e covers se mesclavam com versões de clássicos do Van Halen, como ‘Jump’, ‘Everybody Wants Some’, ‘Unchained’, ‘Panama’ e ‘Ain’t Talkin’ ‘Bout Love’ – nesta última, David Lee Roth seguia do palco até uma espécie de ringue de boxe, passando por todo o público.

Rixa com Van Halen?

O próprio título de ‘Eat ‘Em And Smile’ (“coma-os e sorria”) era visto como uma provocação de David Lee Roth contra o Van Halen – não à toa, a banda, já com Sammy Hagar nos vocais, lançou como resposta o álbum ‘OU812’, uma espécie de sigla para “oh, you ate one too?” (“oh, você comeu um também?”).

Greg Bissonette, pessoalmente, não tinha essa rixa e declara ser grande fã de Van Halen. “Amo jazz e rock. Quando ‘Hot For Teacher’ saiu, vi (o baterista) Alex Van Halen dizer que era um grande fã de Billy Cobham, e eu também sou fã. Músicas como ‘The Bottom Lin’ também trazem aquele padrão de bumbo duplo. Não tinha nada de competição para mim, eu adorava a banda”, afirmou.

Skyscraper e declínio

Foto: Warner Bros / divulgação

É de comum acordo entre os fãs de David Lee Roth que o segundo álbum solo dele, ‘Skyscraper’, não é tão bom quanto o antecessor. O motivo principal para essa diferença, de acordo com Greg Bissonette, está na produção: Ted Templeman não trabalhou no álbum.

“Dave e Steve fizeram a função. […] Brett Tuggle (tecladista) havia acabado de entrar. ‘Just Like Paradise’ foi o primeiro single e foi bem legal, pois tinha aquela coisa dos teclados de ‘Jump’. Era diferente, pois estávamos trabalhando em novos sons junto de Brett. Isso era muito legal: sempre trabalhamos juntos. Todos traziam ideias e ia do R&B ao rock, além de música latina, swing…”

Durante a turnê de ‘Skyscraper’, Billy Sheehan saiu da banda de David Lee Roth e acabou montando o Mr. Big. Foi substituído por Matt Bissonette, irmão de Greg. Após o fim da tour, foi a vez de Steve Vai, que logo se juntaria ao Whitesnake. O baterista não sabe o porquê das baixas.

A vaga de Vai foi ocupada por Jason Becker – guitarrista jovem e extremamente talentoso, mas que começaria, em breve, a ser acometido por uma doença generativa chamada esclerose lateral amiotrófica (ELA).

“Ele tinha apenas 19. Hoje, ele ainda está vivo e segue adiante. Só mexe o olho, mas consegue criar música desse jeito. Ele se comunica por um sistema letra a letra e o pai decifra. É incrível, penso em Jason todos os dias.”

David Lee Roth e Jason Becker (Foto: divulgação)

Deu tempo, pelo menos, de Jason Becker gravar ‘A Little Ain’t Enough’, mas ele já não conseguia mais fazer turnês. Joe Holmes ocupou a vaga.

“É um grande guitarrista. Ele curtia mais os sons do primeiro álbum do Van Halen, das antigas. Tinha aquele som. Eu ajudei a achá-lo. Na época dessa turnê, o Extreme fazia a abertura e era uma grande banda, muito boa. Lembro de tocarmos m eventos como o festival Monsters of Rock na Europa, para 107 mil pessoas. Esse garoto de Detroit que eu era nem acreditava. Ganhava a vida para fazer algo que eu faria por hobby.”

https://www.youtube.com/watch?v=zYi1S6J7moY

Durante a entrevista, Greg Bissonette não conta por que deixou a banda de David Lee Roth, já em 1992. Sabe-se, porém, que a carreira do vocalista entrou em crise e para economizar, passou a usar músicos contratados e menos conhecidos, que trabalhavam por demanda e, consequentemente, cobravam mais barato.

Além da carreira solo de DLR, Bissonette tocou com nomes do porte de Toto, Ray Charles, Ringo Starr, Joe Satriani, Santana, Men at Work, Electric Light Orchestra e Spinal Tap, bem como diversos trabalhos em estúdio que vão de Pat Boone e Robert Downey Jr à trilha sonora da série ‘Friends’. A lista é imensa.

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Igor Miranda
Igor Miranda
Igor Miranda é jornalista formado pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), com pós-graduação em Jornalismo Digital. Escreve sobre música desde 2007. Além de editar este site, é colaborador da Rolling Stone Brasil. Trabalhou para veículos como Whiplash.Net, portal Cifras, revista Guitarload, jornal Correio de Uberlândia, entre outros. Instagram, Twitter e Facebook: @igormirandasite.

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