O Spotify tem causado polêmica com uma nova patente registrada nos Estados Unidos. A plataforma de streaming obteve a licença oficial para utilizar um recurso que permitiria que o aplicativo ouça e grave conversas, usando tais informações para sugerir músicas e podcasts.
Uma carta assinada por vários músicos, incluindo o guitarrista Tom Morello (Rage Against the Machine) e a vocalista Laura Jane Grace (Against Me!), pede que a empresa não faça uso da ferramenta, que violaria princípios básicos de privacidade.
A tecnologia foi criada e registrada pelo Spotify em 2018. Somente agora, em janeiro de 2021, a empresa recebeu o aval do Escritório de Patentes e Marcas dos Estados Unidos (USPTO) para usá-la.
Com isso, mais de 100 artistas, além de organizações e pesquisadores, redigiram um documento endereçado a Daniel Ek, fundador e CEO do Spotify, pedindo para que a tecnologia não seja utilizada. Eles solicitaram, ainda, um posicionamento do serviço de streaming até o dia 18 de maio.
A carta traz como argumentos a ameaça a segurança de dados, violação de privacidade, manipulação emocional do público, discriminação e até mesmo a potencialidade de a ferramenta “exacerbar a desigualdade na indústria musical”.
O posicionamento do Spotify
Através de seu responsável por assuntos legais a nível global, Horacio Gutierrez, o Spotify declarou não ter intenção de usar a ferramenta descrita na patente. Os autores da carta pedem uma garantia disso por parte do serviço de streaming.
A carta completa
“Caro Sr. Ek,
Escrevemos para você como um grupo de músicos e organizações de direitos humanos em todo o mundo que está profundamente preocupado com a patente de reconhecimento de voz recentemente aprovada do Spotify.
O Spotify afirma que a tecnologia pode detectar, entre outras coisas, “estado emocional, gênero, idade ou sotaque” para recomendar música. Essa tecnologia é perigosa, uma violação da privacidade e de outros direitos humanos e não deve ser implementada pelo Spotify ou qualquer outra empresa.
Nossas principais preocupações com a tecnologia são:
Manipulação de emoções: monitorar o estado emocional e fazer recomendações com base nisso coloca a entidade que implanta a tecnologia em uma perigosa posição de poder em relação a um usuário.
Discriminação: É impossível inferir gênero sem discriminar pessoas trans e não binárias e outras que não se enquadram nos estereótipos de gênero. Também é impossível inferir o gosto musical de alguém com base no sotaque, sem assumir que há uma maneira “normal” de falar ou cair em estereótipos racistas.
Violações de privacidade: O dispositivo estaria gravando tudo – monitorando, processando dados de voz e provavelmente ingerindo informações privadas. Também coletaria ‘metadados ambientais’, que poderiam informar ao Spotify que outras pessoas (que podem não saber que o Spotify está ouvindo) estão na sala e podem ser usados para fazer inferências discriminatórias sobre elas.
Segurança de dados: a coleta de dados pessoais profundos pode tornar qualquer entidade que implemente a tecnologia um alvo para autoridades governamentais e hackers mal-intencionados.
Exacerbar a desigualdade na indústria musical: O uso de inteligência artificial e vigilância para recomendar música servirá apenas para exacerbar as disparidades existentes na indústria musical. A música deve ser feita para conexão humana, não para agradar a um algoritmo de maximização de lucros.
Como você sabe, em 2 de abril de 2021, a Access Now enviou uma carta ao Spotify sugerindo que a empresa abandone a tecnologia da patente, por apresentar graves problemas de privacidade e segurança. Em 15 de abril de 2021, o Spotify respondeu à carta da Access Now, afirmando que a empresa ‘nunca implementou a tecnologia descrita na patente em nenhum de nossos produtos e não temos planos de fazê-lo’.
Embora estejamos satisfeitos em saber que o Spotify não tem planos atuais para implantar a tecnologia, isso levanta a questão: por que você está explorando seu uso? Convocamos sua empresa a assumir publicamente o compromisso de nunca usar, licenciar, vender ou monetizar a tecnologia de recomendação. Mesmo que o Spotify não o use, sua empresa pode lucrar com a ferramenta de vigilância se outra entidade a implantar. Qualquer uso desta tecnologia é inaceitável.
Pedimos que você responda publicamente ao nosso pedido até 18 de maio de 2021.
Atenciosamente,
Artistas:
Abhishek Mishra
The Ableist
AGF Producktion OY
AJJ
Akka & BeepBeep
And Also Too
Andy Molholt (Speedy Ortiz, Laser Background, Coughy)
Anjimile
Anna Holmquist (Ester, Bad Songwriter Podcast)
Anti-Flag
Aram Sinnreich
A.O. Gerber
Ben Potrykus (Bent Shapes, Christians & Lions)
The Blow
Catherine Mehta
Charmpit
Coven Brothers
Curt Oren
Damon Krukowski
Daniel H Levine
DIIV
Don’t do it, Neil
Don’t Panic Records & Distro
Downtown Boys
Eamon Fogarty
Elizabeth C
ella williams
Evan Greer
Eve 6
Flobots
Fureigh
Generacion Suicida
Get Better Records
Gordon Moakes (ex-Bloc Party/Young Legionnaire)
Gracie Malley
Guerilla Toss
Harry and the Potters
Hatem Imam
Heba Kadry
Human Futility
The Homobiles
The Hotelier
illuminati hotties
Isabelle jackson
itoldyouiwouldeatyou
Izzy True
Jacky Tran
Jake Laundry
Joanie Calem
Johanna Warren
Kal Marks
Ken Vandermark
Kevin Knight (Nevin Kight)
Khyam Allami
Kimya Dawson
Kindness
Kliph Scurlock (The Flaming Lips)
La Neve
Landlady
Laura Jane Grace
Leil Zahra
Lemon Tree Records
Liliane Chlela
Liz Ryerson Locate S,1
Lyra Pramuk
Making Movies
Man Rei
Maneka
Marshall Moran
Mason Feurer
Mason Lynass – Twenty Ounce Records
Mirah Yom Tov Zeitlyn
of Montreal
My Kali magazine
Nate Donmoyer
Nedret Sahin – Mad*Pow
Nick Levine / Jodi
Norjack
not.fay
OLVRA
Paramind Records
Pedro J S Vieira de Oliveira
Phirany
Pile Pujol
Rayan Das
Sadie Dupuis (Speedy Ortiz, Sad13)
Sam Slick
The Shondes
Slug (Atmosphere)
So Over It
Sound Liberation Front
Stella Zine
Stevie Knipe (Adult Mom)
STS9
Sukitoa o Namau
Suzie True
Taina Asili
Talib Kweli
Tamra Carhart
Tara Transition
Ted Leo
Thom Dunn / The Roland High Life
Tiffany, Okthanks
Tom Morello
Yoni Wolf”