Como o MTV Unplugged do Alice in Chains marcou a despedida simbólica de Layne Staley

Apresentação foi uma das últimas da carreira do cantor, falecido em 2002

A série MTV Unplugged é famosa por algumas performances lendárias e uma delas certamente é a do Alice in Chains. A apresentação, realizada em 10 de abril de 1996 e lançada em CD no dia 30 de julho daquele ano, acabou sendo, de certa forma, a despedida de Layne Staley.

O vocalista viria a falecer em 2002, mas desde 1996, quando o show foi realizado, sua luta contra as drogas se tornou mais dura, o transformando em uma pessoa reclusa e deprimida.

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Além disso, ele chegou a fazer quatro apresentações com a banda após o Unplugged, só que o clima fúnebre da performance acústica, gravada e lançada para o mundo todo, fez com que aquele fosse o último registro dele diante do grande público.

Na época do show do MTV Unplugged, o clima interno do Alice in Chains já não era bom – e a dependência química de Staley era um dos motivos para isso. A banda estava há 2 anos e meio sem fazer um show, enquanto o vocalista ia e vinha de internações em clínicas de reabilitação.

A oportunidade dada pela MTV parecia perfeita para um retorno às atividades. Todavia, aquela noite acabou representando o fim de uma era para o grupo, completo por Jerry Cantrell (guitarra), Sean Kinney (bateria) e Mike Inez (baixo).

Alice in Chains à luz de velas

O teatro Majestic, da Academia de Música do Brooklyn, em Nova York, Estados Unidos, ficou responsável por receber o show do Alice in Chains para o quadro MTV Unplugged. O formato da emissora estava em alta na época, graças a apresentações emblemáticas de nomes como Nirvana, Eric Clapton, Kiss, Pearl Jam, entre outros.

A expectativa em torno do Alice in Chains era enorme. Não só pelo talento da banda, como, também, pela já mencionada ausência prolongada dos palcos.

O palco, decorado com velas, curiosamente foi ideia de Layne Staley, já que a banda não gostava de luzes fortes, mesmo em shows comuns. A intenção era manter uma atmosfera introspectiva, quase fúnebre, o que deu muito certo.

O show marcou também a primeira vez em que o grupo se apresentou como um quinteto, com a adição do guitarrista Scott Olson. Além de guitarra, ele tocou baixo acústico na faixa “The Killer Is Me”, a única inédita da apresentação, que contou com vocais de Jerry Cantrell.

O restante do repertório foi composto por hits como “Rooster”, “Would?”, “Down in a Hole” e outras. O sucesso “Man in the Box”, sabiamente, não foi incluído no setlist.

Metallica e hot dogs problemáticos

Durante a gravação, tudo correu bem, com exceção dos erros de execução, tão habituais no MTV Unplugged.

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Músicas como “Got Me Wrong” e “Sludge Factory”, entre outras, precisaram ser tocadas várias vezes por conta de erros e dificuldades que os músicos normalmente têm ao executar partes acústicas, com as quais não estão acostumados. Ao todo, a gravação durou cerca de 3 horas, com faixas tendo de ser repetidas até cinco vezes.

Jerry Cantrell, particularmente, não via a hora de tudo aquilo acabar, pois estava doente no dia do show. O guitarrista foi cometido por uma intoxicação alimentar, resultado de um cachorro-quente de procedência duvidosa consumido no dia. Apesar disso, felizmente, ele conseguiu realizar o show na íntegra.

Outro ponto curioso da apresentação foi a presença, na plateia, dos integrantes do Metallica, que foram alvo de uma brincadeira de Mike Inez. Em um dos instrumentos usados por ele, era possível ler a frase “friends don’t let friends get friends haircuts…”, que pode ser traduzida livremente como “amigos não deixam amigos receberem cortes de cabelo de amigos…”

A zoeira estava com o fato de que o Metallica acabava de entrar na era “Load”, onde adotou um visual bem diferente, com direito a cabelos mais curtos do que o normal.

Por outro lado, a banda de thrash metal também foi homenageada pelos amigos naquela ocasião: o Alice in Chains chegou a tocar as introduções de “Enter Sandman” e “Battery” (vídeo abaixo) em dois momentos durante o show.

Reconhecimento tardio

Embora o álbum do Alice in Chains no MTV Unplugged tenha vendido bem, conquistando disco de platina no Estados Unidos e colocações no top 10 das paradas da Suécia, Nova Zelândia e Noruega, a crítica não aprovou logo de cara. Para muitos, a falta do peso deixava as músicas incompletas.

Felizmente, o reconhecimento veio de forma tardia. Infelizmente, porém, isso ocorreu foi por um triste motivo.

Os problemas de Layne Staley fizeram com que o disco se transformasse em uma espécie de despedida dele. O vocalista faria apenas alguns outros shows com a banda, ainda em 1996, abrindo a turnê de reunião da formação original do Kiss, além de gravar algumas faixas que acabaram entrando em coletâneas e box sets. Nada além.

Staley lidou com o vício em drogas durante boa parte de seu período como vocalista do Alice in Chains. Em outubro daquele ano, a situação dele piorou quando sua noiva, Demri Lara Parrott, faleceu em decorrência de uma overdose. O cantor se tornou recluso, o que fez o Alice in Chains entrar em hiato, e afundou-se ainda mais nas drogas.

Sua última aparição pública foi em 1998, quando foi a um show solo do guitarrista Jerry Cantrell – e se recusou a subir no palco para uma participação especial. Ele morreria em 2002, aos 34 anos, também de overdose, encerrando uma carreira que poderia ter oferecido muito mais aos fãs.

Passados alguns anos, o Alice in Chains voltaria a se erguer, agora com a ajuda de William DuVall, mas a memória de Layne Staley permaneceria forte no trabalho da banda. E, certamente, o MTV Unplugged é um símbolo dessa era saudosa e também problemática.

* Texto desenvolvido em parceria por André Luiz Fernandes e Igor Miranda. Pauta, argumentação base e edição geral por Igor Miranda; redação, argumentação complementar e apuração adicional por André Luiz Fernandes.

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André Luiz Fernandes
André Luiz Fernandes
André Luiz Fernandes é jornalista formado pela Universidade Metodista de São Paulo (UMESP). Interessado em música desde a infância, teve um blog sobre discos de hard rock/metal antes da graduação e é considerado o melhor baixista do prédio onde mora. Tem passagens por Ei Nerd e Estadão.

4 COMENTÁRIOS

  1. Legal cara, trouxe detalhes que eu não sabia sobre o mais marcante unpluged da história para mim. Não sabia que metálica estava na plateia. Sou muito fan de Alice in Chais e lany Staley. Bom trabalho.

  2. Muito bom!!! Sou Layne até o último dia da minha vida!!! Salve Alice In Chains e o legado que eles nos deixaram!! Detalhes que eu também não sabia, do mettalica, por exemplo. Eu tenho pra mim que o Layne era médium. Ele confessou ao Mile Starr que havia recebido visita da sua noiva e acredito que ele foi buscá-lo no dia de sua morte!! Salve Alice In Chains, always!!

  3. Excelente matéria. Sempre fui fã da banda e recentemente li uma biografia não autorizada, que me fez entender ainda mais todos os dramas que o AiC passou.

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