A misteriosa morte de Jim Morrison, vocalista do The Doors, que não passou por autópsia

Lei da França, país onde cantor faleceu, não exigia que corpo fosse examinado antes de ser velado; situação permitiu o surgimento de versões não-oficiais

A morte de Jim Morrison, vocalista do The Doors, é envolta por circunstâncias enigmáticas mesmo cinco décadas após ocorrida.

No dia 3 de julho de 1971, o cantor foi encontrado morto na banheira de um apartamento em Paris, na França. Ele, que tinha 27 anos, vivia no local há pouco tempo com a então namorada, Pamela Courson.

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Oficialmente, o cantor teve uma parada cardíaca, possivelmente causada por uma overdose de heroína. Entretanto, como a lei francesa não exigia que uma autópsia fosse feita, a morte de Jim Morrison permanece um mistério até hoje.

Na época, o The Doors havia acabado de gravar o álbum “L.A. Woman” (1971), que traz músicas como “Love Her Madly” e “Riders on the Storm”. Morrison estava em um dos períodos mais complicados de sua vida, com prisões e abuso de drogas, quando anunciou que se mudaria para a capital da França, para morar com Pamela Courson. Seus companheiros de banda gostaram da ideia e a mudança de ares parecia estar fazendo bem ao vocalista.

Em cartas escritas para amigos, ele relatou as caminhadas que gostava de fazer, sozinho, pela “Cidade-Luz”. A melhoria em sua qualidade de vida era visível: Morrison havia aparado a barba que deixara crescer e chegou a perder alguns quilos que tinha adquirido nos últimos anos.

Choque com a morte de Jim Morrison

Até mesmo por essa nítida melhora, após anos de excessos, a notícia da morte de Jim Morrison foi recebida por todos de forma chocante. Em entrevista para a Guitar World, o guitarrista Robby Krieger relembrou a reação que os membros do The Doors tiveram ao receber a informação sobre o falecimento:

“Recebi uma ligação e não acreditei, porque costumávamos ouvir m**das como essa o tempo todo – que Jim havia se jogado de um penhasco ou algo assim. Então mandamos nosso empresário para Paris e ele ligou dizendo que era verdade.”

Passados 50 anos, os detalhes da morte de Jim Morrison permanecem envoltos em mistério. Alguns personagens contribuem para isso: Sam Bernett, dono de uma antiga casa noturna que o artista frequentava em Paris, e Marianne Faithfull, cantora e atriz que teve na época um relacionamento com Mick Jagger, vocalista dos Rolling Stones.

Morte de Jim Morrison: a versão não-oficial

Sam Bernett escreveu um livro sobre o assunto, intitulado “The End: Jim Morrison” e lançado em 2006. Na versão presente na obra, o cantor foi encontrado morto não no apartamento, mas no banheiro do Rock and Roll Circus, uma casa noturna da qual Sam era um dos proprietários.

Havia, segundo ele, sinais de overdose de heroína – droga que Jim costumava cheirar, pois tinha medo de agulhas. O corpo foi examinado por um médico, que era um dos clientes do lugar.

Patrick Chauvel, fotógrafo e escritor, também frequentador da casa noturna, corrobora com a versão de Bernett e diz ainda que ajudou dois homens a carrega-lo em uma escada.

Um traficante entra na jogada

Marianne Faithfull, que também frequentava o local, aponta mais supostas informações sobre o óbito. A cantora afirma saber até quem foi o responsável pela morte de Jim Morrison: seu namorado na época.

Quando Marianne Faithfull terminou seu relacionamento com Mick Jagger, em 1970, ela entrou em um período complicado, se afundando em drogas. Anos depois, chegou até a morar na rua.

Um de seus companheiros nesse período inicial após o rompimento com Jagger foi um homem chamado Jean de Breiteuil, que, segundo ela, era um traficante de heroína. O homem vendia suas drogas para clientes famosos, incluindo Pamela Courson, namorada de Morrison.

Ela chegou a escrever sobre Jean em sua autobiografia, lançada em 2000:

“Ele era um cara horrível, alguém que parecia ter saído debaixo de uma pedra. O que eu gostava nele era que ele tinha um olho amarelo e um verde. E ele tinha um monte de drogas. Era só drogas e sexo.”

Posteriormente, Marianne ainda revelou, à revista Mojo, que sabia que Breiteuil estaria com Morrison e sentiu que algo de ruim aconteceria, preferindo se ausentar. Ela também acha que a morte não foi proposital: o vocalista provavelmente exagerou na dose e acabou morrendo.

Há quem diga, aliás, que Jean de Breiteuil também teria sido o responsável pela overdose que matou Janis Joplin um ano antes. A cantora faleceu em 1970, aos 27 anos.

“Minha intuição dizia que haveria problema ali. Pensei: ‘vou tomar um Tuinal e não vou’. E ele foi ver Jim Morrison e o matou. Quero dizer, tenho certeza que foi um acidente. Pobre coitado. A dose foi muito forte? Sim. E ele morreu. E eu não sabia nada sobre isso.”

Marianne Faithfull e os outros falecimentos

Três anos após a morte de Jim Morrison, Pamela Courson morreu – também aos 27 anos e por uma overdose de heroína. Jean de Breiteuil faleceu ainda antes, em 1971, no Marrocos, pela mesma causa.

Isso faz de Marianne Faithful, hoje com 74 anos, a única pessoa viva ligada à morte do vocalista do The Doors de alguma forma. Ela mesma aponta isso, ainda que tenha se esquecido de mencionar Sam Bernett.

“Todo mundo ligado à morte desse pobre cara está morto agora. Exceto eu.”

Teorias à parte, a versão oficial continua sendo a relatada por Pamela Courson, que afirma que, naquela noite, Morrison e ela foram ao cinema, jantaram, ouviram música e foram dormir. Ele, então, teria acordado de madrugada sentindo-se mal e foi tomar um banho para relaxar. Acabou morrendo na banheira, onde foi encontrado morto.

* Texto desenvolvido em parceria por André Luiz Fernandes e Igor Miranda. Pauta e edição geral por Igor Miranda; redação, argumentação e apuração adicional por André Luiz Fernandes.

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André Luiz Fernandes
André Luiz Fernandes
André Luiz Fernandes é jornalista formado pela Universidade Metodista de São Paulo (UMESP). Interessado em música desde a infância, teve um blog sobre discos de hard rock/metal antes da graduação e é considerado o melhor baixista do prédio onde mora. Tem passagens por Ei Nerd e Estadão.

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