Como o RPM virou um legítimo fenômeno pop com “Rádio Pirata Ao Vivo”

Paulo Ricardo, Luiz Schiavon, Fernando Deluqui e Paulo P.A. Pagni fizeram história na música brasileira com ascensão meteórica - assim como a queda

Se o rock brasileiro dos anos 1980 rendesse um livro definitivo, um capítulo deveria ser destinado ao RPM. A banda foi responsável por um dos maiores fenômenos na música pop nacional, algo potencializado pelo álbum ao vivo “Rádio Pirata Ao Vivo”.

Por um lado, o disco, que foi o segundo da trajetória do RPM, foi um dos mais vendidos da história da música brasileira. Por outro, a ascensão meteórica vivenciada pelo grupo também foi o início de seu fim.

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A estreia do RPM tinha saído em 1985, com “Revoluções Por Minuto”, que fez sucesso logo de cara. Quase todas as músicas tornaram-se hits, com destaques para “Olhar 43”, “Rádio Pirata” e “Louras Geladas”.

A banda tinha como “rosto” o vocalista, baixista e letrista Paulo Ricardo, visto como uma espécie de sex symbol da época. Todavia, era dos teclados de Luiz Schiavon que fluía a musicalidade que atraiu a mídia para o grupo, que era completo por Fernando Deluqui (guitarra) e Paulo P.A. Pagni (bateria).

RPM fazendo a revolução

“Revoluções Por Minuto” vendeu muito bem em seus primeiros meses, mas o RPM ainda entraria em outro patamar. E o responsável por isso tinha nome: o empresário Manoel Poladian, que assinou com o grupo naquela época.

Agente de alguns dos maiores artistas da música brasileira na época, Poladian transformou os shows da banda em eventos dignos de nomes internacionais. Foi feito um grande investimento em produção e iluminação, para que o quarteto se apresentasse em grandes arenas – quase sempre lotadas.

Esses enormes shows rodaram por todo o Brasil em velocidade recorde: o RPM tocou em todos os estados brasileiros em aproximadamente um ano, algo impensável para a época. E foi de registros dessa turnê histórica que surgiu o segundo lançamento da banda.

https://www.youtube.com/watch?v=3htrxIZIw7s

Nas ondas do rádio

“Rádio Pirata Ao Vivo” foi gravado em dois shows realizados no Complexo do Anhembi, em maio de 1986. O material foi produzido por Marco Mazzola, junto de Roberto Marques, enquanto o lendário Ney Matogrosso cuidou da direção do show, sendo o responsável por efeitos e iluminação do palco.

A iniciativa do álbum ao vivo era claramente caça-níquel, já que a banda não havia produzido músicas novas após “Revoluções Por Minuto”. Dessa forma, foi necessário realizar algumas adaptações para fechar uma tracklist de disco.

Além de cinco músicas do álbum de estreia, foram incluindo outras quatro faixas. Duas delas eram covers: “Flores Astrais”, do Secos & Molhados, antigo grupo de Ney Matogrosso; e “London, London”, de Caetano Veloso.

As outras duas eram inéditas e traziam Luiz Schiavon, um pianista clássico que acabou criando interesse por teclados e sintetizadores, na linha de frente. Uma delas foi o hit “Alvorada Voraz”, de letra ácida e soturna. A outra, “Naja”, era instrumental.

O sucesso de “Rádio Pirata Ao Vivo”

É bem verdade que o RPM já entrou em campo “com o jogo ganho” quando lançou seu álbum ao vivo. Entretanto, o que garantiu o sucesso em larga escala de “Rádio Pirata Ao Vivo” foi uma das músicas que não estavam em seu disco anterior, de estúdio: o cover de “London, London”, que, curiosamente, se transformou em hit em meio à escassez de composições autorais do grupo naquele momento.

Logo após o lançamento do ao vivo, a banda foi tema de uma edição inteira do jornalístico Globo Repórter, com reportagem de Pedro Bial. Ali, foram exploradas as origens do grupo e o sucesso de “Rádio Pirata Ao Vivo”, que foi bem maior do que o imaginado.

O álbum havia vendido 500 mil cópias antes mesmo de ser lançado, só com encomendas. Era mais da metade de toda a vendagem do disco de estreia.

Segundo a reportagem do Globo Repórter, a gravadora precisou contratar mais uma fábrica de LPs para dar conta da demanda – algo que só havia sido necessário para álbuns do já consagrado Roberto Carlos.

Hoje, registram-se 3,7 milhões de cópias vendidas de “Rádio Pirata Ao Vivo” ao todo. É, até hoje, um dos trabalhos mais vendidos da indústria fonográfica no Brasil.

Entre a cruz e a espada

A produção de qualidade e a grande fama da banda, que apostava em uma sonoridade bem moderna, fez toda a diferença naquele momento. No entanto, o sucesso também trouxe problemas.

Na sequência de “Rádio Pirata Ao Vivo”, os músicos tentaram lançar um selo próprio, o RPM Discos, que acabou não vingando. Divergências criativas também tornaram a convivência mais difícil, o que fez a banda anunciar sua separação em 1987.

O grupo chegou a voltar já no ano seguinte, em 1988, com um álbum homônimo, também conhecido como “Quatro Coiotes”. Não chegou nem perto do sucesso dos dois primeiros álbuns, o que motivou uma nova separação.

Desde então, o RPM teve idas e vindas, com Paulo Ricardo se dedicando à sua carreira solo na maior parte do tempo.

Nunca mais o grupo conseguiu tamanho sucesso como o do fenômeno “Rádio Pirata Ao Vivo”, que depois também ganhou versão em CD e até mesmo em DVD, com um show gravado no Ginásio do Ibirapuera, também em São Paulo. A ascensão foi meteórica, assim como a queda.

* Texto desenvolvido em parceria por André Luiz Fernandes e Igor Miranda. Pauta, argumentação base e edição geral por Igor Miranda; redação, argumentação complementar e apuração adicional por André Luiz Fernandes.

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André Luiz Fernandes
André Luiz Fernandes
André Luiz Fernandes é jornalista formado pela Universidade Metodista de São Paulo (UMESP). Interessado em música desde a infância, teve um blog sobre discos de hard rock/metal antes da graduação e é considerado o melhor baixista do prédio onde mora. Tem passagens por Ei Nerd e Estadão.

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