O Pink Floyd costuma ser associado principalmente aos nomes de Roger Waters e David Gilmour, que, em meio a uma rivalidade, criaram os maiores sucessos da banda. Entretanto, toda a história da banda começou antes, com Syd Barrett.
Fundador do grupo, o vocalista e guitarrista aparece apenas nos dois primeiros álbuns, “The Piper at the Gates of Dawn” (1967) e “A Saucerful of Secrets” (1968). Acabou sendo convidado a sair da formação em 1968, devido a problemas com drogas e de saúde mental.
Depois de tentar uma carreira solo, abandonou completamente a vida pública no início da década de 1970. Ele morreu em 2006, aos 60 anos, de câncer no pâncreas.
No início, a psicodelia era um elemento muito mais presente na sonoridade do Pink Floyd – e Barrett era o principal responsável por isso. Contudo, o LSD e outras drogas foram o combustível de sua genialidade, também acabaram sendo sua perdição.
Com a mente debilitada, ele já não conseguia tocar direito e foi demitido da banda que criou, sendo substituído de forma gradual por David Gilmour. Isso pesou sobre os ombros dos membros remanescentes por toda a vida.
Carreira solo e vida após o Pink Floyd
A saída de Syd Barrett do Pink Floyd não foi resultado de grandes brigas e discussões épicas, como se poderia esperar.
Possivelmente com esquizofrenia e outras questões de ordem mental, o cantor e guitarrista estava debilitado. Dessa forma, simplesmente foi deixando de ser convidado para shows e ensaios.
Todos na banda se sentiam mal por tirá-lo do Pink Floyd. O tecladista Richard Wright, que morava com Barrett na época, foi quem mais sentiu o impacto.
Oficialmente fora da banda em 1968, Syd Barrett embarcaria em uma carreira solo mais voltada ao blues rock e que rendeu dois álbuns de estúdio. São eles: “The Madcap Laughs” e “Barrett”, ambos lançados em 1970.
Todo o material solo de Barrett contou com colaborações de membros do Pink Floyd. Gilmour, o substituto do músico na banda, foi curiosamente o músico que mais participou desses álbuns: ele coproduziu os dois discos (o primeiro junto de Waters; o segundo, ao lado de Wright) além de ter gravado baixo, violão de 12 cordas e até bateria.
Após os lançamentos, Syd ainda se apresentaria ao vivo, tendo como banda de apoio a The Last Minute Put-Together Boogie Band, que depois mudaria o nome para Stars e tinha formação composta por John “Twink” Alder na bateria e Jack Monck no baixo. Os shows agradaram, mas não foi possível dar sequência devido à saúde mental de seu líder.
As sessões do Pink Floyd para “Wish You Were Here”
Syd Barrett surpreendeu os membros do Pink Floyd em 1975, quando apareceu sem ser anunciado no estúdio Abbey Road, onde a banda mixava “Wish You Were Here”.
Com cabelo e sobrancelhas raspadas, além de uns quilos a mais, ele mal chegou a ser reconhecido pelos ex-colegas. Roger Waters mostrou a ele a música “Shine On You Crazy Diamond”, escrita em homenagem ao próprio artista. Ao ouvi-la, ele afirmou que a música “soava meio velha”.
Syd Barrett e as pinturas queimadas
Antes disso, em 1972, o fundador do Pink Floyd já havia se afastado da vida pública. Em 1978, ele deixou a cidade de Londres e foi morar com a mãe, em Cambridge, onde se dedicou às artes plásticas.
Em entrevista dada por sua irmã, Rosemary Breen, para o Escape Artists em 2009, foi revelado que Barrett queimava a maioria das telas que pintava. Antes disso, ele tirava fotos e dava a ela, como recordação.
“Uma vez que a necessidade criativa estava fora de sua mente e colocada no papel, ele não tinha mais utilidade para aquilo. É como se você e eu comêssemos um ovo no café da manhã, depois você não quer vê-lo pelo resto do dia, você quer naquela hora e então acaba. Ele via uma pintura dessa forma. Ele precisava fazer isso. Quando estava no papel e fora de sua mente, tinha acabado.”
Rosemary contou ainda que o irmão era interessado em história da arte e chegou a escrever um livro sobre o assunto. A obra nunca foi publicada.
No que diz respeito à música, ele passou a se tornar um grande fã de jazz. Desligou-se totalmente do rock progressivo e até do Pink Floyd, nunca demonstrando interesse sobre os discos da banda.
Ao assistir o documentário “The Pink Floyd and Syd Barrett Story” (2003), sobre os primeiros anos do grupo, ele considerou a música “alta demais”, mas gostou de ter ouvido “See Emily Play”.
Últimas notícias
Em 1982, aproximadamente uma década após se retirar da vida pública, Syd Barrett recebeu a visita de dois jornalistas franceses que descobriram seu endereço em Cambridge. O músico os recebeu para uma conversa rápida.
Durante o bate-papo, ele revelou ter passado por uma cirurgia, mas nada sério. Na ocasião, Barrett ainda falava em voltar a Londres, mas garantiu que não estava mais fazendo música.
Quando os jornalistas pediram para tirar uma foto, Syd concordou, ao mesmo tempo em que se despedia, dizendo: “Sim, claro. Bom, chega por agora. É doloroso para mim. Obrigado”.
Em 2001, quase duas décadas depois da tentativa de entrevista, ele voltou a ser procurado pela imprensa. Na ocasião, um repórter do jornal The Guardian trabalhava em um perfil sobre sua carreira.
Abordado na rua, o músico desconversou, dizendo não saber quem era Syd Barrett. Em seguida, ele pediu para ser deixado em paz. O diálogo ocorreu da seguinte forma:
– Jornalista: “Com licença! Estou escrevendo um artigo sobre Syd Barrett.”
– Syd: “Quem?”
– Jornalista: “Syd Barrett. Ele fazia parte do Pink Floyd.”
– Syd: “Nunca ouvi falar dele. Ele é um daqueles rappers?”
– Jornalista: “Não – ele era um gênio psicodélico. Você é Syd Barrett?”
– Syd: “Me deixe em paz. Preciso comprar salada de repolho.”
Anos finais de Syd Barrett
Em 2002, Syd Barrett surpreendeu a todos ao aceitar autografar 320 cópias do livro “Psychedelic Renegades”, de Mick Rock, que continha fotos dele. Desde o fim de sua carreira na música, ele voltou a usar seu nome de batismo, Roger, abandonando o apelido Syd. Nos autógrafos, ele assinou apenas como Barrett.
O fundador do Pink Floyd morreu em 2006, aos 60 anos. A causa não teve relação com os distúrbios mentais ou o uso de drogas: ele foi vítima de um câncer no pâncreas.
Desde então, a irmã de Syd comanda uma fundação beneficente que leva o nome dele. A Syd Barrett Trust busca auxiliar pessoas diagnosticadas com transtornos mentais.
O músico ainda foi citado por Roger Waters durante o show de reunião do Pink Floyd no Live 8, em 2005, pouco antes de falecer.
Ele permaneceria nas lembranças e nas inspirações dos membros da banda, incluindo David Gilmour, que foi encarregado de substitui-lo como guitarrista após sua saída. Além de “Shine On You Crazy Diamond”, o artista ainda inspiraria o álbum “The Wall” (1979) e seu respectivo filme.
* Texto desenvolvido em parceria por André Luiz Fernandes e Igor Miranda. Pauta e edição geral por Igor Miranda; redação, argumentação e apuração adicional por André Luiz Fernandes.
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Muito bom sempre lembrar de Syd Barrett.
Parabéns!
Uma pena isso tudo ter acontecido com um gênio de uma banda lendária .
Brain Damage também não é em homenagem a ele????
o the dark side of the moon inteiro parece algo ligado com o syd ne??? nao sei se é mas pra mim, parece muito….
Parabéns pelo artigo.
Syd era um verdadeiro artista.
É interessante que por aqui durante muito tempo sempre falavam do Syd Barret como arruinado fisicamente e quase um vegetal, porem quando procuramos melhores fontes (e como bem mostra essa reportagem) ele estava em boa forma física para alguém que cometeu tantos abusos nos anos de juventude. E aparentemente estabilizou um pouco sua mente após os anos 70.
De qualquer forma é sempre bom lembrar de Syd Barret!
Legal!!!
Lindo artigo. A história do Syd muito me fascina e ler sobre sempre é legal. Vi fotos que não tinha visto antes e o texto é bem completo.
Eu fico imaginando o que ele teria feito na música se continuasse a carreira. Com certeza seria uma revolução. Com 2 álbuns pelo PF ele já deixou sua marca e abriu caminho pra um som totalmente novo e diferente… O mundo seria muito mais feliz se ele e Chico Science seguissem suas carreiras e usassem tudo que tinham a seu dispor…
Long live rock and roll . RIP SYD!!
Tem uma certa analogia com a vida do pintor holandês Van Gogh, uma mente atormentada na convivência com as dores do mundo.
Excelente artigo! Desses que quando termina a gente fica querendo ler mais!
Faltou falar de brain damage, belíssima faixa que falava do sofrimento progressivo do Syd.
pelo q vi das músicas c/ sua participação, foi uma baita sorte pro PinkFloyd ele ter saído; “meio velho/alta”! bota enjoado! Provavelmente, ñ teriam composto as pérolas q compuseram nos álbuns vindouros
Aqui no Brasil tivemos um grande músico que deixou tudo por problemas mentais, seu nome era Guilherme Lamounier. Vale a pena conhecer sua história e música.