Em 2015, Yngwie Malmsteen foi escalado como uma das atrações do festival Monsters of Rock, realizado em São Paulo. Em meio ao público – ou melhor, nos bastidores -, estava Robertinho de Recife, ídolo da guitarra nacional.
Os fãs estavam ansiosos pelo início do show do sueco, que seria um dos primeiros – ele tocaria às 14h20, após Steel Panther e Doctor Pheabes e antes de Unisonic, Accept, Manowar, Judas Priest e, por fim, Kiss. Entretanto, um problema no equipamento causou um atraso de aproximadamente 30 minutos. Para um festival, meia hora sem som é uma infinidade.
Eis que surge Robertinho, grande fã de Malmsteen, para salvar o dia. O próprio me contou esta história, em entrevista concedida em 2020. De início, ele conta:
“Todo mundo falava que o Yngwie Malmsteen era chato, mas eu estive com ele e me surpreendi. No festival Monsters of Rock (2015), deu problema no som e o show já estava atrasado em meia hora, aí pediram para chamar. Eu estava com o Muniz (José Muniz Neto), que estava organizando o show.”
Os problemas técnicos deixaram Yngwie bem irritado, ainda que ele tenha se acalmado ao notar o músico brasileiro.
“Chegamos nos bastidores, daí veio aquele cara, daquele tamanho, grande pra caramba (cerca de 1,90m) – e nervoso, xingando o tempo inteiro. Fiquei a uns 10 metros de distância, só olhando, até que o Muniz me apresentou a ele. Então, o Yngwie comentou que me conhecia e que todos falavam que a gente parecia, mas disse que não era verdade, pois ele era mais alto (risos). Em seguida, ele falou que estava com problema, pediu até desculpas, pois estava nervoso.”
Salvando o show de Yngwie Malmsteen
A guitarra de Malmsteen estava com uma interferência complicada de se resolver. Quer dizer: complicada para gringos, já que músicos brasileiros, como Robertinho de Recife, sabiam o peculiar caminho para sanar o problema.
“Havia um hamer gigante na guitarra, o que não o permitia fazer o show. Então, eu respondi que sabia qual era o problema: o terceiro pino de tomada na aparelhagem sem fio que ele usava. Só existe aterramento nos estúdios – nos palcos, nunca tem aterramento.
Sugeri que tocasse usando fios, mas Yngwie comentou que não dava porque anda muito pelo palco. Até brinquei: ‘se você entrar com a guitarra desligada, todo mundo vai aplaudir, todo mundo quer te ver de perto, já te ouviram tocar nos álbuns’. Então, o roadie quebrou o terceiro pino e funcionou na boa, sem hamer nenhum.”
Após salvar o show de Yngwie Malmsteen, Robertinho ganhou passe livre para acompanhar tudo da lateral do palco.
“Acabei assistindo ao show na lateral do palco, e todo mundo me vendo. Perguntaram até se eu iria participar (risos). Foi muito gente boa comigo. No fim, quebrou a guitarra, jogou o corpo dela para a galera e me deu o braço de presente. Nesse dia, ele tocou demais. Achava que ele era decoreba, mas era talento puro, improvisando muito.”
Robertinho de Recife e Manowar
Ainda durante a entrevista (que durou cerca de 3 horas e rendeu histórias incríveis), o sempre amigável Robertinho de Recife relembrou sua participação durante o show que o Manowar faria, horas depois, no mesmo evento. Na ocasião, ele subiu ao palco para tocar com a banda a clássica “Metal Daze”, justamente a segunda música do repertório.
“Só aceitei participar do show do Manowar porque foi algo que aconteceu na hora, de surpresa, e quiseram me fazer uma homenagem. Os caras me chamaram no camarim porque queriam me conhecer, o próprio Muniz comentou que mostrou fitas minhas tocando ‘Battle Hymn’, ‘Metal Daze’. Aí o Joey DeMaio, que é poliglota e fala português, comentou que faria uma homenagem.”
De fato, a iniciativa pegou Robertinho de surpresa. Ainda bem que ele lembrava – mais ou menos – como tocar a música.
“O guitarrista, Karl Logan, entregou uma guitarra para mim. Achei que ele estava me mostrando, falei que era linda. Daí, ele falou: ‘na segunda música, você entra com a gente’. Não deu tempo nem de perguntar como era a música. Fazia mais de 20 anos que eu não a tocava! E pensa em uma banda que tocava alto! Nunca senti o palco tremer como no show deles. Fiquei até meio zonzo.”
Assista ao momento no vídeo a seguir.
Clique para seguir IgorMiranda.com.br no: Instagram | Twitter | Threads | Facebook | YouTube.
Excelente relato! Estava lá nesse dia histórico. Um dos últimos festivais de metal decentes em termos de line up no Brasil.