Ao ver o Offspring no palco, muita gente nem imagina que está diante de um grande acadêmico americano. Trata-se do vocalista Dexter Holland, que tem um grau PhD – equivalente a doutorado – em biologia molecular, concluído em 2017.
Mas a história dele com a ciência é bem mais antiga do que isso. É até mais velha do que o sucesso de sua banda.
Dexter Holland: rock ou ciência?
As atividades do Offspring foram iniciadas em meados dos anos 1980. Entretanto, foi só com seu terceiro álbum de estúdio, “Smash” (1994), que o sucesso realmente chegou.
Na época, Dexter foi obrigado a escolher dar sequência a sua carreira como músico ou como biólogo, formação que ele já havia concluído na década anterior.
Em uma entrevista de 1995 à Bravo, o vocalista do Offspring falou sobre o momento em que teve que optar e ainda revelou que todos os outros membros da banda tinham uma carreira definida, caso a música não desse certo. O cantor também se mostrou otimista a respeito de quando terminaria os estudos – o que só aconteceu mais de 20 anos depois.
“Comecei minha tese e gostaria de terminá-la logo. Ei, em dois anos você poderá me chamar de Dr. Dexter Holland. Sempre fui o melhor em matemática no ensino médio. Acho matemática tão divertido quanto punk rock. Não vou querer tocar em uma banda quando tiver 40 anos, vou preferir ser um professor em uma universidade. Noodles (guitarrista), por exemplo, estuda literatura inglesa. Greg (K., baixista) e Ron (Welty, baterista) também estão continuando seus estudos.”
Dr. Dexter Holland, PhD
Duas previsões foram feitas de forma equivocada. A primeira é que o músico já passou (e muito!) dos 40 anos, mas continua vivendo da música, com o Offspring. Além disso, a tese de doutorado só foi finalizada em 2017.
Fato é que agora, enfim, todos podem chamá-lo de Doutor Dexter Holland. Em 2014, quando retomou os estudos, ele falou sobre o assunto em entrevista ao ASBMBToday.
“Se eu não fizer isso agora, não vou fazer nos próximos 10 anos. Não estou pretendendo necessariamente fazer uma carreira na ciência, mas quero terminar algo que comecei.”
Sob a orientação de Suraiya Rasheed, da Universidade do Sul da Califórnia, Holland entregou uma tese de 175 páginas sobre a dinâmica molecular do vírus HIV e as interações gerais entre vírus e hospedeiro. Devidamente aprovado, o trabalho recebeu o título “Discovery of Mature MicroRNA Sequences within the Protein-Coding Regions of Global HIV-1 Genomes: Predictions of Novel Mechanisms for Viral Infection and Pathogenicity” (algo como “Descoberta de sequências maduras de microRNA dentro das regiões de codificação de proteína em genomas globais de HIV-1: previsões de novos mecanismos para infecções virais e patogenia”, em tradução livre).
Em uma publicação nas redes sociais, ele falou um pouco mais sobre o tema que escolheu.
“Quis contribuir de alguma forma para o conhecimento que aprendi sobre HIV e Aids. Essa terrível doença continua a ser uma epidemia mundial – mais de 35 milhões de pessoas, em todo o mundo, estão infectados e vivem com o vírus HIV. Um milhão de pessoas morrem por causa dessa doença anualmente.”
Dr. Dexter e o movimento antivacina
Após se formar, Dexter Holland seguiu com o Offspring, agora ostentando seu título de PhD. Em entrevista recente ao MusicFeed ao lado do guitarrista Noodles, ele brincou que faz questão de ser chamado de “doutor” pelos colegas de banda – e admitiu que dá “carteiradas” nas decisões em conjunto por ter um grau de PhD em biologia molecular.
Noodles, por sua vez, comentou um fato interessante a respeito dos crescentes movimentos antivacina nos Estados Unidos. Até mesmo pela formação de Dexter, o Offspring sempre se posiciona a favor da vacina e da ciência em relação à pandemia de Covid-19, mas frequentemente a banda é confrontada por pessoas que não acreditam nas evidências científicas.
O guitarrista destacou:
“O mais engraçado sobre isso é que nós postamos uma coisa dizendo que você deveria se vacinar e as pessoas vieram até nós, tentando ensinar Dexter sobre vacinação, se ela funciona ou não. Ele é PhD em biologia molecular, um especialista em vírus, e você está tentando ensinar a ele sobre vacinação. É hilário para mim.”
* Texto por André Luiz Fernandes, com pauta e edição por Igor Miranda.