Um aspecto curioso na sonoridade de Eddie Van Halen estava na forma de usar os amplificadores. Inclusive, demorou muito tempo até que músicos e pesquisadores de guitarra descobrissem como ele usava seus amplis, já que ele próprio mentia sobre isso nas entrevistas.
Antes, uma breve explicação sobre amplificadores de guitarra. Como vários músicos, Eddie utilizava amplis valvulados, onde válvulas são usadas para amplificar o som. A saturação dessas válvulas gera o famoso drive, sonoridade distorcida tão comum no rock, inclusive nas músicas do Van Halen.
Pois bem: em uma célebre entrevista à revista americana Guitar Player, em 1978, Eddie contou que aumentava a tensão de seus amplificadores para saturar ainda mais as válvulas e chegar ao som desejado. Mas era mentira – e isso fez com que muita gente queimasse suas válvulas na tentativa de emular a sonoridade.
A tática era justamente o contrário: ele diminuía a tensão para chegar àquela sonoridade. Mas é óbvio que ele não iria revelar seu segredo logo de cara, né?
Com a palavra, Eddie Van Halen
O próprio Eddie Van Halen conta, em entrevista ao instituto Smithsonian, em 2017, como tudo aconteceu. Inicialmente, ele disse:
“Eu trabalhava em uma loja de música entregando pianos e órgãos. Um dia, um amplificador Marshall apareceu e eu só tinha visto fotos deles, apenas Eric Clapton tocava isso! Eu precisava daquele amplificador, então trabalhei durante todo o verão para comprar um daqueles. Já éramos barulhentos demais, agora estava com um Marshall de 100 watts! Era tão barulhento que eu fiz de tudo, desde deixá-lo de costas até deitado no chão. Era muito alto!”
Ao descobrir que havia outro amplificador Marshall à venda em sua região, ele pensou que poderia ser diferente, então, comprou o produto.
“Bem, certamente era diferente, porque quando eu liguei, não funcionou. O que não percebi foi que o produto era da Inglaterra e estava ajustado em 220 volts. Demorou muito para aquecer as válvulas em meia-voltagem, então, quando comecei a tocar, achei incrível o som, mas era muito silencioso. Dessa forma, notei que dava para controlar o amplificador com a voltagem.”
Com isso, veio a descoberta: com um transformador Variac, ele poderia controlar a voltagem.
“Abaixei a voltagem de 110v lentamente para 100. O mais baixo que já cheguei foi 60. Dependia de onde tocávamos, ficava entre 60 e 100, a depender do ambiente. O ponto ideal era 89 volts.”
O brown sound
Por isso, a sonoridade do clássico “brown sound”, nome dado ao timbre diferenciado de Eddie Van Halen, passa diretamente por um amplificador Marshall (geralmente modelo Plexi) quase ficando sem energia, obtendo sua saturação natural (drive) mesmo em um volume mais baixo. Isso deixava o som de Eddie incrivelmente limpo, mas ainda assim agressivo.
Aliás, foi daí que veio o nome “brown sound”. As lâmpadas antigas, quando estavam em uma tensão menor ou acabavam de voltar após uma queda de energia, ficavam na cor marrom (brown).
Em entrevista à Total Guitar, um dos grandes amigos guitarristas de Eddie, Brian May (Queen), reforçou a importância do chamado “brown sound” para o incrível resultado que o colega de instrumento apresentava. Porém, ao invés de citar a questão dos amplificadores, outra mudança curiosa foi citada: a posição dos captadores da guitarra.
“Conversamos sobre o que ele chamava de ‘brown sound’. Ele falou que era muito influenciado pela forma como a minha guitarra soava, pela amplitude dela. Ele queria algo daquela forma. E era uma questão de onde colocar o captador, em qual ponto abaixo das cordas. É algo técnico.
Ele dizia que os captadores não ficavam no lugar certo nas guitarras, então, ele os movia. Ficava com um visual bem individual, mas o que realmente tornava o som peculiar era a posição do captador. Era um centésimo de uma polegada de variação para obter o harmônico perfeito e o ‘brown sound’.”
Eddie Van Halen nos deixou no dia 6 de outubro de 2020, aos 65 anos. Ele lutou contra um câncer por anos.
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