Como o Rock in Rio de 1985 fez James Taylor abandonar aposentadoria

Cantor vivia momentos complicados na vida pessoal e profissional, mas sentiu-se revigorado após shows feitos no famoso evento

Quando chegou na metade da década de 80, o veterano James Taylor estava em um dos piores momentos de sua vida.

A parte profissional estava complicada: o artista estava com poucos shows e vinha de uma sequência de discos não muito aclamada. No âmbito pessoal, piorou. Ele havia se separado da também cantora Carly Simon, estava lidando com a morte de amigos próximos e parecia já sufocado pelo vício em drogas.

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A situação fez Taylor considerar seriamente a aposentadoria da carreira musical – até que surgiu o convite para que ele participasse do primeiro Rock in Rio, em janeiro de 1985.

Foram duas apresentações no evento. A primeira, segundo o próprio, mudou sua vida: ele foi escalado para o dia 12, o mesmo em que tocaram Ivan Lins, Gilberto Gil, Elba Ramalho, Al Jarreau e George Benson fechando a noite. Já a segunda data, no dia 14, o trouxe como atração principal.

James Taylor e Roberto Medina

O organizador do Rock in Rio, Roberto Medina, não teve vida fácil para contratar James Taylor. O cantor estava mesmo decidido a sair do ramo musical e a levar uma vida pacata longe dos holofotes.

Aliás, foi difícil para Medina fechar qualquer tipo de atração internacional em um primeiro momento. Conforme ele próprio contou em entrevista a Roberto D’Ávila, para a GloboNews, foi necessário envolver seu amigo pessoal Frank Sinatra na jogada e realizar uma conferência de imprensa que repercutiu o evento, antes mesmo de acontecer, como o “maior do mundo” – uma promessa que, na época, foi cumprida.

“Fui para os Estados Unidos contratar as bandas. Parecia simples, pois eu tinha o dinheiro… mas nada! Fiquei 60 dias em Nova York, montei um espaço fantástico para mostrar vídeos… nenhuma banda aceitou. Pensavam: ‘claro que não iria acontecer no Brasil… o Brasil tinha histórico de roubar equipamento nos poucos shows que rolaram, e vocês não pagam’. Eu falei: ‘caraca, mas estou aqui pronto para isso’.

Daí lembrei de pedir ajuda ao Frank Sinatra, que mandou o relações-públicas dele, Lee Solters, me ajudar. Fiz uma conferência de imprensa no hotel em que eu estava, Beverly Hilton. Lotou de jornalistas. No dia seguinte, todos os jornais americanos falavam: ‘o maior show de rock do mundo acontecerá no Brasil’. As bandas fizeram fila na porta do hotel. Todas que recusaram fizeram fila em Los Angeles.”

Nessa visita aos Estados Unidos, Roberto fechou em dois dias com todas as atrações internacionais do Rock in Rio 1985, começando na ordem por Ozzy Osbourne e Queen. A única exceção foi justamente James Taylor.

“Ele não tocava mais. Era uma ideia minha, mas ele tinha um problema de droga, parado com a música, foi para uma fazenda. Um cara que conhecia o James Taylor, com o casting já fechado, falou: ‘James Taylor é o cara certo’. Eu falei: ‘eu sei, mas ele não toca mais’. Ele disse: ‘mas sou amigo dele, vou no sítio dele e quero apresentar esse vídeo’. Relutei, mas ele pediu para esperar um dia. Foi e voltou com ele, que ressurgiu para a música, ele declara isso, a partir daquela mobilização. O cara vê 250 mil pessoas cantando a música dele… é incrível.”

Apenas Um Sonho no Rio

Ainda bem que James Taylor aceitou o convite. Diante de 250 mil pessoas, o artista realizou um show histórico naquela noite de 12 de janeiro. Não à toa, decidiu ali mesmo adiar a aposentadoria, além de ter se empolgado com a música brasileira e com a situação do país em si, que saía da ditadura militar e dava início a um novo período de democracia.

O repertório da primeira noite foi o seguinte:

  1. Long Ago and Far Away
  2. Carolina in My Mind
  3. Up on the Roof (cover de Carole King)
  4. You’ve Got a Friend (cover de Carole King)
  5. Shower the People
  6. Fire and Rain
  7. Mexico
  8. Walking Man
  9. Don’t Let Me Be Lonely Tonight
  10. Knock on Wood (cover de Eddie Floyd)
  11. How Sweet It Is (To Be Loved by You) (cover de Marvin Gaye)

Como homenagem à noite mágica que viveu no Rock in Rio, Taylor compôs a música “Only a Dream in Rio”, cujos versos falam diretamente dos sentimentos dele diante do público.

“I was there on the very day / And my heart came back alive” (“Eu estava lá naquele mesmo dia / e meu coração voltou vivo”).

Em entrevista de 1995, após retomar os bons rumos na carreira na segunda metade da década de 80, o cantor declarou mais uma vez o que sentiu durante a apresentação do Rock in Rio.

“Eu meio que cheguei no fundo do poço. Me pediram para ir até o Rio de Janeiro para tocar neste festival lá. Juntamos a banda, fomos para lá e a reação foi incrível. Eu toquei para 300 mil pessoas. Eles não apenas conheciam a minha música: eles sabiam coisas sobre ela e estavam interessados em aspectos dela que até aquele ponto só interessavam a mim. Ter esse tipo de validação bem quando eu estava realmente precisando dela. Isso me ajudou a voltar aos trilhos.”

James Taylor gostou tanto do Brasil que retornou para shows em outras cinco ocasiões: 1986, 1993, 1994, 2001 (novamente no Rock in Rio) e 2017. Além disso, voltou a lançar discos, com “That’s Why I’m Here” (que contém “Only a Dream in Rio”) saindo em outubro daquele mesmo ano de 1985.

Ele definitivamente estava de volta.

* Texto por André Luiz Fernandes e Igor Miranda, com pauta e edição por Igor Miranda.

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André Luiz Fernandes
André Luiz Fernandes
André Luiz Fernandes é jornalista formado pela Universidade Metodista de São Paulo (UMESP). Interessado em música desde a infância, teve um blog sobre discos de hard rock/metal antes da graduação e é considerado o melhor baixista do prédio onde mora. Tem passagens por Ei Nerd e Estadão.

1 COMENTÁRIO

  1. Boa tarde, André. Seu relato mantém minha fé de que o brasileiro se importa com sua história e participa.ativamente na valorização do indivíduo. James Taylor foi um ícone dos anos 80, e não somente sua carreira, mas sua vida foi salva pelo público brasileiro. Outros artistas como Axl Rose e abril Lavigne reconhecem que shows no Brasil mudaram o rumo de suas vidas. Somos um povo que ama e transmite esse amor. Agradeço por sua coluna.

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