A história do álbum de estreia do The Doors, gravado em seis dias de 1966

Recém-chutados do Whisky a Go Go, banda fez basicamente um "ao vivo em estúdio" em seu primeiro trabalho gravado

Em apenas seis dias (com uma pausa no fim de semana) de agosto de 1966, o The Doors, ainda uma jovem banda de Los Angeles, conseguiu entrar para a história da música. Seu álbum de estreia homônimo, lançado em 4 de janeiro de 1967, é um dos debuts mais icônicos de todos os tempos – não só pelos hits, mas por capturar a essência do grupo de forma crua e direta.

Jim Morrison (voz), Ray Manzarek (teclados), Robby Krieger (guitarra) e John Densmore (bateria) estabeleceram-se como quarteto e logo se tornaram a “banda da casa” da famosa boate Whisky a Go Go, na região da Sunset Strip. Apesar disso, antes das gravações do disco de estreia, o momento não era bom: eles já haviam perdido um contrato com uma gravadora e tudo indicava que a casa noturna também os dispensaria.

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Felizmente, o fundador da Elektra Records, Jac Holzman, surgiu em cena antes disso. Impressionado com um show, ele ofereceu um contrato ao grupo e agendou seis dias no Sunset Sound Recorders, estúdio em Hollywood, para que o primeiro álbum fosse feito.

Antes disso, a tal dispensa do Whisky a Go Go realmente rolou. A banda deixou de ser atração da casa após Jim Morrison, sob efeito de LSD, inserir um poema baseado em Édipo Rei no meio da música “The End”.

Acendendo o fogo

Para auxiliar o The Doors nas gravações, foram recrutados o produtor Paul A. Rothchild e o engenheiro de som Bruce Botnick. Tudo foi feito da forma mais direta e simples possível, como relembrou o tecladista Ray Manzarek no documentário “Classic Albums: The Doors”.

“O primeiro álbum era basicamente o The Doors ao vivo. Pouquíssimos overdubs foram feitos. É como ‘The Doors ao vivo no Whisky a Go Go’… exceto que era em um estúdio de gravação.”

Havia outra pequena diferença: em pelo menos seis faixas do trabalho, a banda contou com o baixista Larry Knechtel, da onipresente Wrecking Crew, atuando sem créditos. O músico foi recrutado por Rothchild para melhorar o som do baixo da banda, que era feito apenas no teclado por Manzarek.

O disco abre com a clássica “Break on Through (To the Other Side)”, que curiosamente não emplacou de primeira e só atingiu a 126ª posição nas paradas americanas, e ainda tem sucessos como a já citada “The End” e “Light My Fire”, a primeira criação do guitarrista Robby Krieger, nascida após uma discussão a respeito de composições com Jim Morrison.

Das onze faixas do repertório do disco, nove eram autorais. As outras duas que completavam a tracklist eram covers: “Alabama Song (Whisky Bar)”, de Bertolt Brecht, e “Back Door Man”, de Willie Dixon.

Tudo isso foi registrado em menos de uma semana. E ainda deu tempo de gravar duas músicas que não entraram no álbum original: “Moonlight Drive” e “Indian Summer”, sendo esta a última a ser concluída.

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Apagando o fogo

O disco de estreia do The Doors é encerrado por “The End”, o épico de 11 minutos e meio que acabou causando problemas no Whisky a Go Go. A versão final do álbum é o resultado de dois takes, assim como aconteceu com “Light My Fire” – só que, de novo, Jim Morrison acabou passando dos limites com essa música.

Após um primeiro take desastroso, mais uma vez por culpa do LSD, o “Rei Lagarto” conseguiu se sair bem na segunda tentativa. Os trabalhos daquele dia foram encerrados em seguida e todos foram embora do estúdio.

O problema é que Jim, ainda sob efeitos do alucinógeno, queria continuar gravando. A partir daí, relatos variados dão conta de que ele voltou sozinho ao local, pulou o portão e descarregou um extintor de incêndio na sala onde a banda tocava.

Nada foi muito danificado, especialmente na sala de gravação, onde ficavam as fitas. Coube à Elektra Records pagar o prejuízo ao estúdio. Morrison, por sua vez, jurava não se lembrar de ter feito aquilo – todavia, era óbvio que tudo aquilo havia sido feito por ele, em uma “traquinagem” típica de suas performances ao vivo mais ensandecidas.

Apenas o começo

Capa do álbum homônimo do The Doors

A repercussão do álbum de estreia do The Doors foi positiva, mas o trabalho não estourou de imediato. A escolha por “Break on Through (To the Other Side)” como primeiro single não se provou certeira, conforme já destacado. As vendas só deslancharam quando “Light My Fire” foi promovida no formato de compacto, já em abril, e atingiu o primeiro lugar das paradas americanas.

Além das boas vendas, representadas pelas mais de 4 milhões de cópias comercializadas em todo o mundo, o disco foi influente e importante no cenário do rock psicodélico da década de 1960. Chegou ao ponto de influenciar os Beatles, conforme o próprio Paul McCartney admite, no aclamado álbum “Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band”, lançado meses depois.

Embora tenha feito outros bons trabalhos nos anos seguintes, o The Doors não conseguiu repetir os feitos de seu registro inaugural. Infelizmente, não houve muito tempo para que a banda apresentasse outros materiais: cinco anos depois, em 1971, Jim Morrison morreu em circunstâncias que até hoje não foram devidamente esclarecidas.

* Texto por André Luiz Fernandes, com pauta e edição por Igor Miranda.

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André Luiz Fernandes
André Luiz Fernandes
André Luiz Fernandes é jornalista formado pela Universidade Metodista de São Paulo (UMESP). Interessado em música desde a infância, teve um blog sobre discos de hard rock/metal antes da graduação e é considerado o melhor baixista do prédio onde mora. Tem passagens por Ei Nerd e Estadão.

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