Bryan Adams está tão feliz que chega a doer. Um dos artistas que mais venderam discos na história lança nesta sexta-feira (11) o álbum “So Happy it Hurts”, o décimo-quinto trabalho de inéditas de sua carreira. Com o avanço da vacinação pelo mundo, também teve a oportunidade de voltar à estrada, inicialmente para uma temporada de shows em Las Vegas ainda no fim de 2021 e agora para uma turnê por Europa e Reino Unido que está rolando neste momento.
E não é só isso. Em entrevista exclusiva a IgorMiranda.com.br, o artista canadense revelou que está prestes a lançar mais dois trabalhos inéditos. Para um workaholic como ele, todas essas realizações são sinônimo de felicidade.
“Foi uma grande surpresa ser tão produtivo durante um período de tanta tragédia, mas gravei ao todo três álbuns durante esse período. Março de 2022 será um período muito emocionante com os lançamentos de ‘So Happy it Hurts’, das minhas versões de ‘Pretty Woman – The Musical’ (nota do editor: já disponível nas plataformas digitais) e de ‘Classic’, primeira parte das regravações de alguns clássicos meus. Como você pode ver, eu estive meio ocupado!”
Esteve mesmo. Adams, hoje com 62 anos, optou por gravar as doze músicas de “So Happy it Hurts” praticamente sozinho ao longo de 2021. Após compor o material via FaceTime em parceria com o produtor Robert John “Mutt” Lange (AC/DC, Def Leppard, Shania Twain), com quem trabalhou no passado em “Waking Up the Neighbours” (1991) e “18 til I Die” (1996), ele resolveu registrar por conta própria as vozes e todos os instrumentos das novas canções.
“Não posso falar por outros artistas, mas o fato de os tempos terem mudado (na indústria musical) não me impediu de compor músicas. E depois de compor algumas músicas, é hora de voltar ao estúdio. No entanto, durante esse período, não consegui reunir a banda devido à pandemia, então gravei todos os instrumentos e tive Keith Scott adicionando alguns solos de guitarra pela internet. Isso foi um desafio e ao mesmo tempo uma inspiração, porque sempre que você se esforça para fazer algo diferente, algo novo surge. Além disso, foi muito divertido fingir ser John Bonham.”
Músicas para grudar na mente
Como vários outros trabalhos de Bryan Adams, a sensação deixada ao ouvir “So Happy it Hurts” é a de que todas as músicas são singles em potencial. Qualquer uma delas poderia rolar nas rádios.
Quatro delas foram lançadas no formato promocional. Nenhuma é balada, diga-se de passagem. São elas:
- a faixa-título, com seus maneirismos típicos de Mutt Lange;
- “On the Road”, composta para o lançamento do calendário Pirelli – que traz fotos feitas pelo próprio Bryan);
- “Kick Ass”, um mergulho no rock and roll old school;
- e “Never Gonna Rain”, uma composição tão otimista quanto a faixa-título, mas que transita por um campo harmônico mais arrojado.
Claro que entre as outras oito canções, há baladas feitas no capricho, como “You Lift Me Up”, “Let’s Do This”, “These Are the Moments That Make Up My Life” e “Just Like Me, Just Like You” – esta, com forte influência do country. Ainda há momentos que saem um pouco do trivial, como a rockabilly “I’ve Been Looking for You”, a quase-reggae “Always Have, Always Will” e o hard rock “I Ain’t Worth Shit Without You”, com direito a um cowbell que remete diretamente ao rock de rádio dos anos 1980.
“So Happy it Hurts” no detalhe
Durante o bate-papo, Bryan Adams explicou o grande diferencial deste novo álbum, na comparação com o antecessor “Shine a Light” (2019):
“Estou tocando todos os instrumentos em ‘So Happy it Hurts’ e fiz tudo no ano passado, enquanto ‘Shine a Light’ foi todo articulado em torno de sua faixa-título e traz músicas que gravei antes e nunca havia lançado. Ah, também gravei (o cover) ‘Whiskey in the Jar’ na mesma sessão da faixa-título de ‘Shine a Light’.”
Quanto à música que dá nome ao novo trabalho, ele contou qual foi o momento em que percebeu que ela teria tamanho destaque – a ponto de batizar o disco:
“Foi durante o processo de composição. Eu tinha o refrão de ‘So Happy it Hurts’ na minha cabeça por um tempo e o interessante é que composição é realmente um processo. É um quebra-cabeça onde está sempre faltando uma peça… até você encontrá-la. Gravei a música em etapas, guitarra e vocal primeiro, depois adicionei bateria, depois baixo, mas não foi até compor o verso que eu sabia que a música estava indo para algum lugar. Então, imagine uma música esperando para acontecer.”
A também otimista “Never Gonna Rain”, por sua vez, é como uma faixa totalmente avessa ao obscuro período pandêmico.
“Não foi só por causa da pandemia, mas o distanciamento social realmente me deu mais tempo para criar músicas. ‘Never Gonna Rain’ é muito sobre transformar os pontos negativos em positivos, pegar a chuva e transformá-la em um presente. Parece funcionar muito bem ao vivo também.”
Sobre a veia roqueira que surge em faixas como “Kick Ass”, “I’ve Been Looking for You” e “I Ain’t Worth Shit Without You” – e o fato de Bryan não ser visto por tanta gente como um artista de rock –, ele pontuou:
“Não posso dizer o que as rádios escolheram para tocar no Brasil, mas eu sei que ‘Heaven’ costumava tocar em um programa de televisão lá nos anos 90, e foi aí que tudo começou. Mas sim, meus álbuns são principalmente rock, e às vezes rockabilly como ‘I’ve Been Looking for You’, mas eu sempre adiciono algum momento lento para obter um bom contraponto. Dinâmica é importante em shows e é por isso que eu sempre compus músicas em ambos tempos.”
Ainda em uma pegada mais rock and roll, “On the Road” chama atenção por sua proposta multiartística. Como já citado, Adams compôs a faixa especificamente para o Calendário Pirelli 2022, que o traz como fotógrafo. Para a ocasião, ele clicou colegas de música como Iggy Pop, Rita Ora, Cher, St. Vincent, Kali Uchis, Grimes e Normani, entre outros. O canadense, vale destacar, tem um extenso currículo no segmento das artes visuais.
“Fiz até as fotos de uma matéria para a revista ‘Vogue’ brasileira alguns anos atrás. Mas sim, foi uma ótima ocasião fotografar o calendário da Pirelli. Eles adoraram meu tema de ‘On the Road’, ao conectar músicos a isso, já que estar na estrada era a única coisa que não podíamos fazer (na pandemia). Eles gostaram tanto que me pediram para compor uma música para o calendário, pois precisavam unir o artista e a música de alguma forma, e usaram a música também no lançamento do calendário em novembro de 2021.”
Sobre Brasil
Desde quando estourou para o mundo na década de 1980, Bryan Adams é um artista de sucesso também no Brasil. Porém, seus primeiros shows no país ocorreram apenas em 2007, retornando em 2017 e 2019. Ele chegou a vir para fazer programas de TV nos anos 1990, mas nada como estar por aqui em turnê.
“Dei uma olhada no meu Instagram outro dia e o segundo país de onde mais tenho seguidores é o Brasil, mais até do que o Canadá! Parece que nossa popularidade está crescendo como atração ao vivo na América do Sul, não tenho ideia do motivo pelo qual demorou tanto para ir até aí e fazer shows. Lembro-me que também fui nos anos 1990, mas era apenas para programas de TV. Eu sempre quis tocar no Rock in Rio, mas nunca aconteceu.”
O artista pretende retornar ao país para promover “So Happy it Hurts”. Em função da pandemia, pode demorar.
“Eu adoraria voltar ao Brasil. Espero que dê certo no ano que vem. Com exceção das turnês marcadas no momento, toda a divulgação do álbum é via internet. É desafiador porque não sabemos o que os governos vão fazer para permitir que as pessoas se reúnam. Acabamos de perder metade de nossa recente turnê europeia porque alguns governos permitiriam apenas 25% da capacidade nos locais. Foi uma coisa interessante porque aqui estivemos em Espanha e Portugal em casas cheias, com as pessoas de máscara, daí seguimos para o próximo país e está fechado!”
Em tempo, um desabafo por parte do cantor:
“Acredito que estamos chegando ao fim dessa bagunça, além disso as pessoas estão fartas de todas as regras e regulamentos estúpidos, como precisar usar uma máscara em um restaurante até que sua comida chegue, daí você pode tirá-la – é tão bobo. Fazer shows foi realmente ótimo, tocamos para 16 mil pessoas em Lisboa com todos usando máscara. Foi bem surreal, mas é o pontapé inicial para todos.”
Um verão de bilhão
O portfólio de hits de Bryan Adams inclui tantas músicas que às vezes é difícil dizer qual é o maior sucesso. Mas dá para citar “Summer of ‘69” como um dos grandes destaques. O quarto single do disco “Reckless” (1984) é a canção mais ouvida do canadense no Spotify, com 736 milhões de streams até o fechamento desta matéria.
Como não demora até chegar a um bilhão de plays – até porque ela é figurinha carimbada em quase todas as playlists oitentistas na plataforma –, pedi para que Bryan comentasse um pouco sobre essa obra. As lembranças são vívidas.
“Eu a compus com Jim Vallance em algum momento no final de 1983 ou início de 1984 em um porão em Vancouver. Originalmente o título seria ‘The Best Days of My Life’ (‘Os Melhores Dias da Minha Vida’), mas no último momento, lancei a ideia de 69. Gostei da conotação quase sexual de 69 e da aliteração de ‘summer’ e ‘sixty-nine’. No final, a música ficou rica em arrependimentos e sentimentos de perda da inocência, a promessa quebrada da juventude, um olhar agridoce sobre o amor precoce e a nostalgia de um verão do primeiro amor, mas não é sobre o ano de 1969.”
Bryan Adams e… Kiss!
E já que o assunto é composição: pouca gente sabe, mas Bryan Adams chegou a trabalhar com o Kiss enquanto compositor no início da década de 1980. Mais especificamente, ele emplacou duas músicas ao lado de seu parceiro criativo Jim Vallance no álbum “Creatures of the Night”, de 1982. São elas: “War Machine”, frequentemente tocada pelo grupo em shows, e “Rock and Roll Hell”, obra de Vallance lançada antes pelo Bachman-Turner Overdrive (BTO) que acabou reaproveitada em nova versão.
Sobre a primeira, que virou uma das favoritas dos fãs de Kiss, ele diz:
“A ‘War Machine’ surgiu de um riff de Gene (Simmons, vocalista e baixista). Fiz sozinho uma gravação dela na minha máquina de cassetes e toquei para Jim Vallance. Depois criamos a música em torno do riff de Gene. Eu criei o título da música, pois queria criar uma música sobre um dos tópicos mais pesados que eu poderia pensar: guerra.”
Quanto a “Rock and Roll Hell”, ele relembra:
“‘Rock and Roll Hell’ foi originalmente composta por Jim Vallance e lançada pelo BTO alguns anos antes desta versão (nota do editor: no álbum ‘Rock n’ Roll Nights’, de 1979). Sempre adorei o refrão e quando surgiu o projeto do Kiss, sugeri ao Jim que reescrevêssemos os versos para contar uma história melhor. Reduzimos o ritmo para encaixar com outras músicas que estávamos escrevendo na época, como ‘Fits Ya Good’.
Enviamos para Gene, que gostou tanto da música que escreveu um terceiro verso para ela. Nem Jim nem eu achávamos que a música precisava de um terceiro verso, mas o ultimato era: um terceiro verso entra ou o Kiss não gravaria a música. Optamos pelo terceiro verso.”
E não para por aí: Bryan e Jim criaram uma terceira música, “Don’t Leave Me Lonely”, ao lado do então baterista da banda, Eric Carr, falecido em 1991. A faixa não chegou a ser aproveitada pelo grupo, mas Adams, que de bobo não tem nada, gravou-a em seu terceiro disco solo, “Cuts Like a Knife”, de 1983.
“’Don’t Leave Me Lonely’ era um título de Eric Carr e eu gostei da aliteração de ‘leave’ / ‘lonely’. Jim e eu criamos a música e a apresentamos à banda, mas infelizmente eles não a usaram.”
Bryan Adams – “So Happy it Hurts”
Lançamento em todas as plataformas digitais em 11 de março de 2022, pela gravadora BMG.
- So Happy it Hurts
- Never Gonna Rain
- You Lift Me Up
- I’ve Been Looking for You
- Always Have, Always Will
- On the Road
- Kick Ass
- I Ain’t Worth Shit Without You
- Let’s Do This
- Just Like Me, Just Like You
- Just About Gone
- These Are the Moments That Make Up My Life
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