Trinta milhões de álbuns vendidos em todo o mundo, lugar garantido em diversas listas de maiores guitarristas de todos os tempos e o reconhecimento de gigantes do ofício, como Jimi Hendrix — ainda assim, o nome de Rory Gallagher parece não ser lembrado como deveria e sua importância reconhecida pelos admiradores das seis cordas.
William Rory Gallagher nasceu no dia 2 de março de 1948, em Ballyshannon, Irlanda. Filho de músicos — mãe cantora e pai acordeonista —, ganhou seu primeiro violão aos 9 anos. Aos 12, venceu um concurso de talentos local e usou o prêmio em dinheiro para comprar sua primeira guitarra. Ainda jovem, aprendeu saxofone, banjo e bandolim e juntou-se ao The Fontanas, que embalava bailes e dance clubs tocando os hits da época.
Em 1966, com Charlie McCracken (baixo) e John Wilson (bateria), formou o Taste. O projeto duraria quatro anos e deixaria três álbuns gravados.
Na sequência, deu início à sua carreira solo. Lançou em vida um total de onze álbuns de estúdio. Nos deixou em 14 de junho de 1995, em Londres, aos 47 anos, devido a complicações pós-operatórias ocasionadas por um transplante de fígado.
Confira abaixo cinco discos para conhecer sua obra.
Cinco discos para conhecer Rory Gallagher
“Taste” (com a banda Taste, 1969)
Depois de um período tocando com o The Fontanas na Alemanha, Rory Gallagher uniu forças com McCracken (que trazia na bagagem parcerias com Steve Winwood e o Spencer Davis Group) e Wilson (ex-Them), ambos norte-irlandeses, e montou acampamento em Londres, tornando-se habitué do lendário Marquee Club e obtendo destaque em meio à efervescente cena local.
O álbum de estreia homônimo do Taste exibe Gallagher em seus vinte e poucos anos já um brilhante guitarrista, cantor e compositor. O eclético repertório vai do rock de vanguarda de “Blister on the Moon” a releituras de blues do início do século 20: “Catfish”, “Sugar Mama” e “Leaving Blues”, este último de autoria de Huddie Ledbetter, o Lead Belly.
“Rory Gallagher” (1971)
Ao chamar o Taste de “Cream irlandês” e colocar Rory Gallagher no mesmo patamar de Eric Clapton, a imprensa britânica foi indiretamente responsável por fazê-lo partir em carreira solo.
Por pouco seu álbum de estreia homônimo não contou com Noel Redding e Mitch Mitchell, a cozinha do Jimi Hendrix Experience. Lá pelas tantas, acabou optando pelo baterista Wilgar Campbell e pelo baixista Gerry McAvoy.
Ecletismo é novamente a palavra-chave, não obstante se perceba que, solo, Gallagher promove uma mistura ainda mais homogênea entre o rock e o blues. Que o diga a faixa de abertura, “Laundromat”, composta durante os últimos dias de Taste sobre os primórdios do trio quando dormiam no chão de uma lavanderia motivados tão somente pela possibilidade de que a sorte lhes sorrisse mais cedo ou mais tarde.
Há espaço ainda para o jazz (“Can’t Believe It’s True”, com direito a Rory no saxofone) e dois números acústicos: “Just the Smile” e “Wave Myself Goodbye”.
“Irish Tour ‘74” (1974)
O segundo álbum ao vivo de Rory Gallagher talvez seja o título mais celebrado de sua discografia. Utilizando a unidade móvel de gravação de Ronnie Lane (The Small Faces), o guitarrista registrou três shows de seu giro pela Irlanda em janeiro de 1974, compilou o que de mais sui generis havia neles e incluiu, como cereja do bolo, “Back on My Stompin’ Ground (After Hours)”, gravada durante uma jam session de aquecimento do mesmo período.
“Irish Tour ‘74” é um testemunho de Gallagher em seu momento mais avassalador e acompanhado do que muitos consideram sua melhor banda de apoio: Gerry McAvoy no baixo, Rod De’Ath na bateria e Lou Martin nos teclados.
Sucesso comercial, vendeu mais de dois milhões de cópias em todo o mundo e rendeu, também em 1974, um filme de mesmo nome, dirigido por Tony Palmer e cuja estreia se deu no prestigiado Cork International Film Festival, apresentando sua obra para um público totalmente novo.
“Calling Card” (1976)
Apesar dos bons números obtidos com “Irish Tour ‘74”, o ano de 1975 viu Rory Gallagher trocar a Polydor pela Chrysalis. “Calling Card”, segundo álbum do guitarrista pela gravadora, foi o último a contar com De’Ath e Martin.
Produzido pelo então ex-Deep Purple Roger Glover, o disco foi gravado no Musicland, em Munique — outrora segundo lar do Purple — e consiste na mais nítida tentativa de Gallagher de se estabelecer entre os ases das seis cordas do hard rock.
No repertório de nove faixas, nenhum cover e destaque para “Moonchild”, que ao vivo se tornaria um dos pontos altos de seu show e permaneceria nos setlists até suas derradeiras apresentações às vésperas de sua morte, em 1995.
“Defender” (1987)
A reedição em CD do décimo e penúltimo álbum de estúdio de Rory Gallagher trazia um adesivo com duas citações de peso.
Na primeira, Eric Clapton atribuía ao irlandês o mérito de fazê-lo voltar para o blues. Na segunda, Cameron Crowe, cineasta e ex-jornalista da Rolling Stone, conferia ao guitarrista o poder de estabelecer uma conexão com a alma do ouvinte através de sua música.
“Defender” marcou o retorno de Gallagher depois de cinco anos sem material inédito. Ele compensou a espera dando atenção a cada mínimo detalhe: do uso de cinco estúdios diferentes a uma reunião com o velho companheiro Lou Martin em “Seven Days”; de uma faixa inspirada nos contos de Continental Op da década de 1920 à regravação de “Don’t Start Me Talkin’”, clássico do R&B imortalizado na voz de Sonny Boy Williamson II.
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