Ratos de Porão escancara feridas de um Brasil sufocado em “Necropolítica”

Novo álbum surge em cenário que mistura realidade nua e crua com absurdo quase anedótico, porém muito verdadeiro

Antes mesmo de se saber que o Ratos de Porão estava gravando um novo álbum, a expectativa já era grande. João Gordo (vocais), Jão (guitarra), Juninho (baixo) e Boka (bateria) tinham muito a dizer com a situação do país e do mundo nos últimos tempos. Tal qual em 1989, quando a banda lançou o icônico “Brasil”, a nação se desintegra em um caldeirão que reúne inflação, fome, desemprego e reacionarismo neoliberal.

Porém, desta vez há um agravante gigantesco: a pandemia de Covid-19, que já dizimou quase 700 mil vidas (fora subnotificações) no país, tendo o apoio do negacionismo oficializado governamental como trunfo.

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“Necropolítica” surge neste cenário que mistura a realidade nua e crua com um absurdo quase anedótico, porém muito verdadeiro. Não à toa, as letras são críticas e provocativas na mesma medida.

Some a isso o crossover que caracteriza o quarteto nas últimas décadas e temos um dos trabalhos mais peculiares de toda a discografia do grupo. Fica até difícil encaixá-lo em um contexto analítico em frente aos anteriores, já que se trata de um manifesto mais amplo, refletindo o momento que vivemos.

Desde quando os títulos das faixas foram divulgados – e deixemos claro que “Neo Nazi Gratiluz” é um dos melhores da história da música brasileira em qualquer estilo – os fãs já puderam ter uma ideia do que viria pela frente. Eles são apenas a carta de apresentação das 10 faixas que percorrem os 31 minutos da audição. Até pela característica quase conceitual, é importante ouvir a obra do início ao fim e absorver a mensagem.

“Necropolítica” – termo difundido pelo filósofo, teórico político e historiador camaronês Achille Mbembe simbolizando um recurso do Estado como poder instituído que cria um discurso no qual referenda quem está mais suscetível à morte, geralmente minorias ou população em situação de vulnerabilidade – está saindo em CD via Shinigami Records e vinil via Fuzz On Discos. E sim, a capa é inspirada em “Sabbath Bloody Sabbath”, clássico do Black Sabbath.

Ouça “Necropolítica” a seguir, via Spotify, ou clique aqui para conferir em outras plataformas digitais.

O álbum está na playlist de lançamentos do site, atualizada semanalmente com as melhores novidades do rock e metal. Siga e dê o play!

Ratos de Porão – “Necropolítica”

  1. Alerta Antifacista
  2. Aglomeração
  3. Passa Pano Pra Elite
  4. Necropolítica
  5. Guilhotinado em Cristo
  6. O Vira Lata
  7. G.D.O
  8. Bostanágua
  9. Intubado
  10. Neo Nazi Gratiluz

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João Renato Alves
João Renato Alveshttps://twitter.com/vandohalen
João Renato Alves é jornalista, 40 anos, graduado pela Universidade de Cruz Alta (RS) e pós-graduado em Comunicação e Mídias Digitais. Colabora com o Whiplash desde 2002 e administra as páginas da Van do Halen desde 2009. Começou a ouvir Rock na primeira metade dos anos 1990 e nunca mais parou.

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