Antes da primeira edição do Rock in Rio, em 1985, shows internacionais no Brasil eram raros. Então, quando o prodígio do rock progressivo Rick Wakeman anunciou que se apresentaria no país, a reação foi grande.
Wakeman foi integrante chave na era de ouro do Yes, um dos maiores grupos de rock progressivo da história. Suas contribuições musicais aos discos “Fragile” (1971) e “Close to the Edge” (1972) ajudaram a fazer do grupo um dos maiores do mundo na época.
Mas ser parte de uma banda não era o suficiente. Após atingir grande sucesso com “The Six Wives of Henry VIII” (1972) e “Journey to the Centre of the Earth” (1974), álbuns solo que introduziram ao público o conceito de rock sinfônico, Rick deixou o Yes para trabalhar por conta própria.
E foi com o espetáculo de “Journey to the Centre of the Earth” que Wakeman veio ao Brasil em dezembro de 1975.
A viagem ao centro da Terra
Promovendo o disco ao vivo baseado no livro de Júlio Verne, as apresentações contaram com a English Rock Ensemble, banda de apoio de Rick Wakeman, além de participações ilustres da Orquestra Sinfônica Brasileira – fazendo o acompanhamento orquestral nos shows no Rio de Janeiro e São Paulo –, da Sinfônica de Porto Alegre, do Coral da Universidade Gama Filho e do ator Paulo Autran, que fez a narração em português.
O maestro Isaac Karabtchevsky, que regeu todos os concertos da turnê no Brasil falou a’O Globo sobre suas impressões sobre a arte do britânico:
“Considero Wakeman um dos músicos mais completos da música popular em todo o mundo.”
Os shows tinham uma infraestrutura incomum aos espetáculos da época. Eram mais de 18 toneladas de equipamento, incluindo uma mesa de som com 285 canais. Juntando a isso o espetáculo de luzes e projeções, foram necessárias mais de 70 pessoas trabalhando nos bastidores das apresentações no Maracanãzinho (Rio de Janeiro), no Ginásio da Portuguesa (São Paulo) e no Gigantinho (Porto Alegre).
Organizadas pelo Projeto Aquarius da Globo, as apresentações atraíram mais de 100 mil pessoas ao todo nas três cidades, fazendo os organizadores anunciarem datas adicionais. O sucesso foi tamanho que tanto o álbum “Journey to the Centre of the Earth” quanto o sucessor “The Myths and Legends of King Arthur and the Knights of the Round Table” foram premiados com disco de ouro no Brasil.
Uma pelada em meio à muvuca
Os shows não foram o único espetáculo proporcionado por Wakeman e cia no Brasil. Desafiados a uma partida de futebol por um grupo de artistas brasileiros que incluíam Jorge Ben, Paulinho da Viola, Odair José e o apresentador de telejornal Sérgio Chapelin, os músicos ingleses colocaram quatro mil pessoas para assistir nas arquibancadas do Estádio das Laranjeiras a uma boa e velha pelada.
Rick marcou dois gols, mas os brasileiros levaram o jogo com folga e a torcida invadiu o campo ao final, fazendo a saída dos ingleses do clube mais difícil.
Ao deixar o Brasil no fim da turnê, Wakeman prometeu voltar mais vezes, o que fez ao longo dos anos. Também a’O Globo, ele resumiu a experiência:
“Os shows de 1975 ficarão em meu coração e memória pelo resto da vida. Não dá para colocar em palavras como foi especial aquele momento. Agradeço muito a todo mundo que fez daquilo algo tão especial.”
* Texto por Pedro Hollanda, com pauta e edição por Igor Miranda.
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Muito bom lembrar de tudo isso,numa época em que apenas o Alice Cooper tinha vindo ao Brasil antes.
Apenas uma correção,Rick Wakeman não participa do THE YES ALBUM ,nesse o tecladista era o Tony Kaye.
Assisti o show no ginásio da Portuguesa, uma seção extra de domingo a tarde, foi espetacular, orquestra e coral com toda pompa de um show erudito. Um detalhe que foi também inesquecível para mim, foi o engenheiro de som testando os teclados antes do show, a cada, poucas, notas tocadas em cada aparelho, era ovacionado pelo público.