Com 28 anos de carreira, o Claustrofobia passou por vários momentos dentro do mercado musical. A banda surgiu ainda muito jovem e com força até mesmo na mídia nacional, aparecendo para o país através do “Fúria” (já não mais levando o complemento Metal no nome), programa tradicional da MTV Brasil.
O tempo passou, mudanças vieram – inclusive de país – e, recentemente, saiu o novo álbum, “Unleeched”. O trabalho marca uma nova etapa na carreira do grupo: é o primeiro disco completo com o baixista Rafael Yamada. E ele já teve atuação destacada no processo, como revela o vocalista e guitarrista Marcus D’Angelo com exclusividade.
“Sim, o Rafael entrou em 2018, e a banda já tinha intenção de fazer mais um disco, o bonde não para, né. Mas, obviamente, não dava pra gente sair compondo algo sem se conhecer. É difícil entrar no organismo de uma banda com mais de 25 anos, tanto pelo lado da inspiração, quanto pela aceitação dos fãs. Então, a gente precisava desse entrosamento, e ele entender como é nosso conceito de composição, forma de encarar a música.
Ele entrou no meio de um furacão, com um monte de coisas acontecendo e vários compromissos. Isso foi bom, porque ele entrou e a gente já fez uma turnê no Brasil, que foi ótima e na sequência a gente veio pros Estados Unidos. A gente fez mais de 70 shows, convivemos juntos e aconteceu muita coisa, foi bem intenso. Aí fizemos o Rock in Rio e mais uma turnê brasileira. Logo antes disso, lançamos o single Vira-Lata, que foi importante pra gente trabalhar junto.”
Como aconteceu com todos os artistas, a pandemia atrasou planos. Porém, o trio – completado pelo baterista Caio D’Angelo, irmão de Marcus – acabou conseguindo usar o tempo disponível a favor.
“A gente já planejava fazer esse álbum em 2020, e nesse caso a pandemia nos ajudou: a gente tava morando todo mundo junto, então fizemos o álbum com os 3 presentes no processo inteiro. A gente continuou na mesma forma de composição, eu e irmão capitaneando, mas a presença do Rafael trouxe uma energia nova, dando algumas ideias de letras e riffs que foram importantes, agregou muito. Eu acredito que com o tempo vamos ter muito mais essa interação e isso vai trazer coisas novas.”
Disposição para experimentar
“Unleeched” mantém uma constante: apesar da fidelidade às raízes, o Claustrofobia sempre se dispôs a experimentar. Um exemplo do novo trabalho é a faixa “2020 (March to Glory)”, com arranjos vocais e instrumentais que fogem do esperado e surpreendem positivamente. Também há o uso de guitarra de 7 cordas pela primeira vez.
“No começo a gente era muito inexperiente, mais moleque. Íamos vivendo e fazendo na raça, sem pré-produção. Conforme fomos pegando estrada, conhecendo bandas maiores e saindo do país, fomos nos profissionalizando, evoluindo essa identidade. E a gente sempre teve cabeça aberta mesmo dentro de um estilo específico, querendo flertar com algumas outras coisas, mas de um jeito natural. E eu acho que a identidade do Claustrofobia sempre foi essa: trazer em cada álbum algo novo, sem perder a essência.
A ‘2020 (March to Glory)’ é um caso muito especial – é uma música que eu tinha no meu bolso, junto com várias outras ideias que eu toco no violão, músicas diferentes que não seriam para o Claustro. Meu irmão no último minuto insistiu pra gente trabalhar ela pro álbum novo, e ficou bem legal, bem diferente. Tentei colocar os vocais diferentes e limpos, coisa que eu nunca tinha feito. Foi uma grande experiência que abriu outras portas pra gente musicalmente.
E agregamos a guitarra de 7 cordas nas 4 primeiras músicas do disco e também ‘Snake Head’. Então mais da metade do álbum foi feito com a guitarra de 7 cordas, e com uma afinação diferente, mais grave. Para nós é super importante não se acomodar e ficar fazendo a mesma coisa, sempre tem que tentar algo novo. Mas isso também não significa que a gente nunca faça alguma coisa parecida com o passado.”
Gravações durante a pandemia
As gravações de “Unleeched” ocorreram em Los Angeles no mês de agosto de 2020. Ou seja, era um momento de alta periculosidade por conta da pandemia. Mesmo morando em Las Vegas, o Claustrofobia precisou enfrentar algumas restrições para ir de um estado ao outro.
“Foi o momento mais crítico da pandemia, mas nos cuidamos muito. Tomamos todos os cuidados e ficamos isolados dentro do estúdio com o Adair, e gravamos o álbum todo em uma semana, com mais alguns dias depois para gravar os vocais de ‘2020 (March to Glory)’ e a versão cover do Pantera, a faixa bônus exclusiva do CD no Brasil. A gente acordava cedo e trabalhava até altas horas. Foi bom esse lado de ficar isolado só focado nisso, sem nada atrapalhando.”
Citado por Marcus D’Angelo, o produtor Adair Daufembach tem se destacado não apenas trabalhando com grandes nomes nacionais, mas também com estrangeiros. Como era de se esperar, ele acabou sendo fator preponderante nos resultados alcançados. Até mesmo um certo temor inicial foi superado.
“Foi sensacional trabalhar com o Adair. Eu, em particular, estava bem apreensivo de trabalhar com ele pelo fato dele ter uma concepção mais moderna e ter trabalhado mais com bandas de heavy metal melódico. Mas falamos pra ele isso, conversamos muito antes de fechar. A gente estava buscando algo diferente e mais contemporâneo. O Adair estava buscando algo mais orgânico – então a gente meio que se encontrou no meio do caminho, o que foi muito interessante.
Ele realmente é um mestre no que se propõe, entende muito do equipamento. É um músico de alta qualidade, o que foi importante porque estávamos trazendo essa coisa mais de harmonia na parada. E ele pilota muito bem o lance do sinal, a fonte do áudio de onde está puxando pra gravar. Faz aquilo vir com a melhor qualidade possível, eu fiquei muito impressionado com a forma que ele trabalha, e a eficiência que ele trabalha. Sem dúvida foi o melhor session de vocal que eu fiz, nunca cantei tão bem, devido a esse jeito que ele pilotava.”
O próprio grupo colaborou com o trabalho, tendo uma ideia bem definida do que buscava antes mesmo do início das sessões.
“Já chegamos com as coisas praticamente 95% prontas, sabendo o que queríamos. Mas claro, na hora que você vai gravar ali naquele momento especial, precisa de alguém de fora. E ele foi o cara perfeito. Além de pilotar e trazer esse som e ambiente perfeito, os toques e retoques dele de fora foram essenciais. Todo esse padrão de qualidade foi crucial pra deixar o álbum grandioso. A experiência foi ótima, a gente tá bem feliz com o resultado. Eu acho que o Brasil devia se orgulhar de ter um produtor desse nível do Adair.”
Saudade dos palcos
Mas um vazio não pôde ser contornado nos últimos dois anos. A saudade dos palcos bateu forte, como Marcus confirma.
“Foi terrível. O Claustrofobia é uma banda de palco, acima de tudo. Acho que nunca vamos conseguir passar o que somos no palco (mas já estamos pensando em como fazer isso no próximo álbum). Por outro lado, estávamos querendo tirar um tempo pra compor, a gente precisava lançar um disco significativo depois de tantos anos e tanta mudança, o que conseguimos fazer.
Fizemos 70 shows nos Estados Unidos em 2019. Agora está um pouco difícil de retomar, já que muita coisa do que tá acontecendo é o que foi remarcado e adiado inúmeras vezes nesses últimos dois anos. Então, perdeu um pouco o ritmo que estava indo, mas é o que é né? Só temos que agradecer por estarmos com saúde e com força pra continuar lutando.”
O que não mudou no Claustrofobia
Já são quase 30 anos de carreira, sete álbuns de estúdio, registros ao vivo, turnês por vários lugares do planeta e a mudança de país. Uma entrevista mais óbvia giraria em torno do que mudou. Mas, ao invés disso, questionamos Marcus sobre o que não se alterou desde 1994, no Leme, onde o Claustrofobia começou.
“Eu acho que o que não mudou foi o compromisso com a arte de fazer metal. Pra mim é uma necessidade na minha vida, como se fosse um alimento, preciso fazer isso. E a banda sempre seguiu esse compromisso, quis chegar em algum lugar e tá sempre buscando isso. A gente sempre manteve um foco e identidade de fazer o que acha certo e isso foi conquistando seguidores fiéis.
Isso nunca mudou. Eu tenho um objetivo na minha vida que é uma luz que eu sigo ali, vejo de longe e vou chegando cada vez mais perto. As coisas vão ficando mais claras e, no meio do caminho, acontecem inúmeras coisas que a gente vai aprendendo e pegando experiência. Então, essa paixão e compromisso nunca mudou. Já aconteceu de tudo, de eu chegar no fundo do poço e não ter coragem de desistir. Talvez um dia as prioridades mudem, mas o que nunca vai se alterar é a paixão e necessidade de fazer música. E ver as pessoas curtindo, e respeitando toda a correria e dificuldade de manter uma banda independente motiva a gente, ficamos mais empolgados.”
Próximos planos
Apesar das dificuldades, a luta do Claustrofobia continua. Os planos para o futuro já estão sendo feitos.
“O plano pro futuro é continuar lutando com as armas que temos, fazendo shows e músicas cada vez melhores. Não é fácil fazer tudo sozinho, e durante a pandemia cada um teve que cada um meio que correr por si pra sobreviver, não deu pra focar só na banda porque nada ia acontecer.
Nosso empresário agora veio também para os Estados Unidos por alguns meses e estamos retomando essa organização interna, voltando as conversas, renovando os objetivos. O álbum tá aí, veio na hora certa. O tempo vai dizer e a gente vai continuar lutando por dias melhores, representando o metal brasileiro sempre.”
“Unleeched” é um lançamento do selo Wikimetal Music, em conjunto com o selo americano Metal Assault Records. Ouça a seguir, via Spotify, ou clique aqui para conferir em outras plataformas de streaming.
Pantera em português
Recentemente, o Claustrofobia compartilhou uma versão em português da música “Strength Beyond Strength”, do Pantera.
A faixa, que passou a se chamar “Força Além da Força”, está disponível nas plataformas de streaming e ganhou também um clipe, dirigido pela própria banda. Confira abaixo.
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Lembro de ter visto os caras muito na MTV…MTV quando prestava!!!! A primeira vez que vi, notei que era cópia do MAX e CIA da era CAOS AD!!!! valeu