Neste dia 26 de junho de 2022, Gilberto Gil completa 80 anos de vida. O artista baiano faz parte daquele grupo de pessoas cuja existência extrapola apenas um domínio – não se restringindo, neste caso, ao da música ou da “arte” em geral, como seria mais simples resumir.
Ao mesmo tempo em que é participante de movimentos musicais diversos, da Tropicália que ajudou a realizar, do reggae brasileiro e das músicas baianas (ou não) que surgiram depois dele e de seus contemporâneos, Gil é também ocupante de lugares mais formais, da cadeira do Ministério da Cultura nos anos 2000 ao recente ingresso na Academia Brasileira de Letras (ABL). Em razão desses mesmos motivos, é um dos divulgadores – por que não produtor – a nível mundial de um imaginário a respeito da “cultura brasileira”, seja nos shows antológicos no Festival de Montreal, na vitória no Grammy com um disco de “world music” ou na “improvisada” canja na Assembleia Geral das Nações Unidas.
Gilberto Gil não se deixa “encaixotar” nem mesmo quando o assunto é estritamente a música, sua especialidade. Não há gênero, parceiro de composição ou mesmo outro formato de produção cultural que não tenha sido incorporado à invenção musical do artista. De notáveis gigantes da canção popular brasileira, como Luiz Gonzaga, Dominguinhos, João Gilberto, Geraldo Vandré, Caetano Veloso, Chico Buarque de Hollanda, Pepeu Gomes, Luiz Caldas – baião, forró, bossa nova, MPB, rock and roll e axé music – aos imortais de nossa literatura, como Monteiro Lobato e seu Sítio do Pica Pau Amarelo e Graciliano Ramos e seu “Vidas Secas”.
Neste pequeno texto, sugiro (apenas) cinco trabalhos musicais de Gilberto Gil que valem a pena ser conhecidos. Três deles pertencem à duas primeiras fases de sua longa carreira, abrangendo parte das décadas de 1960 e 1970. Falo dos clássicos “Louvação” (1967), “Expresso 2222” (1972) e “Refazenda” (1975), que são como ruído de fundo de produção de Gil.
Depois, trago o disco “Extra” (1983), que sintetiza a entrada definitiva do artista na década de 1980, com direito a todas as novidades que este período possibilitou. Finalmente, “OK OK OK”, álbum lançado em 2018 – até então o último de inéditas da carreira do cantor –, merece destaque primeiramente em razão das parcerias com João Donato, mas também por mostrar um Gil reflexivo sobre os momentos mais recentes do mundo, do Brasil, de sua carreira e sua própria vida.
5 discos para conhecer Gilberto Gil
“Louvação” (1967)
Primeiro disco da carreira de Gilberto Gil, “Louvação” foi gravado no Rio de Janeiro e lançado pela Philips em maio de 1967. Arranjado por Carlos Monteiro de Souza, Bruno Ferreira e Dori Caymmi, o trabalho contêm 14 faixas, 13 delas assinadas por Gil em conjunto com outros parceiros, como Geraldo Vandré, José Carlos Capinan, Caetano Veloso e Torquato Neto. A despeito da presença destes dois últimos, não há em “Louvação” elementos do que viria a ser, pouquíssimo tempo depois, a Tropicália que tanto consagraria Gilberto Gil e os Doces Bárbaros.
“Louvação” é notadamente um disco de Música Popular Brasileira e se assemelha a outras produções do na época recente gênero, como as marchas e sambas apresentadas nos populares Festivais da Canção e os primeiros trabalhos de Chico Buarque de Holanda, Nara Leão e Elis Regina. Faixas como “Rancho da rosa” e “A moreninha”, esta última de Tom Zé, demonstram essa maior proximidade com o primeiro grupo, enquanto a canção de abertura “Louvação” e as músicas “Lunik 9” e “Ensaio geral” se parecem com o segundo.
A voz de Gilberto Gil, uma de suas mais potentes singularidades, já neste trabalho dá boas mostras de virtude em “Viramundo” e em “Roda”. A primeira delas é uma peça inteiramente regionalista (como se toda canção não fosse…), algo que nem era assim tão novidade na época dos festivais. Composição de Gil e José Carlos Capinam, nos remete imediatamente a Luiz Gonzaga e sua sanfona branca. “Procissão”, outra faixa do trabalho, também é um primeiro ensaio em disco do que Gil viria a fazer no futuro ao falar de suas experiências espirituais, católicas ou não.
Sobre o uso de guitarras em “Louvação”, não é nem preciso dizer: elas não existem. Todo o trabalho é sustentado pelo violão e pelas orquestrações, e são as músicas “Mancada” e “Minha senhora”, duas bossas, que melhor demonstram este pertencimento definitivo a um período bastante específico não apenas da carreira de Gilberto Gil, mas também da produção musical brasileira.
Acima, pequena nota de jornal sobre “Louvação”. Acervo O Globo – 4 de julho de 1967.
“Louvação” (1967)
- Louvação (03:47)
- Beira-Mar (03:55)
- Lunik 9 (03:04)
- Ensaio Geral (01:57)
- Maria (Me Perdoa, Maria) (02:37)
- A Rua (03:33) 7. Roda (02:42)
- Rancho da Rosa Encarnada (02:38)
- Viramundo (02:18)
- Mancada (02:02)
- Água de Meninos (04:32)
- Procissão (02:38)
- Minha Senhora (03:24)
- A Moreninha (02:47)
“Expresso 2222” (1972)
Os artistas brasileiros foram musicalmente generosos no ano de 1972. Em menos de 12 meses saíram os discos “Clube da Esquina”, “Acabou Chorare”, “Elis”, “Ben”, “Transa”, “Jards Macalé”, “Dança da Solidão”, “Sonhos e Memórias”, entre outros trabalhos de compositores mais antigos e mais novos da música popular brasileira.
Gilberto Gil, como não poderia deixar de ser, transbordou qualidade e lançou aquele que talvez seja seu mais comentado álbum, percebido sempre como uma celebração do artista em razão de seu na época recente retorno ao Brasil após três anos vivendo em Londres, para onde partira exilado, em 1969.
Produzido por Roberto Menescal, músico que pouco mais de 10 anos antes estava fabricando a bossa nova junto de João Gilberto, e gravado em revolucionários 16 canais, “Expresso 2222” possui originalmente nove canções, sendo cinco delas composições de Gilberto Gil.
Em relação a “Louvação”, trabalho anteriormente apresentado neste texto, a diferença é literalmente gritante: aqui, principalmente o rock, mas não apenas, é quem está em primeiro plano. O chamado Tropicalismo estava acontecendo e, além da desenvolta mão direita de Gil, a eletricidade da guitarra de Lanny Gordin e do contrabaixo de Bruce Henry abraçavam a explosiva bateria de Tuti Moreno para de certo modo deslocar as “antigas” referências de Gil.
“Pipoca moderna”, canção que abre o trabalho, é uma pequena vinheta de pífanos que logo se encerra para dar lugar a “Back in Bahia”, música em que Gil coloca para fora, de maneira simples e direta, toda a saudade que sentia de seu estado e de seu país: “naquela ausência, de calor, de cor, de sal, de sol, de coração pra sentir”. A guitarra swingada da faixa – suco de Jimi Hendrix – e o piano ligeiramente caótico (propositalmente destoante) dão claro indício do que estava por vir.
A faixa seguinte, intitulada “O canto da Ema”, dá prosseguimento a essa então diferente oficina de música brasileira. A guitarra que Gil emprega na canção agarra-se firmemente ao piano de Antônio Perna para nos lembrar que o que se está tocando, se a princípio soa “estrangeiro” pela barulheira elétrica, é na realidade uma melodia brasileira. “Sai do sereno”, que aparece poucas canções depois, acompanha essa guitarrada brasileira com uma bateria matadora (uma aula) e um piano fortíssimo de Perna, no sentido preciso e literal do termo.
No mesmo eixo temático de “Back in Bahia”, o samba pop “Chiclete com banana”, música de Gordurinha e Almira Castilho, famosa na voz de Jackson do Pandeiro, se assemelha liricamente à clássica “Brasil pandeiro”, canção de Assis Valente regravada pelos Novos Baianos também naquele ano de 1972. Especulando, Gil canta versos que imaginam a mistura de “Miami com Copacabana” ou “o Tio Sam de frigideira numa batucada brasileira”. Nesse caso, cabe mais um destaque ao desta vez econômico piano de Antônio Perna.
“Expresso 2222”, canção que dá nome ao disco, foi já na época a faixa mais executada do trabalho nas rádios, juntamente com Oriente, música em que Gil apresenta mais um tanto de sua aproximação com os “orientalismos” que anos mais tarde Belchior viria a criticar. “O sonho acabou”, outra cantiga do LP, além da letra confessional e da já repetidamente destacada mão direita de Gil, a própria dicção do artista e a experiência com os muitos canais de gravação são dignas de realce.
Duas canções bônus compõem a versão digital de “Expresso 2222”, são elas a alegre marcha “Vamos passear no astral”, que podia compor a trilha sonora de qualquer produção destinada ao público infantil, coisa que Gil viria a fazer poucos anos depois, e “Está na cara, está na cura”, que igualmente é uma marcha, mas com uma roupagem circense, escolha que contrasta com o tema da letra: o medo, especificamente o temor em se lutar contra os agouros da ditadura militar brasileira (1964-1985), que à época atingia seu período mais violento sob o governo de Médici.
Após “Expresso 2222”, Gil lançou o disco “Cidade do Salvador”, em 1973. Depois, em 1975, veio “Refazenda”, que trataremos em seguida.
“Expresso 2222” (1972)
- Pipoca moderna (01:59)
- Back in Bahia (04:37
- O canto da ema (06:23)
- Chiclete com banana (03:25)
- Ele e eu (02:20)
- Sai do sereno (03:21)
- Expresso 2222 (02:40)
- O sonho acabou (03:33)
- Oriente (06:01)
- Vamos passear no astral (02:55)
- Está na cara, está na cura (02:40)
“Refazenda” (1975)
Produzido e mixado por Marco Mazzola, “Refazenda” possui 11 canções, todas assinadas majoritariamente por Gilberto Gil, à exceção da belíssima Tenho Sede, música de Dominguinhos e Anastácia. De modo diferente às últimas experiências em estúdio, neste álbum, violão e orquestrações, além de flauta, sanfona e triângulo assumem o primeiro plano em vez dos instrumentos explicitamente eletrificados. Não existe nada parecido com uma “calculadora de brasilidade”, mas do mesmo modo como escrevem por aí que “Refazenda” é um álbum mais “simples” em relação aos trabalhos anteriores de Gil – os arranjos, os canais, a produção -, dizem por aí também que “Refazenda” é um disco “mais brasileiro”. Se sim ou se não, o veredito fica a cargo do leitor e ouvinte.
“Ela”, composição que abre o trabalho, e “Ê, povo, ê”, que inicia o lado B do vinil, são as músicas mais dançantes do álbum, as duas destacando-se por fazer a passagem entre os lançamentos prévios de Gilberto Gil e a presente produção. Os grooves aqui são bancados inteiramente pelo violão de Gil e pelo contrabaixo de Moacyr Albuquerque, este ocupando o papel de farol para os demais instrumentos.
A faixa-título “Rafazenda”, “Jeca total” e “Rouxinol” são canções ambientadas no mundo rural. Do mesmo modo como algumas músicas de “Expresso 2222”, elas poderiam fazer parte de uma coletânea de Gil dedicada ao público infantil. Nessas músicas, difícil não pensar no universo criado pelo escritor Monteiro Lobato, de uma simples e genérica descrição de uma fazenda à menção explícita ao personagem Jeca Tatu. Gil foi alfabetizado por sua avó e cresceu lendo as obras infantis do escritor de Taubaté, que mais tarde teve seu livro “O Sítio do Pica Pau Amarelo” adaptado para TV com a incrível composição de Gil como tema de abertura.
“Essa é pra tocar no rádio” é uma espécie de piada bastante barulhenta. Piada porque uma música com este nome, aparentemente justificando a existência ou o lugar ocupado no disco, não poderia de maneira nenhuma tocar no rádio. Não é para quem espera uma calma melodia ou uma música cheia de groove, ou ainda um refrão que grude como chiclete.
“Pai e mãe”, “Retiros espirituais” e “Meditação” são as canções reflexivas de todo o trabalho. Na primeira, espécie de samba com violão de 7 cordas tocado muito lentamente, Gil raciocina sobre os vínculos que estabeleceu com outros homens mediados pela relação que sempre teve com seu pai. “Retiros espirituais”, faixa que garante o lugar das abstrações religiosas no trabalho, trata dos momentos em que Gil para o tempo da produção para ruminar sobre os mais diversos elementos de sua vida. “Meditação”, finalmente, é mesmo uma espécie de mantra para encerrar o trabalho, com seus versos embaraçados.
“Lamento sertanejo (Forró de Dominguinhos)” traz letra de Gilberto Gil e música de Dominguinhos, composta e lançada originalmente pelo último como um instrumental, em 1967. Destaque não apenas na obra de Gil, a canção é mesmo uma pérola do cancioneiro nacional. É grande a capacidade que os versos tem de nos trazer imagens muito definidas de um certo Brasil, uma vez que abordam elementos do cotidiano que estão presentes entre todos nós – da comida que se come à superfície que se dorme.
Não menos importante, “Refazenda” inaugura a chamada trilogia “Re” na obra de Gilberto Gil. Após este primeiro disco, foram lançados, em 1977 e 1979, os álbuns “Refavela” e “Realce”, além de um álbum ao vivo no mesmo ano de 1977, cujo nome é “Refestança”.
“Refazenda” (1975)
- Ela (02:53)
- Tenho Sede (03:46)
- Refazenda (03:08)
- Pai e Mãe (03:52)
- Jeca Total (02:53)
- Essa é Pra Tocar no Rádio (03:03)
- Ê, Povo, ê (04:11)
- Retiros Espirituais (04:51)
- O Rouxinol (02:39)
- Lamento Sertanejo (04:20)
- Meditação (01:52)
“Extra” (1983)
“Extra” é o 14º álbum lançado por Gilberto Gil, entre discos de estúdio e ao vivo. Produzido por Liminha e divulgado em 1983, o trabalho destaca-se na obra do artista pela maneira como os diferentes gêneros musicais, como o reggae, o rock e o funk são apresentados envoltos em uma então nova estética, que posteriormente ficou eternamente atrelada aos anos 1980: o uso de ecos e outros efeitos na voz, os teclados com diferentes texturas, solos de guitarra com alavancadas e baterias eletrônicas.
A despeito do álbum não falhar pelo excesso ou pelo mau uso das “novidades”, o contraste com a produção clássica de Gil é grande – fazendo dele, justamente por isso, um disco interessante.
A faixa que abre o trabalho, “Extra”, é mais um dos reggaes de Gilberto Gil, gênero que atravessa toda a carreira do artista desde o final dos anos 1960. Na canção, a guitarra abafada e o órgão moog, características básicas do reggae, o aproximam de “Uprising”, disco do Bob Marley & The Wailers, lançado em 1980. A banda Cidade Negra gravou uma versão de “Extra” em seu “Acústico MTV”, lançado em 2002. Gil participa da performance, que pode ser conferida abaixo.
“Mar de Copacabana” e “Dono do pedaço”, músicas que alegram os dois lados do vinil, talvez sejam canções que os ouvintes mais familiarizados com a obra de Gilberto Gil teriam maior facilidade em reconhecer. Com outro arranjo, isto é, com a ênfase em outros instrumentos, ambas as canções poderiam sair nos álbuns anteriores de Gil. Seriam, no entanto, muito provavelmente outras canções.
Já “A linha e o linho” é uma composição lenta que cairia como uma luva na voz de Maria Bethânia, a Abelha Rainha da música brasileira. O piano elétrico e o saxofone presentes na faixa garantem a dose exata de romantismo que faria Bethânia a escolher para seu repertório de gravação. Foi a outra doce bárbara Gal Costa, no entanto, que gravou a canção no songbook de Gilberto Gil, em 1992.
“Preciso de você” lembra bastante o trabalho desenvolvido por Rita Lee na segunda metade da década de 1970 ou mesmo o que alguns artistas do chamado BRock fariam poucos anos depois, como a banda Metrô e a cantora Marina Lima. O sax presente na canção, também, tem a mesma energia do instrumental de sopro presente no single “Mensagem de amor”, lançado por Leo Jaime também no ano de 1983. Nara Gil, filha mais velha de Gil, a garota papo firme, é quem assume os vocais da canção.
“Punk da periferia” tem muito pouco de punk rock; se aproxima mais a um pop rock dos anos 1980 em razão da introdução de guitarra distorcida e cheia de alavancadas que mais se parece com um solo. Aqui, Gil faz parcerias com dois músicos e compositores que haviam acabado de surgir no cenário pop rock brasileiro, como Lulu Santos e Serginho Herval, baterista do Roupa Nova. Serginho também toca bateria em “A linha e o linho”, apresentada alguns parágrafos acima.
“Funk-se quem puder” e “Elá poeira” são duas das canções mais dançantes do álbum, dignas de estarem presentes no set de qualquer DJ disposto a explorar a produção boogie na música brasileira, que teve início e fim nos próprios anos 1980. Marcos Valle, Emilio Santiago e mesmo Jorge Ben Jor entraram nessa onda e fizeram discos memoráveis.
“Leyde Neyde” e “O veado” são também canções de andamento lento, embora uma bastante diferente da outra. A primeira se aproxima dos lançamentos praieiros de Lulu Santos, que um ano antes havia emplacado “De repente California” e no mesmo ano de 1983 lançou “Como uma onda”, uma de suas mais conhecidas canções. Na faixa “O veado”, por sua vez, em uma letra intimista e até um tanto confusa, Gil trata de algumas características desse animal, como a elegância e uma desconfiança sempre presente.
No jornal O Globo, em setembro de 1983, a pequena nota Gilberto Gil em “Extra”, o show: a disciplina em “estado de alegria” comenta o recente trabalho do artista.
“Extra” (1983)
- Extra (05:53)
- E lá poeira (03:55)
- Mar de Copacabana (03:25)
- A linha e o linho (03:06)
- Preciso de você (03:52)
- Punk da periferia (05:19)
- Funk-se quem puder (03:09)
- Dono do pedaço (04:18)
- Lady Neyde (03:52)
“OK OK OK” (2018)
“OK OK OK OK OK OK
Já sei que querem a minha opinião
Um papo reto sobre o que eu pensei
Como interpreto a tal, a vil situação”
Lançado em 2018, “OK OK OK” é o trigésimo quinto disco de inéditas da carreira de Gilberto Gil, aparentemente uma fonte inesgotável de talento. Produzido por Bem Gil, filho do artista com a diretora Flora Gil, “OK OK OK” possui apenas três participações externas à grande, ativa e multifacetada família Gil: o pianista e compositor João Donato, o virtuoso violinista brasileiro Yamandu Costa e a cantora potiguar Roberta Sá.
Das 15 composições que compõem o trabalho, Gil divide a caneta apenas uma vez, com próprio João Donato, que aparece em duas faixas. Nas outras, temos o artista fazendo as coisas como sempre fez: gravando com muitos, mas escrevendo majoritariamente sozinho.
Na faixa que abre o disco, “OK OK OK”, não atoa, tem-se o artista refletindo sobre a condição de veterano não apenas do universo musical, mas de pessoa pública relevante, de um intelectual ou coisa que o valha. As expectativas em relação ao músico e o péssimo cenário político são matéria de reflexão ao longo de toda a canção, que encerra-se com um belíssimo verso: “palavras dizem sim, os fatos dizem não”.
“Uma coisa bontinha” e “Tartaruguê” são as duas faixas em que Gil e João Donato dividem a feitura da canção. Os dois experientes músicos, um estando na estrada desde a década de 1950 e o outro desde os anos 1960, já possuíam um histórico de parcerias como “Lugar comum”, lançada em 1975, e “A paz” de 1986.
“Jacintho” e “Kalil” falam sobre os então problemas de saúde que Gil enfrentou nos últimos. A primeira faixa tematiza de maneira bem humorada as dores da velhice, enquanto a segunda trata do médico que acompanhou Gil durante o período em que o artista esteve hospitalizado. A velhice, um privilégio, tem dessas!
“Yamandu” e “Afogamento” são as duas outras canções em que Gil dá espaço a artistas com muito menos tempo de carreira que ele: o próprio Yamandu Costa e a cantora Roberta Sá. É interessante prestar atenção na maneira como Gil descreve Yamandu na letra e o modo como o próprio violonista “responde” no braço do instrumento. Em “Afogamento”, por sua vez, a doce voz de Roberta Sá contrasta lindamente com a já rouca voz de Gil, timbre relativamente novo na carreira do artista.
“Pela internet 2”, finalmente, é a continuação, por assim dizer, da primeira faixa com esse mesmo nome, lançada por Gil no álbum “Quanta”, de 1997.
“OK OK OK” (2018)
- OK OK OK (04:56)
- Na Real (03:56)
- Sereno (03:42)
- Uma Coisa Bonitinha (04:07)
- Quatro Pedacinhos (04:11)
- Ouço (04:35)
- Lia e Deia (03:02)
- Jacintho (03:47)
- Yamandu (03:01)
- Tartaruguê (03:33)
- Sol de Maria (03:15)
- Prece (02:00)
- Afogamento (04:08)
- Kalil (03:13)
- Pela Internet 2 (04:21)
Se você chegou até aqui, agradeço a leitura. VIVA GILBERTO GIL, o porta estandarte e embaixador vitalício da cultura brasileira!
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Genial! Parabéns ao repórter pela maravilhosa leitura! ” VIVA GILBERTO GIL ” eternizado “musiqueiro” da cultura brasileira!
Elisete.