A trajetória do Van Halen é muito bem definida pelo trabalho de dois vocalistas: David Lee Roth e Sammy Hagar. O primeiro fez parte da banda de 1974 a 1985, retornando em 2007 após uma reunião relâmpago em 1996. O segundo integrou o grupo de 1985 a 1996, com direito a um breve retorno entre 2003 e 2005.
As diferenças entre ambos os vocalistas na parte artística são bastante visíveis. No que diz respeito a comportamento em entrevistas, também. Mas há algumas distinções entre ambos os cantores que somente alguém como o saudoso Eddie Van Halen, falecido em 2020, poderia revelar.
Em um artigo publicado na Rolling Stone, o jornalista musical Blair R. Fischer, que desenvolveu uma amizade com Eddie após descobrir seu e-mail por acaso em um vazamento de dados na internet, revelou argumentos usados pelo guitarrista para definir ambos os cantores. Como o contato foi estabelecido já nos últimos anos, há mais comentários sobre Roth, já de volta ao seu posto original.
Inicialmente, o músico afirma que o Van Halen demorou tanto para lançar o álbum “A Different Kind of Truth” (2012) por causa de Roth. Na ocasião, ele também disse que fica chateado por ser sempre apontado como “o culpado por tudo”.
“A razão pela qual demorou tanto para ‘Truth’ é Roth, incluindo todas as demos refeitas. Também é por isso que não temos nada além de um álbum ao vivo (‘Tokyo Dome Live in Concert’, de 2015) para lançar por três anos de inatividade.”
Ainda de acordo com Eddie, Diamond Dave “só quer ficar girando o pedestal como Vaudeville”. O cantor não estaria interessado em rock, o que impede a gravação de novas músicas. Ele só gosta de “dance music” e “odeia bandas como AC/DC”, acrescentando que Roth chama os fãs da banda australiana de “analfabetos culturais” – o que ofende o guitarrista, fã de Angus Young e seus parceiros e assumidamente influenciado por eles em músicas como “Panama”, “Drop Dead Legs” e “Good Enough”.
“Bem, eu acho que isso me torna um deles, porque eu amo AC/DC e sua simplicidade. […] Não tenho saída. É muito frustrante. Se as pessoas soubessem a verdade, não acreditariam em algumas das merdas que acontecem e no que suportamos. Provavelmente não suportarei muito mais. Estou muito velho para essa m#rda!! Eu realmente gostaria que as coisas fossem diferentes, mas não são.”
A diferença da treta com Sammy Hagar
Quando Eddie Van Halen falava sobre Sammy Hagar, o tom mudava, segundo o jornalista Blair R. Fischer. A hostilidade era, segundo ele, bem mais “enraizada”.
As reclamações sobre David Lee Roth são bem mais ligadas a pontos relativamente supérfluos e quase juvenis, como sua “egomania de rockstar”. Com Hagar o buraco era mais embaixo.
De acordo com Fischer, Eddie via Sammy como alguém ganancisso. “Com Hagar, é tudo sobre dinheiro”, disse o músico em determinada ocasião, acrescentando uma aparente referência à famosa marca de tequila de sucesso do ex-colega: “ele usou a banda para se elevar”.
O guitarrista também enxergava no cantor uma “busca incansável por publicidade”, pois “ele não conseguia abrir a boca sem falar o nome do Van Halen”.
“Em vez de falar sobre sua nova banda (Chickenfoot), tudo o que ele fez foi basicamente dizer o quanto eles eram muito melhores que o Van Halen. Então, ele é na verdade o nosso maior assessor de imprensa e relações públicas.”
“Traição” de Michael Anthony
Sammy Hagar gerou, indiretamente, mais uma situação desagradável com Eddie Van Halen. Conforme apontado por Blair R. Fischer, o baixista Michael Anthony, fiel escudeiro de Eddie e do baterista Alex Van Halen, ficou do lado do cantor quando a breve reunião com ele em 2003 acabou rachando.
Na época, os conflitos chegaram a um ponto impossível de se solucionar. Então, além de Hagar, Anthony também deixou de fazer parte do Van Halen. Sua vaga foi ocupada por Wolfgang Van Halen, filho de Eddie – era a realização de um sonho para o guitarrista, que queria tocar com o filho de qualquer jeito.
“Quando Hagar saiu, Mike foi com ele em vez de ficar com Alex e comigo. Isso foi uma traição tão grande quanto Roth nos pegando de surpresa quando ele se demitiu. Não prevíamos nenhuma das situações! Tudo o que tínhamos era nós mesmos, Alex e eu. Wolf estava lá e (fez tudo ficar) divertido novamente. A vida é movida a mudanças. Não posso controlá-la mais do que qualquer outra pessoa. Se eu pudesse, mudaria muitas coisas, começando por nunca ter tomado minha primeira bebida e talvez permanecido no piano em vez da guitarra.”
Questionado se toparia trazer Hagar de volta para a banda algum dia – tendo em vista as repetidas críticas a Roth -, o guitarrista admitiu que o impeditivo para uma reunião com o vocalista seria justamente Michael Anthony.
“Não sei. Mike seria parte do pacote e eu não sei se conseguiria tocar com ele após Wolf.”
As declarações foram dadas a Fischer por volta de 2015, antes da saúde de Eddie ser afetada pelo câncer que o matou em 2020. O jornalista cita que manteve contato com o guitarrista e conversava com ele sobre seu tratamento. Antes de falecer, o músico fez as pazes com Sammy Hagar. Michael Anthony, por sua vez, diz que nunca teve a oportunidade de se reconciliar com o parceiro de décadas.
A discrição de Eddie Van Halen
Um dos pontos mais curiosos da reportagem de Blair R. Fischer publicada no site da Rolling Stone é o fato de que todo o contato com Eddie Van Halen foi iniciado por acaso. O jornalista musical descobriu o e-mail do guitarrista após um vazamento de dados. Incrédulo, resolveu testar, mas com mensagens em um tom bem troll.
Em seu primeiro contato, perguntou: “Como vai Michael Anthony?” Recebeu uma resposta pouco educada – justo – que mencionava Wolfgang Van Halen. Seguiu provocando até que o músico começou a responder de forma bem sincera, inclusive expondo os problemas com David Lee Roth naquele momento.
Os dois chegaram a se conhecer pessoalmente, mas antes Fischer chegou a perguntar por que diabos Eddie estava dizendo todas aquelas coisas a uma pessoa que ele sequer conhecia. A resposta também diz muito sobre o guitarrista e sua forma de agir – sempre com bastante discrição, dando pouquíssimas entrevistas e evitando expor atuais e antigos colegas.
“Sabe, eu me fiz a mesma pergunta e, na verdade, existem algumas razões. Por um lado, sempre que damos entrevistas, não podemos realmente dizer toda a verdade, porque se eu dissesse em uma entrevista o que disse a você, certas pessoas ficariam chateadas. […] Não seria muito bom dizer que eu acho que nosso vocalista é uma m#rda e é uma diva maluca. E é quase um tipo estranho de terapia dizer a verdade para alguém que você nem conhece! Faz algum sentido para você?”
A reportagem completa pode ser lida (em inglês) no site da Rolling Stone.
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Obrigado pela reportagem.
Sou muito fã do van hallen até hoje e sempre serei e não entendia certas situações que passei a entender agora
Valeu.