Madura, violenta, criativa e original. “The Boys”, série de maior sucesso do Amazon Prime Video, se une de uma vez por todas a produções como os também seriados “Invincible” (também Prime Video), “Pacificador” (HBO Max) e filmes “Deadpool”, “Logan”, “The Batman”, “Vingadores: Guerra Infinita” e “Coringa” – todos bem-sucedidos ao tornar sua abordagem mais adulta.
Por mais que super-heróis em teoria sejam feitos para o público infantil, nos últimos anos quem realmente faz a roda girar é o público adolescente e adulto. As produções destinadas a essa fatia fogem do formato outrora consolidado por Marvel e DC que hoje se encontra saturado.
*Este texto não contém spoilers.
A terceira temporada de “The Boys” acerta não apenas ao reforçar esse novo conceito de “supers” como também ao manter-se em crescimento absurdo. Os outros dois anos haviam sido incríveis e não é diferente nesta sequência. Uma rara escala de qualidade neste meio. Não há amarras ou receio de ousar – inclusive por mesclar ficção com a realidade política de hoje. Um ar fresco em meia a tanta mesmice que, pelo jeito, não nos satisfaz mais.
“The Boys”: mais insanos
A nova temporada nos mostra a pior versão de dois seres quebrados por perdas: Billy Butcher (Karl Urban), agora sem sua esposa, e Capitão Pátria (Antony Starr), sem a mulher nazista que amava e tendo perdido a chance de ser pai.
Ambos estão transtornados e não se importam com mais nada –a não ser o que cada um acredita e deseja. Os episódios são sobre isso: um tentando destruir o outro e sem se importar em quais limites ultrapassar para atingir tal objetivo.
A diferença é que Billy Butcher quer apenas matar o Capitão Pátria. Seu inimigo, porém, acumula mais objetivos em sua bolsa – o que mexe muito com suas emoções. No meio disso, surge do além o indestrutível Soldier Boy (Jensen Ackles) que, apesar de ter seus próprios conflitos, pode definir diretamente os rumos de Butcher ou do Homelander.
A série traça um paralelo interessante sobre os tempos políticos em que vivemos. Tempos de disputa de narrativas, de “nós contra eles”, gritos de virtuosidade, de violência por discordâncias – é um retrato fiel da nossa realidade com o adicional de seres encapados e poderosos estarem no meio disso.
Tudo fica ainda mais intenso por meio da velha forma de lançar episódios toda semana. Faz toda diferença na experiência de uma série – ouviu, Netflix?
Ressalvas para o futuro
Há poucos problemas na terceira temporada de “The Boys”. Ainda que diminutos, são tópicos que devem ser debatidos e observados para o andamento da série.
É interessante frisar a hipocrisia e atitudes dúbias da Luz-Estrela (Erin Moriarty) durante os novos episódios. Apesar de bons momentos principalmente no começo, a Starlight passa a temporada causando mais irritação do que admiração – às vezes até transmite a sensação de que temos uma adolescente mimada por ali.
O episódio final também nos traz questionamentos quanto à coragem dos roteiristas. Algumas decisões são dignas de aplausos, mas certas saídas fáceis e desfechos que não combinam com o restante da temporada acendem um alerta – em especial pelo destino de um dos personagens na luta final.
“The Boys” não é exatamente um seriado de finais felizes. Quando este é o destino de um personagem, pode parecer um pouco de falta de coragem, seja com a série ou com o público ao qual o personagem pertence.
Evolução dos personagens certos
O ano três de “The Boys” acertou ao dar atenção especial ao crescimento de alguns personagens que são bons, mas necessitavam de algo a mais. Leitinho (Laz Alonso) e Francês (Tomer Capone), outrora vistos como coadjuvantes, ganharam peso e profundidade em um processo de humanização.
O Black Noir (Nathan Mitchell) compartilha conosco o que existe dentro de sua mente, assim como suas origens de dor e sofrimento. Já o Trem-Bala (Jessie Usher) finalmente sente na pele as consequências do que ele mesmo causou há tantos – e tem a possibilidade de se humanizar. Chance essa jogada no lixo pelo Profundo (Chace Crawford), que assume de vez o que é.
Mas a série é obviamente do quarteto principal da história. A interpretação de Antony Starr, muito mais insano com seu Capitão Pátria, é digna de aplausos. O violento Billy Butcher de Karl Urban e o seu fiel escudeiro Hughie (Jack Quaid) levam a ideia de bons moços contra o mal em um caminho muito particular e inovador. Jensen Ackles, que nasceu para estar em “The Boys” com seu atormentado Soldier Boy, causa um dano na vida dos personagens como pouco se viu até agora na série. O quarteto chama a trama pra si e fazem com ela o que bem entendem.
Risco de queda?
Após três temporadas perfeitas, é difícil pensar que “The Boys” possa cair de qualidade em seu já confirmado quarto ano.
A sala de roteiristas precisa apenas entender que, agora, o enredo não pode mais dar atenção a coisas fúteis. O que foi deixado ao final da temporada, exige mais coragem, insanidade e agressividade.
O resultado satisfatório obtido até aqui serve como lição para as coloridas produções de Marvel e DC. Enquanto elas brincam com cabras ou com o Flash bobalhão do problemático Ezra Miller, acabam nos cansando e exigindo algo que “The Boys” sem medo nenhum, nos dá.
*Todos os episódios de “The Boys” já estão disponíveis no Amazon Prime Video.
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