O Dream Theater está de malas prontas para voltar a viajar pelo mundo. Em divulgação a seu álbum mais recente, “A View from the Top of the World” (2021), a famosa banda de metal progressivo passará pela Ásia (Indonésia e Japão) e América do Sul (Brasil, Chile e Argentina) depois de ter excursionado por América do Norte e Europa no primeiro semestre deste ano.
Por aqui, serão duas apresentações marcadas para o dia 31 de agosto, no Tokio Marine Hall, em São Paulo, e 2 de setembro, no festival Rock in Rio, no Rio de Janeiro. Tratam-se de ocasiões bem diferentes: na capital paulista, é um evento solo em um espaço para 9 mil fãs; já na principal cidade fluminense, a performance encerrará o Dia do Metal (o Iron Maiden é headliner, mas toca mais cedo) diante de mais de 80 mil pessoas.
Em entrevista a IgorMiranda.com.br (também disponível no YouTube com legendas em português), o vocalista James LaBrie comentou a respeito de vários detalhes de ambos os shows. Destacou que as apresentações serão diferentes, buscou responder por que o Dream Theater tocará antes do Iron Maiden no Rock in Rio, refletiu sobre a forte relação construída com o público brasileiro e abordou a mecânica de escolha do repertório do grupo.
Antes do papo, vale destacar: ainda há ingressos à venda para o show em São Paulo (clique aqui para mais informações). Já para o Rock in Rio, todas as entradas estão esgotadas.
Confira abaixo a entrevista em vídeo (com legendas em português) e em texto.
Entrevista com James LaBrie (Dream Theater)
Retorno aos palcos
Igor Miranda: Vocês voltaram a sair em turnê em fevereiro e, desde então, fizeram mais de 60 shows. Como foi finalmente retornar aos palcos dois anos após o início da pandemia?
James LaBrie: “Nosso primeiro show foi no dia 2 de fevereiro, em Phoenix, Arizona [EUA]. Foi doideira porque estávamos afastados. Para ser exato, faltavam três semanas para completar dois anos do nosso último show. Exatamente três semanas. Doideira. Foi meio estranho, cada um se sentiu como se estivesse começando tudo de novo [risos]. Você fica com borboletas no estômago: você esteve longe de algo que você sabe que ama fazer, mas ficou tanto tempo sem fazê-lo que agora está realmente tendo que se concentrar em voltar ao jogo. Mas quer saber? Depois de subirmos no palco e tocarmos uma ou duas músicas, a sensação de estar em casa veio de novo, foi uma sensação incrível. E foi como eu disse muitas vezes durante turnês, em vários shows: você não percebe o quanto sente saudade de fazer algo até voltar a fazê-lo”.
Considerando a abordagem bastante técnica que vocês adotam em relação a suas apresentações, quais foram os principais desafios desse retorno aos palcos após tanto tempo?
JL: “Não sei dizer. Estamos há tanto tempo nisso que se cada um de nós estiver se sentindo bem com sua atuação individual, então acho que simplesmente acabaremos bem coletivamente. É como sempre foi. Comunicação não-verbal uns com os outros. Seguimos o fluxo, pois já conhecemos os sentimentos de cada um e é isso que cria essa união, essa coesão. Acaba sendo uma questão de todos estarmos nos sentindo bem de forma individual, de estarmos prontos para a missão tanto física quanto mentalmente – e de certa forma até emocionalmente, eu diria”.
Expectativa para shows no Brasil
Agora sobre a turnê pela América do Sul. Vocês estão voltando com um show diferente para promover o novo álbum “A View from the Top of the World”. O que os fãs podem esperar desses shows em termos de repertório, produção de palco e afins?
JL: “Em questão de repertório, estamos sempre tentando criar uma grande espécie de exposição de como o Dream Theater é musicalmente, englobando desde os primórdios até o álbum mais novo. Para além disso, a produção de palco sempre foi de extrema importância, então nosso objetivo é criar algo em conformidade com o design de iluminação, com os vídeos que estiverem sendo projetados na tela, coisas do tipo. Criamos algo multidimensional. Algo que não seja apenas a música, mas que seja estimulante visualmente e que você não consiga esquecer, que deixe uma marca indelével na memória. Isso é exatamente o que estamos fazendo aqui nessa turnê e o que planejamos fazer na América do Sul. Nossos fãs de todo o continente têm sido sempre muito dedicados. Nos fazem ter certeza de que será uma grande experiência sempre que passarmos por aí, não só para a banda, mas também pelo fato de que faremos ser uma grande experiência para eles”.
Muitos fãs brasileiros estão discutindo sobre o setlist devido a vocês estarem tocando muitas músicas diferentes – não só do novo álbum, mas de outros discos, músicas que talvez tenham sido deixadas de lado em outras turnês, como “The Ministry of Lost Souls”, “6:00”, “The Count of Tuscany”… como vocês desenvolveram o setlist atual? Qual foi a ideia por trás?
JL: “Nesse sentido, nada mudou. Fazemos o que chamamos de setlist principal juntos; cada um de nós diz quais músicas gostaria de ver e então tiramos um denominador comum, checamos quais músicas são as que mais aparecem em comum nos nossos setlists e então conversamos, discutimos as músicas em si e o que sentimos estar procurando. É preciso lembrar que estamos tentando criar algo que faça os fãs saírem do show dizendo ‘cara, foi tão legal eles terem tocado aquela música de novo’, por tocar algo do ‘Octavarium’, ‘Systematic Chaos’ ‘Black Clouds and Silver Linings’ ou até do ‘Awake’, mais para trás. Tem que ser algo que nos deixe confiantes, que nos faça pensar: ‘estamos fazendo o dinheiro deles ser bem gasto’. Para alguns desses fãs, qual foi a última vez que estiveram em um show nosso? Mesmo os que nos viram na última turnê, precisamos dar algo para eles também, algo que os faça dizer ‘uau, isso foi tão legal, fazia tempo que eu não ouvia essas músicas’. Não é fácil, porque quanto mais tempo você estiver na ativa, mais álbuns você lança e mais músicas existem para se escolher. Não dá para satisfazer 100% dos fãs, sempre haverá alguém dizendo ‘não acredito que tocaram a música X em vez da música Y’. Entendam, meninos e meninas, estamos tentando fazer o que sentimos que melhor representa quem/o que somos hoje e tentamos dar tudo o que consideramos ser uma boa junção e uma boa sensação do que representamos musicalmente”.
Setlist tocado nos shows mais recentes:
- The Alien
- 6:00
- Awaken the Master
- Endless Sacrifice
- Bridges in the Sky
- Invisible Monster
- About to Crash
- The Ministry of Lost Souls
- A View From the Top of the World
Bis: - The Count of Tuscany
Solo em SP e Rock in Rio
No Brasil, como mencionei antes, vocês farão um show solo em São Paulo e um show no festival Rock in Rio. Quais são as principais diferenças em tocar para um público próprio e tocar em um festival grande como o Rock in Rio, com transmissão de TV, um público mais abrangente e tudo o mais?
JL: “É preciso considerar que quando se está num festival grande, com várias bandas, haverá fãs que não necessariamente sabem quem você é. Podem ter ouvido falar de nós, mas nunca pararam para ouvir nossas músicas, daí as ouvem pela primeira vez ali, pessoalmente. Estamos sempre pensando nas músicas para as pessoas que nunca nos ouviram antes, pois há uma boa chance de elas irem embora pensando ‘uau, isso foi legal, quero ouvir mais’. Daí vão na internet e ouvem mais coisas dos álbuns. Você quer passar uma primeira impressão realmente forte. Já quando você está tocando em um show só seu, todos que estão lá são seus fãs. Mas é claro que também tem os que levam um amigo, a namorada, a esposa, o marido, o irmão, etc para ver a banda pela primeira vez. Também é preciso lembrar que quando você faz um show só seu, você tem mais tempo para tocar. Em festivais, todo mundo fica meio apertado de tempo. Chegamos a um patamar onde, na maioria dos festivais em que tocamos, nossos sets têm no mínimo 75 minutos, entre isso e 90 minutos. Algumas bandas tocam só por meia hora, o que deve passar bem rápido pra eles. Começa e logo acaba, num piscar de olhos. Quando somos headliners em festivais, não precisamos nos preocupar muito com tempo, embora a gente não toque um set tão extenso como se fosse em um show só nosso – o que, na verdade, seria um exagero para qualquer festival.
No Rock in Rio, vocês vão tocar depois do Iron Maiden, que é o headliner. Não é novidade para nós, pois, em 2019, a banda fez o mesmo: tocou antes do Scorpions mesmo sendo headliner. Mas agora vai acontecer de novo, e preciso perguntar: há alguma razão em particular para isso?
JL: É porque queremos acordar tarde, muito tarde [risos]. Não, não há nenhuma razão em particular. Sim, o Iron Maiden é o headliner, mas o Dream Theater vai tocar depois, e, como você disse, o mesmo aconteceu com o Scorpions. É apenas uma questão de os promotores do evento desejarem que seja dessa forma. Se tiver algo a mais envolvido, é algo como ‘fulano prefere tocar em tal hora da noite e sicrano prefere tocar em tal hora da noite’. Mas não tive conversas do tipo e certamente não falamos ‘não, queremos tocar depois do Iron Maiden’. O Iron Maiden pode dar sua opinião porque, sendo headliner, uma banda pode opinar no que quiser. Pode escolher a hora ou apenas dizer ‘tanto faz, apenas nos ponha no palco e informe que a banda é headliner’. Em relação a particularidades, não tenho 100% de certeza, mas já estivemos nessa situação de ser headliner e tocar antes da última banda. Para nós, tanto faz, o que importa é as pessoas entenderem que a banda X é o headliner e a banda Y é a co-headliner – nesse caso, que seremos co-headliners, mas ainda assim tocaremos depois do headliner.
Relação com Brasil e álbum mais recente
Uma pequena curiosidade sobre o Dream Theater no Brasil. Até agora, vocês tocaram 35 shows por aqui e o primeiro foi há 25 anos, em 1997. É bom perceber que vocês voltaram tantas vezes depois daquela e tocaram em lugares maiores. Pode-se dizer que a banda ainda está crescendo no Brasil, o que é espetacular. O que você tem a dizer sobre essa relação com nosso país?
JL: Ah, meu Deus. Quanto tempo ainda temos? [Risos] Há tanto a dizer. Você sabe mais que eu sobre quantos shows tocamos. Nunca parei pra contar, mas se você está dizendo que são 35, eu acredito. É como você disse: em 1997, fomos ao Brasil pela primeira vez e já foi inacreditável. Nos divertimos muito, mesmo não sabendo o que esperar devido a nunca termos estado na América do Sul antes. Ouvíamos dos nossos colegas do ramo: ‘cara, espera só até você ir lá, é espetacular, eles amam todos os tipos de música e vocês vão se sentir completamente acolhidos de todo coração’. Quando chegamos aí, nos surpreendemos, pensamos: ‘uau, isso é incrível’. Continuamos a cultivar nossa relação com os fãs não só do Brasil, mas de toda a América do Sul, da qual já fomos a muitos países – alguns dos quais infelizmente faz um bom tempo que não vamos. Não vamos à Colômbia, há pelo menos 10 anos, assim como o Peru. É uma pena. Dito isto, a relação com o Brasil é algo que continuamos a cultivar – como você disse, fica maior e melhor cada vez que aparecemos por lá, o que é incrível, dado que estamos fazendo isso há 25 anos. O principal para nós é sempre dar valor a isso e quando estivermos indo ao país, fazermos como eu disse antes: algo que deixe uma marca indelével, que faça as pessoas saírem do show dizendo ‘uau, cara, isso foi sensacional, tomara que o Dream Theater volte logo’. Considero que todo artista ou banda deseja criar uma relação duradoura com seus fãs pelo mundo, em qualquer lugar onde toquem.
É uma pena que a gente tenha que encerrar, mas tenho uma última e rápida pergunta sobre o novo álbum, “A View from the Top of the World”. O álbum foi lançado em outubro do ano passado e alcançou o top 10 nas paradas em mais de dez países. Vocês também ganharam seu primeiro Grammy com “The Alien”. O que você pode dizer sobre esse álbum, sua recepção, sua aceitação e, agora, sobre tocar músicas dele ao vivo em uma turnê?
JL: “Primeiramente, lançar seu 15º álbum e ter esse tipo de reação no mundo inteiro é uma prova de que nossos fãs ainda se importam com nossas novas músicas. Há tantas bandas por aí que lançam um novo álbum e os fãs ficam ‘ah, tanto faz’, ficam falando que querem só as antigas nos shows. É uma pena, pois a maioria das bandas quer ser reconhecida por suas últimas criações, então acaba sendo frustrante. Dito isto, é sensacional para nós poder lançar o 15º álbum de estúdio e ter esse tipo de recepção, saber que as pessoas estão esperando ansiosamente para ouvir ao vivo certas músicas desse álbum. É uma prova de que estamos passando no teste do tempo, que nosso trabalho atual continua a ser relevante para os fãs. Em relação a ganhar o Grammy, foi incrível. A terceira vez é a boa, certo? Concorremos com grandes bandas, como Mastodon, Deftones, Rob Zombie… bandas que também merecem esse tipo de reconhecimento, mas foi muito bom ter vencido. É mais um prêmio pra nossa sala de troféus. Pensar que uma banda como o Dream Theater foi reconhecida pela Academia do Grammy é espetacular. Isso mostra que a música pode ser bastante eclética e diversa, e ser aceita mesmo tendo compassos malucos [risos]. Além disso, é ótimo poder tocar estas músicas ao vivo. É incrível como todos estão reagindo a qualquer música do ‘A View from the Top of the World’ que tocamos. Reconhecerem que ainda é relevante o que fazemos, nossos esforços mais atuais em relação a isso, nossas últimas criações, é um sentimento sensacional e uma imensa forma de dizer ‘não estamos cansados de ouvir qualquer novidade que vocês lancem’. Isso é ótimo”.
Serviço – Dream Theater no Brasil
- 31 de agosto: Pavilhão Pacaembu, em São Paulo, para apresentação solo (clique aqui para mais informações)
- 02 de setembro: festival Rock in Rio, no Rio de Janeiro, com Iron Maiden, Gojira, Sepultura + Orquestra Sinfônica Brasileira, Bullet For My Valentine, Living Colour + Steve Vai, Metal Allegiance, Black Pantera convida Devotos, entre outros (ingressos esgotados)
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Público de 80 mil?