Steven Wilson: “músicos não criam mais música, criam conteúdo”

Queda da arte na lista de prioridades das pessoas mudou o panorama, entende o artista

Steven Wilson é um dos grandes trabalhadores do meio musical. Além do Porcupine Tree e carreira solo, está sempre envolvido em projetos que envolvem resgate de trabalhos antigos de bandas clássicas. Em alguns momentos, sobra até espaço para algum projeto paralelo ou colaboração.

Porém, o próprio reconhece que seu esforço perdeu o valor perante o mundo. Em entrevista a Rob Moore no YouTube (com transcrição do Ultimate Guitar), o músico declarou não acreditar que um dia um artista terá a capacidade de mudar o mundo como no passado.

“Eu me pergunto se algum dia será possível para alguém ter esse poder novamente na indústria. Por que a música caiu na lista de coisas que importam para os jovens. Faz parte do cenário de crescimento, mas não é a coisa número um. É mais provável que seja algo relacionado às mídias sociais. E por causa disso, acho que ninguém está realmente prestando atenção o suficiente para realmente se importar.”

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Para Wilson, o aspecto desafiador deixou de importar para o ouvinte.

“Música, nesse sentido, tornou-se mais sobre o que é familiar, não o que poderia ser desconhecido, como quando os Beatles lançaram ‘Strawberry Fields’, ou quando Bowie lançou ‘Ziggy’ ou quando Prince lançou ‘Sign O’ the Times’. E isso obviamente me deixa um pouco triste porque eu cresci acreditando nesse poder de mudar a forma como as pessoas pensavam sobre o mundo, seja através das letras ou da forma como a composição era apresentada.”

Grunge, o últimp a causar impacto

Steven Wilson até consegue se lembrar da última vez que esse impacto ocorreu de forma mais ampla.

“O grunge, sem dúvida, teve esse poder. Eles estavam mudando a maneira como as pessoas pensavam sobre o rock e como se vestiam. Filmes estavam sendo feitos influenciados pela estética slacker ou grunge. Foi a última vez eu realmente acho que o rock teve esse poder.”

O Queen também foi usado como exemplo através de seu maior clássico.

“’Bohemian Rhapsody’ é uma das peças mais ridiculamente de vanguarda, experimentais e ambiciosas da música pop a chegar ao primeiro lugar nas paradas. Não só chegou ao primeiro lugar, mas também ficou lá por um milhão de semanas. Seria possível hoje? Em 2022? Eu adoraria estar errado, mas acho que não. Por que eu acho que a atenção das pessoas está tão fragmentada agora. Todo mundo esperava ‘O que o Queen vai fazer a seguir?’ ‘O que o Radiohead vai fazer a seguir?’ ‘O que os Beatles vão fazer a seguir?’ As pessoas simplesmente não pensam mais assim.”

Steven finaliza reconhecendo que a função do músico hoje é diferente.

“A mídia e o mainstream não estão mais interessados no que as bandas vão fazer a seguir. Outra parte do motivo disso é apenas a proliferação de conteúdo. E eu uso a palavra conteúdo deliberadamente, porque essa é a palavra que a maioria da indústria usa agora. Nós não fazemos mais música, nós criamos conteúdo, o que é uma ideia horrível e feia. Eu odeio isso, claro que sim. Mas também temos que reconhecer que é em grande parte verdade.”

Steven Wilson e Porcupine Tree

Closure/Continuation”, álbum que marcou o retorno do Porcupine Tree após mais de uma década, saiu em junho. O trabalho chegou ao topo das paradas na Alemanha, Holanda e Escócia, além do 2º lugar na Inglaterra. Ainda foi top 20 em outros 11 charts europeus.

O próximo disco solo de Steven Wilson sai em 2023. O trabalho será conceitual, baseado no livro “Limited Edition of One”, que o músico publicou este ano.

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João Renato Alves
João Renato Alveshttps://twitter.com/vandohalen
João Renato Alves é jornalista, 40 anos, graduado pela Universidade de Cruz Alta (RS) e pós-graduado em Comunicação e Mídias Digitais. Colabora com o Whiplash desde 2002 e administra as páginas da Van do Halen desde 2009. Começou a ouvir Rock na primeira metade dos anos 1990 e nunca mais parou.

1 COMENTÁRIO

  1. Acredito que toda banda quando começa, sempre começa lançando algum possível e futuro clássico…essa é a verdade!!!! E muitos dessas bandas acabam com o tempo ficando dependente desses clássicos…Guns n´ Rose, por exemplo!!!! Guns tem riffs e músicas marcantes, quem já ouviu Chinese Democracy não ve tanto isso…o ouvido e a mente já está contaminado pelos cllássicos de User your Ilusion 1 e 2, se alguém me entende o que eu quis dizer!!!!
    Já percebi que ao longo do tempo em que eu curto Rock, percebi que o metal é discriminado nessa área de descoberta de Riffs ou música!!!! Vejo que apenas o critério Rock é sempre lembrado: Led Zeppelin, Pink Floyd, Guns, Yes e assim vai!!!! Acredito que para a pessoa dizer que falta música e apenas cria conteúdo…tem que ouvir música em todas as suas vertentes e idiomas, na música brasileira existe também muita coisa boa!!!! Difícil generalizar, já que eu não falo Finlandês, Japonês ou outro idioma…tem muita coisa boa por aí nascendo e apenas precisa de espaço e oportunidade!!!! Esse texto me lembra mais ou menos outro aqui citado sobre Guitar Hero!!!! Essa analise musical sobre criações, dá a impressão que tudo acontece apenas nos EUA!!!! Valeu!!!!

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