Não é como se o Alter Bridge nunca tivesse soado pesado até “Pawns & Kings”. Formada pelos instrumentistas do Creed – o guitarrista Mark Tremonti, o baixista Brian Marshall e o baterista Scott Phillips – com o vocalista Myles Kennedy (ex-The Mayfield Four), a banda se destaca desde os trabalhos iniciais pelo uso de afinações graves e timbres viscerais, ainda que aliados a fortes ganchos melódicos como contraponto.
Mas há algo diferente neste novo disco, o sétimo de inéditas do grupo americano. O peso parece vir de forma mais natural. Os próprios integrantes explicam em entrevistas que as composições orbitaram em torno dos riffs de guitarra. Isso explica o resultado não apenas heavy, como também orgânico.
Particularmente, sempre achei difícil ouvir discos do Alter Bridge do início ao fim na mesma tacada. Costumava “parcelar” a experiência auditiva devido às tracklists mais longas (geralmente com 13 ou 14 faixas e ultrapassando 60 minutos de duração), pouca variedade estilística das composições e produção carregada (normalmente assinada por Michael “Elvis” Baskette, mas sob a clara orientação de Tremonti). Felizmente, não senti tal problema em “Pawns & Kings”, que, de forma mais direta, traz 10 canções distribuídas em 53 minutos – não por acaso, é o trabalho mais curto deles.
Uma possível “inversão de papéis” no processo autoral pode ter ajudado a dar frescor ao grupo. Desta vez, Myles Kennedy foi o compositor das canções mais pesadas, como a intensa “This is War”, a poderosa “Silver Tongue” e a quase épica faixa-título, esta última repleta de passagens surpreendentes em seu andamento. Por acaso ou não, três das minhas favoritas da tracklist. Por sua vez, Mark Tremonti contribuiu com músicas de abordagem mais melódica, a exemplo de “Dead Among the Living”, cuja estrutura harmônica chega a remeter vagamente ao Creed, e “Stay”, semibalada cantada pelo próprio guitarrista.
Claro que o disco não se divide apenas deste modo. Em outro mérito do trabalho, há momentos que fogem do trivial do “pesado” ou “melódico”. A despojada “Holiday”, por exemplo, soa quase um hard rock à moda Alter Bridge. Já “Season of Promise” vai à outra ponta com uma veia alternativa que remete até ao The Mayfield Four. “Fable of the Silent Sun”, quase prog e meio autobiográfica dada a história de Kennedy e seu pai, tornou-se com seus 8 minutos e 22 segundos a faixa mais longa da carreira do grupo (e está curiosamente no álbum mais curto deles).
As mudanças promovidas em “Pawns & Kings” são, por incrível que pareça, pontuais. Os talentos individuais e o entrosamento coletivo seguem os mesmos. Myles Kennedy e Mark Tremonti permanecem como dois dos melhores músicos de seu segmento. Enquanto isso, a cozinha de Brian Marshall e Scott Phillips mantém sua competência de sempre. Vale inclusive destacar o grande momento técnico vivenciado por Phillips, nem sempre citado por ter que dividir holofotes com Myles e Mark.
Ainda assim, há ajustes específicos capazes de elevar um trabalho a outro patamar. Sejam técnicos ou mesmo de conceito – como tentar impressionar menos e ir mais direto ao ponto –, é nos detalhes que se constrói uma grande obra. O tempo dirá de forma mais clara, mas “Pawns & Kings” tem tudo para ser lembrado como um dos melhores álbuns, se não o melhor, da carreira do Alter Bridge.
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Alter Bridge – “Pawns & Kings”
- This Is War
- Dead Among The Living
- Silver Tongue
- Sin After Sin
- Stay
- Holiday
- Fable Of The Silent Son
- Season Of Promise
- Last Man Standing
- Pawns & Kings
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Igor te sigo por aqui há muito tempo e adoro suas críticas. Sou de Uberlândia e uma senhora rock n roll rsrs. Adoro Myles Kennedy. Atualmente é meu músico favorito e sempre aguardo ansiosamente seus lançamentos. Concordo com vc que esse pode ser considerado o melhor álbum do Alter Bridge, embora seja aficionado por Blackbird e Fortress. Acredito que seja pela pitada heavy de Myles que deu essa incrementada nas músicas que citou. Obrigada pelos elogios aos Alters. Abraços
Muito feliz em receber um comentário de uma conterrânea! Obrigado! Abs
Realmente o melhor álbum deles e digo um dos melhores do metal da atualidade. A musica Sin After Sin arrebenta em tudo e o riff dela é simples mas fenomenal.