O que os músicos do Kiss pensam das músicas de “Alive II” em estúdio

Com lado do LP duplo "sobrando", banda optou por incluir quatro músicas inéditas e um cover para completar o álbum ao vivo

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Lançado pelo Kiss em 14 de outubro de 1977, “Alive II” está longe de ter o mesmo peso e importância do primeiro “Alive!” (1975). Apesar de haver apenas dois anos de diferença entre os dois discos ao vivo, três álbuns de estúdio separam os lançamentos. Dessa forma, os “Alives” documentam períodos diferentes da banda em sua fase mais produtiva: a década de 1970.

Pela regra de não repetir músicas do trabalho de 1975, um dos lados do segundo LP de “Alive II” ficou vago. Para preencher o espaço, a banda optou por colocar músicas gravadas em estúdio.

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O trabalho foi feito às pressas em um teatro em Nova Jersey, no formato “ao vivo sem estúdio”, e mixadas no Electric Lady Studios. Em quase todas as faixas, o guitarrista Ace Frehley estava indisponível. O motivo era o de sempre: álcool e drogas.

No livro “Kiss: por trás da máscara”, os quatro integrantes originais e outras pessoas envolvidas em “Alive II” comentaram sobre os trabalhos no álbum e nas faixas inéditas. O próprio Frehley admite nem se lembrar direito das músicas, enquanto o produtor Eddie Kramer confirma que Bob Kulick foi usado como guitarrista. Os chefes Paul Stanley (voz e guitarra) e Gene Simmons (voz e baixo) também mostraram seu descontentamento, como disse o segundo citado:

“Já no tempo do ‘Destroyer’ e, na verdade, antes disso ainda, o álcool e outros elementos químicos já dominavam a vida de Ace e embaçavam seu juízo. Ele também não estava totalmente presente em ‘Destroyer’. Ele simplesmente sumia. Dizia que estava doente ou ficava na cama durante três dias ou mais, e você sabe que tem de levar as coisas adiante. Portanto, Ace deixou de tocar em alguns solos.”

Bob Kulick era o “substituto não oficial” de Ace Frehley no Kiss naquela época. Falecido em 2020, ele era o irmão mais velho de Bruce Kulick, que acabaria entrando para a banda na década de 1980. Ainda que conseguisse emular o estilo do “Spaceman”, sentia algumas dificuldades na hora de preencher a vaga.

“Eu sabia que eles gostavam muito do meu jeito de tocar, embora às vezes eu tocasse num tom e Gene dissesse: ‘pare’. Eu respondia: ‘por que é que você parou a gravação?’. ‘Bem, eu não gostei muito desse tom’. Eu prosseguia: ‘mas você nem sabe aonde eu ia chegar’. Então ele retrucava: ‘mas é que isso não é o Ace’. Então, eu tocava um solo que Ace jamais faria, mesmo se sofresse um transplante de cérebro ou se trocasse os dedos da mão, e Gene achava que se parecia com Ace.”

As cinco músicas incluídas foram “All American Man”, “Rockin’ in the USA”, “Larger Than Life”, “Rocket Ride” e “Any Way You Want It”. A seguir, com falas retiradas do livro supracitado, os integrantes e pessoas envolvidas comentam sobre cada uma das faixas.

As inéditas do Kiss em “Alive II”

“All American Man”

Uma das favoritas dos fãs entre as inéditas de “Alive II”, “All American Man” é uma das parcerias de Paul Stanley com o road manager Sean Delaney, que também era músico. Na visão de Bob Kulick, a faixa apresenta o estilo de composição do Starchild, com o que ele enxerga como sendo pitadas de influência dos Rolling Stones, especialmente de Keith Richards.

“Eu toquei a guitarra solo nessa música. Paul é um ótimo guitarrista base quando ele resolve se dedicar. Sempre achei que ele tinha alguma coisa do Keith Richards. Para mim, Paul criava aquela atmosfera um tanto despreocupada, no entanto, cheia de clima nos trechos de guitarra rítmica que, em minha opinião, funciona em todas as composições dele. Tudo o que ele cria, como ‘All American Man’, é totalmente adequado ao estilo dele tocar.”

“Rockin’ in the USA”

Se a primeira agrada, a segunda, criada por Gene Simmons, não está entre as preferidas nem mesmo de Paul Stanley. O próprio baixista enfatiza isso.

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A letra de alto teor patriótico é uma declaração de amor do israelense Simmons ao país que o acolheu. Contudo, talvez ele exagere um pouco no ufanismo.

“Todos da banda odeiam essa música, especialmente Paul. Ele acha que é uma música inferior, das piores. Vamos nos preparar com a maquiagem e ele começa a cantá-la, como se a dizer: ‘cara, essa é dose!’ Nós estávamos em turnê e eu sou muito patriótico em relação aos Estados Unidos. Consegui tudo no país e toda vez que leio meus próprios comentários parece que sou um desses caras engravatados que têm de usar capacetes. Sabe, esse tipo de coisa: ‘se você não ama os Estados Unidos, cai fora!’”

“Larger Than Life”

Dá para dizer que Gene Simmons se redime em “Larger Than Life”, segunda música dele a entrar na tracklist de estúdio de “Alive II”.

A ideia surgiu durante uma entrevista na qual ele foi questionado sobre seu lendário envolvimento com uma quantidade enorme de mulheres. Muitos dizem que isso é mais uma “lenda urbana” do que verdade absoluta, mas o músico sempre garante números absurdos como 4,8 mil amantes.

“Fiz uma entrevista com um cara e ele disse: ‘e esse negócio todo de você com as garotas?’. Eu disse: ‘bem, eu não sou o cara mais bonito do mundo, não sou o cara mais rico do mundo, não sou isso, não sou aquilo… mas vou lhe dizer o que tenho, o que tenho é maior que a vida’. Eu me ouvi dizendo isso na entrevista e depois eu escrevi a frase num papel, tanto a imagem como a coisa física do trocadilho. Física e figurativamente falando, ‘Larger Than Life’ aconteceu muito naturalmente. Peguei a guitarra e a música saiu.”

“Rocket Ride”

A composição creditada a Ace Frehley é a única na qual ele tocou de fato. “Rocket Ride” é uma parceria do guitarrista com o mesmo Sean Delaney que compôs com Paul Stanley.

Originalmente, a ideia da música surgiu enquanto Ace trabalhava no que viria a ser seu álbum solo, lançado em 1978 junto dos trabalhos separados dos outros integrantes. Contudo, ele cedeu a obra ao Kiss, até mesmo para ganhar confiança ao assumir os vocais.

Por sua vez, Delaney se lembra que a faixa saiu em meio à irritação de Frehley com o fato de que o colega só escrevia ao lado dos “patrões”.

“’Rocket Ride’ foi composta no Japão. Eu fui levado ao Japão por uma única razão: compor músicas com os rapazes. Eles estavam passando por uma fase de bloqueio e todos se sentiam incapazes de criar músicas. Portanto, fui ao Japão na condição de compor para eles. Ace ficou puto, procurou o Bill (Aucoin, empresário) e disse: ‘ele está aqui para todos nós, não só para Gene e Paul!’. Portanto, na verdade, foi um compromisso [risos]. Havia a questão do tempo e de prazo. Fui ao quarto dele e disse: ‘você tem alguns riffs?’. Ele me respondeu: ‘sim, tenho um aqui, mas não sei se os rapazes da banda são capazes de tocá-lo’ [risos]. Ace tinha aquele riff incrível. Ele tocou o riff de ‘Rocket Ride’ e eu criei a letra e a melodia.”

“Any Way You Want It”

Por fim, o Kiss apostou em um cover de “Any Way You Want It”, do Dave Clark Five. Paul Stanley considera a versão de sua banda bastante inferior à original e até se arrepende da ideia de ter colocado a música no álbum.

“Eu e Gene adoramos a música. Então cantamos a música no ‘Alive II’ e ela ficou boa. Mas a diferença entre a nossa versão e a versão original é que a versão original parecia que ia entrar em colapso a qualquer momento, porque havia muita energia, e quando nós cantamos, a nossa versão ficou muito estudada. ‘Any Way You Want It’ foi um caos no original. Tentamos reconstruir o caos e não foi possível. Não funcionou.”

Curioso é que Dave Clark, autor da música, afirmou gostar da versão do Kiss. Ele se encontrou com Gene Simmons anos depois e fez o elogio pessoalmente.

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André Luiz Fernandes
André Luiz Fernandes
André Luiz Fernandes é jornalista formado pela Universidade Metodista de São Paulo (UMESP). Interessado em música desde a infância, teve um blog sobre discos de hard rock/metal antes da graduação e é considerado o melhor baixista do prédio onde mora. Tem passagens por Ei Nerd e Estadão.

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