Após nove episódios sem sentido, “Mulher-Hulk” (na tradução de “She-Hulk”) finalmente acabou.
A série do Universo Cinematográfico Marvel (UCM), disponível no Disney+, fez uma adaptação quase perfeita com o formato e estética dos quadrinhos da heroína. Contudo, a obra se perde em um roteiro fraco com piadas que beiram o ridículo, falta de carisma, um CGI ruim e uma “guerra dos sexos” que não se justifica.
Apesar da ideia ousada do episódio final, não dá para saber por que esta produção existe. A bagunça é tamanha que se estende até às cenas pós-créditos: às vezes tem; às vezes, não.
Desleixo com a Mulher-Hulk
“Mulher-Hulk” conta a história da advogada de prestígio Jennifer Walters (Tatiana Maslany), prima de Bruce Banner (Mark Ruffalo). Após se envolver em um acidente de carro com o parente, acaba atingida por uma gota de sangue contaminado de seu familiar. Após isso, Walters ganha as habilidades de Hulk e precisa aprender a lidar com sua nova condição de vida.
Nos quadrinhos, a personagem recebe os poderes de Hulk após uma transfusão sanguínea com o primo. Por conta de “Thor: Amor e Trovão” já trazer uma questão envolvendo doenças e afins, é compreensível a mudança de origem.
Este, aliás, é o menor dos problemas. Diversos elementos em “Mulher-Hulk” passam uma imagem de certo amadorismo e desleixo que, até a Fase 4, nunca foi marca registrada dos estúdios. O mais visível é o terrível CGI de todos os episódios, completamente fora dos padrões de quem outrora trouxe o rejuvenescimento digital à luz, mas há outros tópicos a serem abordados.
Muita crítica, pouco humor
Em seu decorrer, “Mulher-Hulk” faz uma série de críticas a uma parcela de fãs homens que são mais conservadores, puritanos ou simplesmente menos predispostos em aceitar mudanças dentro do UCM. Esta parcela de público existe e seria mais sensato conquistá-la com uma boa história em vez de optar por discursos rasos ou ataques gratuitos.
É difícil entender como isso ocorreu, já que a série traz Jessica Gao (“Rick and Morty”) na função de roteirista e também envolvida em questões executivas. Gao é uma escritora fantástica, com senso de comédia apurado, conforme demonstrado em “Silicon Valley” e “Robot Chicken”. Aqui, porém, não há graça na maior parte das piadas.
Curiosamente, são os homens coadjuvantes que ficaram com os momentos de melhor humor. Alguns exemplos vêm de Bruce Banner, o Abominável do incrível Tim Roth (ainda mais quando acrescentado os outros personagens homens de seu retiro espiritual), o Wong do cada vez mais querido Benedict Wong e, claro, Charlie Cox com sua nova versão do Demolidor.
Protagonista merecia mais
Tatiana Maslany é uma das melhores atrizes que temos no mercado atualmente. Em “Mulher-Hulk”, apesar do que lhe oferecem para falar e fazer, a vencedora do Emmy consegue brilhar e demonstrar carisma e timing preciso.
Como ponto a favor, a produção da série demonstrou entender a essência da personagem – ou seja, soube-se como retratar Jennifer Walters e seu universo esteticamente falando. Ainda que com atraso – já que apareceu no último episódio –, o uso da quebra da quarta parede de modo que interfira na história, como ocorria nas HQs, se deu de modo ousado e inovador.
Contudo, houve problemas ao transferir isso para o papel. “Mulher-Hulk” não tem uma história consistente, não segue por um caminho, não parece ter um objetivo. Sequer há vilão.
Ocorre um entra-e-sai de situações que no fim não leva a lugar algum, do tipo: “hoje vamos contar sobre a Mulher-Hulk em um casamento”; “contaremos quando quiseram o sangue da Mulher-Hulk”; “abordaremos o dia que a Mulher-Hulk criou perfil no Tinder”. Por mais que nos quadrinhos a vida de Jennifer seja contada dessa forma – e dê certo –, é necessário algo mais em um universo cinematográfico compartilhado. A história precisa ao menos ser cabível para aquele contexto estabelecido.
“Mulher-Hulk” poderia ser ainda mais falha. Por pouco, não conseguiu: o título de pior produção da Marvel ainda é de “Ms. Marvel”. No entanto, a prima do Hulk é sim mais um prego no caixão do UCM – o segundo, no fim das contas.
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