Exclusivo: O que Steve Hackett pensa de “Selling England by the Pound”, do Genesis

Em entrevista, guitarrista comentou faixa a faixa o álbum mais clássico de sua antiga banda

Lançado em 13 de outubro de 1973, “Selling England by the Pound” foi o trabalho mais bem-sucedido da fase progressiva do Genesis. Embalado pelo estouro inesperado do single “I Know What I Like (In Your Wardrobe)”, o quinto álbum de estúdio da banda chegou ao 3º lugar no Reino Unido e ao 70º nos Estados Unidos, conquistando disco de ouro em ambos os territórios.

Na época, o material chegou a dividir a opinião dos fãs e da crítica — houve quem o tenha achado “pop” demais em comparação ao antecessor direto “Foxtrot” (1972), que trazia sua música mais longa, “Supper’s Ready”, de 23 minutos. Contudo, para o guitarrista Steve Hackett, que fez parte do Genesis de 1971 a 1977, “Selling England by the Pound” é hors concours.

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Em entrevista a este jornalista, Hackett teceu comentários a respeito de cada uma das oito faixas que compõem a obra. Na ocasião, o guitarrista trouxe à tona detalhes da composição e da gravação. Até mesmo apontou quais as suas favoritas e por quê.

“Selling England by the Pound”, por Steve Hackett

“Dancing with the Moonlit Knight”

Steve Hackett: “Provavelmente a melhor música feita pelo Genesis, porque passa por tantas mudanças e incorpora inúmeras influências que até antecipa o que as pessoas posteriormente descreveram como fusion. Tenho muito orgulho do que fiz nessa música, se bem que todos fizeram um ótimo trabalho. Teclados magníficos. Letra maravilhosa do Peter [Gabriel, vocalista]. Uso inteligentíssimo do violão de 12 cordas. Rock progressivo no seu melhor e uma banda jovem no auge de sua criatividade”.

“I Know What I Like (In Your Wardrobe)”

SH: “Construída despretensiosamente sobre um riff de guitarra que eu tinha guardado, é quase uma homenagem aos Beatles; uma canção tipicamente britânica, curta e bem-humorada. Parece uma banda se divertindo. E é”.

“Firth of Fifth”

SH: “Outro número épico no melhor estilo do Genesis. Meu solo de guitarra mais famoso e o mais longo da história da banda – mais de três minutos. É muito incomum ter tanto espaço assim para trabalhar. Então acho que nessa e em ‘Dancing with the Moonlit Knight’ você tem as minhas melhores contribuições para o Genesis”.

“More Fool Me”

SH: “Embora a tenha tocado recentemente com uma banda completa – cravo, violão de 12 cordas, violinos etc. –, a versão do álbum conta apenas com Mike [Rutherford, baixista] e Phil [Collins, baterista e vocalista] juntos. Não contribuí em nada nela”.

“The Battle of Epping Forest”

SH: “Outra faixa bem-humorada e, de certa forma, tipicamente progressiva, porque são tantos contrapontos que fica muito difícil estabelecer qual o fio condutor. Bateria e baixo soam totalmente à parte dos demais instrumentos. É uma faixa muito inteligente, o palco perfeito para Peter desenvolver suas diferentes caracterizações. As pessoas acham que falta guitarra nela, mas há bastante, só que fazendo coisas mais sutis, sobretudo na base. Ser guitarrista de uma banda como o Genesis significava não ser o típico guitarrista de rock. De vez em quando, você tinha que fazer as vezes de outros instrumentos para dar cor e destaque aos teclados ou ao baixo. Era parte do apelo da banda”.

“After the Ordeal”

SH: “Tentei emplacar essa música inicialmente como um rock tradicional, mas não funcionou. Então Tony [Banks, tecladista] sugeriu que a fizéssemos acústica. Acho que é a música do Genesis de que ele menos gosta. Talvez por ser uma composição minha, não sei. Quando a complementou posteriormente, Mike compôs uma melodia que retomou o clima elétrico da minha ideia original”.

“The Cinema Show”

SH: “Toquei-a ao vivo recentemente, uma versão nova. Tudo em ‘The Cinema Show’ é muito dramático, funciona muito bem com luzes e se torna ainda mais teatral sobre o palco. Levei anos para pensar sobre a melhor forma de apresentá-la ao vivo. Na gravação, tentei fazer com que minha guitarra soasse como uma flauta ou como se o som estivesse saindo da boca de um violão. Em outras palavras, o som acústico era enorme, enquanto o elétrico, mais contido. Fazíamos muito isso no Genesis, ou seja, a guitarra soar modesta e sutilmente. Era um exercício mental dos diabos pensar em como ajudar, complementar as músicas do Genesis. ‘The Cinema Show’ foi o grande teste para mim, mas eu a amo e amo o álbum e todas as suas anomalias. Todas as faixas soam diferentes, resvalando tanto no jazz quanto em climas mais psicodélicos. Tem uma pegada dos anos 1960, mas também dos anos 1970 puro. Gosto de pensar que o Genesis tinha essa habilidade de escrever tanto melodias simples como complicadas. Todos éramos influenciados por uma porção de estilos. Phil tinha muita influência do jazz de Buddy Rich. Mike era mais romântico. Tony, mais clássico. Peter sempre foi mais experimental. E eu estava tentando levar a guitarra a lugares nunca antes explorados, com tapping, saltos de oitava e sweep picking”.

“Aisle of Plenty”

SH: “É uma recapitulação da melodia de ‘Dancing with the Moonlit Knight’. Então, uma melodia que foi primeiro ouvida na guitarra, depois no teclado, depois no piano, é ouvida no violão de nylon, dando uma sensação de volta ao lugar de origem e, talvez, de ser a primeira vez que ela esteja sendo ouvida. O final, muito, muito sutil, é puro Genesis. Para que sair com um estrondo se pode sair de maneira extravagante?”

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Marcelo Vieira
Marcelo Vieirahttp://www.marcelovieiramusic.com.br
Marcelo Vieira é jornalista graduado pelas Faculdades Integradas Hélio Alonso (FACHA), com especialização em Produção Editorial pela Universidade Estadual Paulista (UNESP). Há mais de dez anos atua no mercado editorial como editor de livros e tradutor freelancer. Escreve sobre música desde 2006, com passagens por veículos como Collector's Room, Metal Na Lata e Rock Brigade Magazine, para os quais realizou entrevistas com artistas nacionais e internacionais, cobriu shows e festivais, e resenhou centenas de álbuns, tanto clássicos como lançamentos, do rock e do metal.

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