Nem problemas na entrada impedem Arctic Monkeys de conquistar o público no Rio

Além de hits, grupo de Sheffield aproveitou apresentação na Jeunesse Arena para fazer estreia ao vivo de "Sculptures of Anything Goes", do disco mais recente

O Arctic Monkeys deu início à porção sul-americana da turnê de seu novo álbum, “The Car”, na última sexta-feira (4), em apresentação na Jeunesse Arena, no Rio de Janeiro. E nada parecia capaz de impedi-los.

Seja o notoriamente problemático sistema de transporte carioca, o ainda mais complicado trânsito da Barra da Tijuca ao final da semana de trabalho ou uma confusão com relação a meia-entrada que perigou manter um terço do público para fora antes do início da apresentação. Nada os freou.

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*Fotos gentilmente cedidas por Daniel Croce / Rock em Geral devido à não-aprovação do credenciamento solicitado à repórter fotográfica do veículo.

Interpol e confusão

O Interpol iniciou os trabalhos às 20h45 em ponto. A eficiência, contudo, não se estendia ao som dos nova-iorquinos, que cobrem instrumentos e voz com tanto reverb a ponto de soarem abafados numa arena capaz de abrigar 18 mil pessoas.

Não importa a qualidade do material sendo apresentado – no caso do Interpol, algumas das melhores músicas indie dos anos 2000 – se ninguém consegue ouvir direito.

Ao fim do set de 45 minutos, uma pessoa na plateia avisa do problema na entrada. Há fotos de um mar de pessoas retidas por terem comprado ingressos de estudante-idoso.

Faltava meia hora para o show começar e quase um terço do público que havia esgotado tickets para a Jeunesse Arena estava do lado de fora. Foram obrigados a completar o preço da entrada inteira ou comprar de cambistas para poder entrar.

Solução e, enfim, Arctic Monkeys

Felizmente, quando o Arctic Monkeys entrou no palco pouco depois das 22h, todas essas pessoas magicamente entraram – o que a ameaça de um processo coletivo contra a organização não faz, né? A partir do momento em que a banda pisa no palco, era jogo ganho. Os gritos da plateia eram ensurdecedores.

Os rapazes de High Green, Sheffield claramente ainda estão experimentando com o setlist procurando encaixar as músicas de “The Car” da melhor maneira possível. “There’d Better Be A Mirrorball” abre o show de maneira dramática, seguida de uma avalanche de singles de trabalhos anteriores: “Brianstorm”, “Snap Out of It”, “Crying Lightning”, “Don’t Sit Down ‘Cause I’ve Moved Your Chair”, “Why’d You Only Call Me When You’re High”.

A esse ponto, eles tinham o público na palma da mão. Até mesmo a plateia mais casual, conquistada pelo rock de “AM”, parecia capturada pela dupla “Body Paint” e “Four Out of Five”, esta segunda do disco “Tranquility Base Hotel & Casino”.

Se há uma crítica a se fazer com relação ao setlist é que a partir daí, o ritmo do show ficou um tanto quebrado. “Arabella” foi sucedida após um final Black Sabbath por “I Ain’t Quite Where I Think I Am”, cujas guitarras estilo anos 1970 soam estranhas ao vivo. “That’s Where You’re Wrong”, uma das melhores do disco “Suck It And See”, fez uma aparição muito bem-vinda, seguida de “Cornerstone”, grande balada cafajeste do grupo.

Então veio o riff ameaçador do maior hit deles nos últimos 10 anos, “Do I Wanna Know?”. Gregos, troianos, israelenses, palestinos, todo mundo e sua mãe concordam quanto à qualidade da canção, especialmente ao vivo. Indies dançavam, enquanto heterotops na plateia pulavam no lugar, imaginando-se no céu.

Dali, o show deu uma redução na marcha, tocando a faixa-título de “Tranquility Base”, seguida de “Pretty Visitors”, “Do Me A Favour”, com uma rápida aceleração na forma de “From The Ritz to The Rubble”, antes de deixarem o palco ao som de “505”.

No período de tempo entre o set principal e o bis, cantos de cunho político tomaram conta da plateia. Exaltavam o presidente eleito e, principalmente, mandavam o atual ir para aquele lugar.

Bis e saldo final

O Arctic Monkeys retornou ao palco estreando ao vivo uma das melhores músicas de “The Car”, “Sculptures of Anything Goes”. Uma das raras composições conjuntas entre Alex Turner e o guitarrista Jamie Cook, a canção tem um aspecto assombrado no contexto de um show, servindo no futuro talvez melhor como uma quebra de ritmo no set principal. Ficou fora de lugar no bis.

O grupo fechou a noite com a dobradinha “I Bet That You Look Good On The Dancefloor” e “R U Mine?”, que foram tocadas de maneira um tanto displicente. A primeira estava num ritmo um pouco mais lento e a segunda com um fuzz na guitarra tão potente a ponto de dominar tudo.

Mesmo assim, o público parecia não se importar com nada. A fama do Arctic Monkeys na América do Sul já foi objeto de fascínio da imprensa americana, atribuindo desde nosso domínio online até o visual roqueiro deles, mas a resposta mais óbvia para explicar sempre é: a música é boa e os shows também.

*Fotos gentilmente cedidas por Daniel Croce / Rock em Geral devido à não-aprovação do credenciamento solicitado à repórter fotográfica do veículo.

Arctic Monkeys – ao vivo no Rio de Janeiro

  • Local: Jeunesse Arena
  • Data: 4 de novembro de 2022
  • Turnê: The Car

Repertório:

  1. There’d Better Be A Mirrorball
  2. Brianstorm
  3. Snap Out Of It
  4. Crying Lightning
  5. Don’t Sit Down ‘Cause I’ve Moved Your Chair
  6. Why’d You Only Call Me When You’re High
  7. Body Paint
  8. Four Out Of Five
  9. Arabella (com final de War Pigs)
  10. I Ain’t Quite Where I Think I Am
  11. That’s Where You’re Wrong
  12. Cornerstone
  13. Do I Wanna Know?
  14. Tranquility Base Hotel & Casino
  15. Pretty Visitors
  16. Do Me A Favour
  17. From The Ritz to The Rubble
  18. 505

Bis:

  1. Sculptures of Anything Goes (estreia ao vivo)
  2. I Bet that You Look Good On The Dancefloor
  3. R U Mine?

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Pedro Hollanda
Pedro Hollanda
Pedro Hollanda é jornalista formado pelas Faculdades Integradas Hélio Alonso e cursou Direção Cinematográfica na Escola de Cinema Darcy Ribeiro. Apaixonado por música, já editou blogs de resenhas musicais e contribuiu para sites como Rock'n'Beats e Scream & Yell.

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