A história de como o Aerosmith criou seu lendário álbum de estreia

"Inocência" da banda em estúdio fez com o que o resultado não fosse o esperado, mas reconhecimento veio com o tempo

Em seus primeiros anos, o Aerosmith enfrentou as típicas batalhas inerentes a qualquer banda iniciante na década de 1970. Ainda assim, as coisas pareciam se encaixar relativamente bem. Foi nesse cenário de experimentação – e muito trabalho – que nasceu o álbum de estreia, homônimo, lançado em 5 de janeiro de 1973.

Fundado em Boston, nos Estados Unidos, o grupo surgiu da junção de outros dois projetos que se admiravam mutuamente: o Chain Reaction, do então baterista e vocalista Steven Tyler, e a Jam Band, que reunia Joe Perry (guitarra), Tom Hamilton (baixo) e Joey Kramer (bateria). O último, por sua vez, conhecia Tyler. Todos se acertaram e nasceu daí o Fox Chase, que depois passou a se chamar Aerosmith por sugestão de Kramer.

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Isso tudo aconteceu em 1970. Ray Tabano foi trazido para a segunda guitarra, mas logo foi substituído por Brad Whitford, em 1971, quando a formação se estabilizou. No ano seguinte, foram contratados pela gravadora Columbia Records por intermédio de Frank Connelly, Steve Leber e David Krebs, empresários que convidaram o presidente do selo para ver uma apresentação da banda.

Com o contrato assinado e 125 mil dólares no bolso, era só ir para o estúdio e gravar. Mas essa parte, que geralmente é a mais “fácil”, foi o que ensinou o Aerosmith que eles ainda eram uma banda iniciante. E olha que a maioria das músicas já estava pronta.

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Composição itinerante

Desde 1970, quando o Aerosmith se formou de fato, os músicos já viviam juntos. A ideia era compor músicas e ensaiar em tempo praticamente integral.

É claro que isso não acontecia – e ao ver a situação, Frank Connelly teve a ideia de separar os músicos das mulheres e da boa vida que estavam acostumados, forçando-os a trabalhar. Em sua autobiografia, “O barulho na minha cabeça te incomoda?”, Steven Tyler declarou:

“Frank Connelly era inteligente o suficiente – e rico o suficiente – para saber que a banda precisava seguir sozinha e compor sem as mulheres por perto. E ele me obrigou. O filho da p#ta sabia… ele sabia. Se eu e Joe (Perry) pudéssemos compor músicas, nós levaríamos o grupo a um outro nível.”

Dessa forma, o Aerosmith passou algumas semanas em hotéis e casas bancadas pelo empresário. Com o foco na música, muitas das ideias que viriam a fazer parte do primeiro álbum surgiram nessa época.

“Movin’ Out”, por exemplo, foi a primeira composição da parceria entre Tyler e Perry, enquanto “Make It” e “One Way Street” apresentam influência direta dos Rolling Stones, algo que marcou o Aerosmith especialmente em seus primeiros anos.

Aerosmith perde a inocência

Toda essa preparação itinerante tinha como objetivo também facilitar as gravações. Os músicos eram inexperientes e, com exceção de Steven Tyler, nunca haviam pisado em um estúdio.

Para ajudá-los, foi escalado um produtor experiente: Adrian Barber, famoso pelo trabalho com o Cream. Mas não foi o suficiente para extrair o máximo do grupo.

Em entrevista ao Vinyl Writer Music, em 2022, o guitarrista Joe Perry relembrou a inocência do grupo, que achava que o estúdio resolveria qualquer problema que a sonoridade tivesse. Para ele, que odeia especialmente o som da própria guitarra no disco de estreia, foi uma lição dura para toda a banda.

“Nós pensávamos que trabalhar em estúdio seria diferente, onde iríamos só chegar e o estúdio faria o som ser de uma certa maneira. Mas na verdade, é o microfone que capta o que você toca, e é isso que é gravado. Não existe um ‘pó mágico’ que faz o seu disco soar como você acha que ele deveria e essa foi a maior lição que aprendemos.”

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Em sua autobiografia, “Rocks”, Perry é ainda mais duro nas críticas e cita o trabalho do produtor como “inútil”. O guitarrista também culpa sua própria inexperiência para explicar a Barber o que tinha em mente – o que colaborou para o resultado final abaixo do esperado.

“Nós não soávamos nem espontâneos e nem explosivos, que são duas de nossas maiores qualidades. Minhas tentativas de explicar isso a Barber entravam por um ouvido e saíam pelo outro. Não era inteiramente culpa dele. Eu não tinha o vocabulário técnico adequado para dizer o que precisava ser dito.

No final, Barber e seus assistentes simplesmente colocavam os microfones, pegavam um take aceitável e seguiam em frente. Depois de cada take, Steven e eu sentávamos atrás da mesa, tentando aprender o máximo que podíamos, mas Adrian não estava interessado em dar uma aula de gravação.”

De forma geral, nenhum dos membros do Aerosmith ficou feliz com o resultado das gravações, mas Perry e Tyler são os maiores críticos. O vocalista ainda teve que lidar com uma forte insegurança que, segundo o próprio, era compartilhada por todos, mas o afetava mais diretamente. Ele falou sobre o assunto em “Walk This Way”, biografia oficial do grupo.

“Sim, eu mudei minha voz quando fizemos os vocais finais. Eu não gostava da minha voz, de como ela soava. Eu estava inseguro, mas ninguém me disse para não fazer isso.”

O resultado é um disco onde a performance de Tyler é praticamente irreconhecível quando comparada com os trabalhos seguintes. A única música que traz os vocais marcantes dele é também o maior hit: a balada “Dream On”, composta por ele antes de entrar para o grupo, mas aperfeiçoada durante o período itinerante, logo antes das gravações. Não à toa, é o ponto alto do registro.

Uma primeira experiência

“Aerosmith”, o álbum, não foi um grande sucesso na época do lançamento e não foi festejado pela crítica. Em seus primeiros anos, a banda era frequentemente comparada aos Rolling Stones e New York Dolls, duas grandes influências, mas quase sempre com paralelos traçados de forma pejorativa.

Há quem culpe a própria gravadora Columbia Records pelo resultado morno nas vendas. O selo dedicou bem mais publicidade ao disco de estreia de Bruce Springsteen, “Greetings from Asbury Park, N.J.”, lançado exatamente no mesmo dia 5 de janeiro de 1973.

Ainda assim, os músicos pagariam o pato. A Columbia considerou seriamente encerrar o contrato com a banda, dada a baixa repercussão. Como forma de garantir uma segunda chance, o empresariamento do grupo convenceu a gravadora a lançar “Dream On” como single e a investir na divulgação. A ação garantiu a sobrevivência do projeto e sua estreia na parada Billboard Hot 100, mesmo que em uma modesta 59ª colocação.

Além da popularidade, é inegável que o Aerosmith ganhou mais qualidade ao longo dos próximos lançamentos – inclusive com a solução de muitos dos problemas relacionados ao trabalho em estúdio. A partir de “Get Your Wings” (1974), Steven Tyler em especial se mostrou bem mais solto. De acordo com Joe Perry, o grupo passou a se sentir totalmente confortável durante sessões de gravação somente no clássico “Rocks” (1976), seu quarto álbum, em diante.

O tempo foi mais gentil com a estreia do Aerosmith e hoje o disco tem um status melhor do que na época de seu lançamento. Quando eles deslancharam de vez em 1975, com “Toys in the Attic”, “Dream On” foi relançada como single e, aí sim, se tornou um verdadeiro sucesso: atingiu o 6º lugar das paradas americanas 10º das canadenses. Com isso, o disco também foi “redescoberto” e decolou nas vendas – mesmo que alguns anos depois.

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André Luiz Fernandes
André Luiz Fernandes
André Luiz Fernandes é jornalista formado pela Universidade Metodista de São Paulo (UMESP). Interessado em música desde a infância, teve um blog sobre discos de hard rock/metal antes da graduação e é considerado o melhor baixista do prédio onde mora. Tem passagens por Ei Nerd e Estadão.

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