Acho que até o próprio Iggy Pop entenderia se eu dissesse diretamente a ele que não esperava tanto assim de “Every Loser”. Aliás, é difícil apostar tantas fichas no 19º álbum solo de um artista de 75 anos – ainda mais alguém como Pop, que parece já ter feito de tudo um pouco na carreira e, naturalmente, transmite a impressão de que não poderia oferecer uma obra que ao menos tivesse frescor.
Queimei a língua. “Every Loser”, que chega nesta sexta-feira (6) via Gold Tooth Records, é talvez um dos melhores discos da oscilante – especialmente na última década – trajetória solo de Iggy. Dois acertos ajudam a explicar o resultado: o cara ainda tem o que dizer – lírica e melodicamente – e um timaço de colaboradores o ajudou nesse processo.
O primeiro mérito citado, claro, é o mais importante. Músicos preguiçosos não conseguem gerar grandes trabalhos quando chegam a idades mais avançadas. E isso costuma ocorrer porque esses artistas estão alienados do mundo. Só sabem replicar o que aprenderam a fazer no passado. Não conseguem se posicionar no mundo atual.
Reside aí o grande acerto de “Every Loser”, além de conectá-lo ao segundo êxito. Iggy não só tinha lenha para queimar como cercou-se de um produtor talentoso, mas que tem menos da metade de sua idade, e de músicos igualmente competentes, só que de outras gerações. Andrew Watt (que já gravou de Ozzy Osbourne a Post Malone), responsável pela produção, também tocou guitarra no material como um todo. Duff McKagan (Guns N’ Roses) e Chad Smith (Red Hot Chili Peppers) assumiram baixo e bateria, respectivamente. Os também bateristas Taylor Hawkins (Foo Fighters, falecido no início do ano) e Travis Barker (Blink-182) e o guitarrista Stone Gossard (Pearl Jam) entraram como convidados especiais.
Tudo isso faz com que o álbum soe como Pop em 2023, ainda que a voz bem preservada nos leve a outras épocas de sua carreira. As letras sempre ácidas do artista dialogam com temas contemporâneos, de mídias sociais (“Comments”) à vulnerabilidade trazida pelo envelhecimento (“Morning Show”), enquanto o cardápio musical oferece punk rock (“Neo Punk”), hard/classic rock (“Modern Day Ripoff” – com uma sonoridade quase Alice Cooper), synthpop (“Strung Out Johnny”), baladas (“New Atlantis”) e post-punk (a já citada “Comments”).
A versatilidade é encorpada por uma performance instrumental consistente, não apenas da banda de apoio fixa, como também dos convidados. Não dá para deixar de destacar as colaborações de Hawkins, que podem ser as últimas gravações inéditas a ouvirmos dele, em “Comments” e “The Regency”. E se a guitarra de Andrew Watt foi criticada quando guiou Ozzy Osbourne em “Ordinary Man” (2020) – mais pelo ranço de fãs que queriam ouvir Zakk Wylde do que pelo resultado final em si –, aqui não há qualquer ponto que possa gerar comentários negativos, pois a performance e os timbres soam corretos.
Em meio a uma carreira solo definida pela já mencionada inconstância, “Every Loser” é uma grata surpresa. Ah, se todo artista septuagenário nos oferecesse um álbum assim…
Ouça “Every Loser” a seguir, via Spotify, ou clique aqui para conferir em outras plataformas digitais.
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Iggy Pop – “Every Loser”
- Frenzy
- Strung Out Johnny
- New Atlantis
- Modern Day Rip Off
- Morning Show
- The News For Andy
- Neo Punk
- All The Way Down
- Comments
- My Animus Interlude
- The Regency
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