Originalidade é algo importante para certas pessoas no rock. A percepção de que está sendo copiado, ou até sendo zoado, afeta muito o ego de alguém, especialmente quando estamos falando de vocalistas.
O Red Hot Chili Peppers e o Faith No More no começo nutriam uma rivalidade amigável, sendo responsáveis, junto com o Fishbone, por criar um subgênero de rock mais influenciado por funk.
Tudo isso mudou com a chegada de Mike Patton ao grupo de San Francisco.
A treta entre Mike Patton e Anthony Kiedis
Como olhar num espelho
O Faith No More explodiu em 1990 graças ao álbum “The Real Thing” e seu single “Epic”, cujo clipe, em rotação pesada na MTV, sacudiu algo em Anthony Kiedis. Na biografia oficial do Red Hot Chili Peppers, “By the Way”, o cantor falou sobre ver Patton em “Epic”:
“Eu assisti ao clipe de ‘Epic’, e ver ele pulando de um lado pro outro, fazendo rap e parecia que eu estava olhando para um espelho.”
Na época, a banda de Los Angeles ainda não havia estourado com “Blood Sugar Sex Magik”. Testemunhar alguém chegar ao top 10 das paradas aparentemente roubando seus trejeitos irritou Kiedis de forma profunda.
Numa entrevista para a Kerrang! em 1990, Anthony não mediu palavras:
“Meu baterista fala que ele vai sequestrar ele [Patton], raspar sua cabeça e decepar um de seus pés, só para ele precisar encontrar um estilo próprio. Especialmente no Reino Unido, onde o Faith No More é bem mais conhecido que a gente. Na América é uma história diferente, pessoas estão a par da influência profunda que tivemos neles.”
Patton respondeu a esses comentários de maneira diplomática: apontou que qualquer semelhança é apenas superficial, considerando a diferença sonora entre os dois grupos. Enquanto o Red Hot Chili Peppers puxava mais para o funk tradicional, o Faith No More bebia também de metal e experimental, o que se provou em lançamentos subsequentes.
Interferência na carreira
Inicialmente, ficou por isso, mas a treta ganhou contornos mais afiados e pontiagudos em 1999. O Red Hot Chili Peppers estava prestes a fazer sua volta triunfal com John Frusciante no álbum “Californication”, e o Mr. Bungle, banda original de Mike Patton, ia lançar seu primeiro disco em quatro anos, “California”.
Ambos os trabalhos estavam programados para sair no mesmo dia, 8 de junho, pela mesma gravadora, Warner. Para evitar confusão por causa dos títulos parecidos, o disco do Mr. Bungle foi movido para julho. Até aí, tudo bem.
O problema mesmo começou quando vários festivais de grande porte cancelaram shows da banda. Em entrevista ao AV Club em 1999, Patton finalmente quebrou seu silêncio sobre o Chili Peppers.
“Eu não fico contente pensando sobre eles, ponto. [Risos] Mas nós tivemos uns encontros recentes, bem, não foram encontros, mais coincidências. Coincidências estranhas. Digo, o Chili Peppers é algo que não penso a respeito há anos. E vou até ir adiante e te contar isso. Por que não? Não falei pra ninguém mais ainda. Estávamos tentando marcar alguns shows do Mr. Bungle na Europa no último verão, alguns festivais grandes, algo que nunca fizemos antes. Achávamos que seria uma coisa boa. Poderíamos tocar na frente de muita gente que não nos conheceria se não fosse por isso. Nosso agente estava no processo de marcar esses festivais e parecia que tínhamos conseguido alguns bem bons – um na França, outro na Holanda, alguns festivais de nome grande. Parece que alguém está guardando rancor! [Risos] Nós fomos chutados de vários festivais, incluindo um muito grande na Austrália, especificamente porque Anthony Kiedis não nos queria no lineup. Ele ameaçou tirar o Chili Peppers se o Mr. Bungle estivesse no festival. Agora, raciocina essa! É tão patético! Esse cara está vendendo milhões de discos! Nós não somos um grão de poeira na bunda desse cara. Qual o problema dele? Inacreditável.”
Vingança infantil
A vingança do Mr. Bungle veio da maneira mais infantil possível. Durante um show no dia das bruxas em Pontiac, Michigan, o estado natal de Kiedis, o grupo subiu ao palco fantasiado de Red Hot Chili Peppers.
Eles então começaram a tocar paródias de canções do grupo de Los Angeles, com ênfase em tirar sarro da luta de vários integrantes com vício em heroína, além da morte do guitarrista Hillel Slovak e do ator River Phoenix, amigo da banda.
Patton continuou a fazer piadas de gosto duvidoso às custas de Kiedis e seu passado com heroína em entrevistas de seu outro projeto, Fantômas. Em uma delas (via YouTube), ele ainda afirmou que aqueles cancelamentos de festivais arruinaram a carreira do Mr. Bungle. O sentimento foi ecoado pelo baixista do grupo, Trevor Dunn, que escreveu em seu site oficial:
“Tudo que você já escutou sobre o Red Hot Chile Poppers [sic] nos ferrando é verdade. Não sei exatamente por que fizeram isso além da inveja de um não-cantor. Nos mantiveram fora de festivais na Europa, Big Day Out na Austrália, e eles fizeram adiar a data de lançamento do nosso disco enquanto lançavam ‘Californication’. Por tudo isso, eles me ferraram, me fazendo perder muito dinheiro, algo que sempre terei raiva a respeito. A melhor parte é que eles tiveram total apoio da gravadora.”
Kiedis só se manifestou publicamente sobre as acusações feitas por Patton na biografia oficial do Red Hot Chili Peppers, “By the Way”. Na ocasião, aproveitou para deixar claro o que pensou sobre essa brincadeira em Michigan
“Eu estou cag#ndo e andando se eles vão tocar no mesmo festival que a gente. Mas depois que ouvi sobre o show de Halloween onde tiraram sarro da gente, quero que ele vá tomar no c# e que a banda inteira vá tomar no c#. Espero que todos eles morram.”
Mike Patton e Anthony Kiedis atualmente
Desde então, a treta parece ter ficado morna. Em uma entrevista para a Bizarre Magazine (via LA Weekly) em julho de 2010, Mike Patton falou da animosidade como algo do passado.
“Nem vale a pela falar a respeito. Tenho a menor ideia sobre o que era na época e continuo não tendo ideia agora. Mas aposto que nos abraçaríamos se a gente se visse hoje em dia.”
Kiedis nunca se manifestou sobre o assunto depois da biografia oficial do Red Hot Chili Peppers. Porém, o grupo tocou “We Care a Lot” num show de aquecimento para a apresentação no intervalo do Super Bowl 48, em 2014.
Alguns interpretaram como indireta, por se tratar de uma música do Faith No More lançada antes da entrada de Mike Patton no grupo (Chuck Mosley gravou os vocais). Outros viram como um sinal de paz entre os dois lados.
Nunca vamos saber.
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O articulista tomou partido a favor do Anthony Kieds. Ridículo e infantil. Agora compare a obra e o talento desse cantor de luau com o talento e a obra de Mike Patton. Será um humilhante 7×1. A comicidade desse show do Mr. Bungle foi genial, zombeteira, criativa e inesperada. De um lado uma banda que criou uma fórmula musical de sucesso e a repete há 40 anos para encher o rabo de dinheiro; do outro uma banda criativa e imprevisível que escolheu a arte e não o dinheiro ou sucesso como objetivo de trabalho.