Atraso de duas horas. Problemas no som. Erros de performance. Repertório cortado pela metade. Tudo isso aconteceu durante o primeiro dos 31 shows da atual turnê de Paul Di’Anno pelo Brasil, realizado no Complexo Armazém, em Fortaleza, na última sexta-feira (27). O relato do jornalista Gustavo Queiroz, publicado neste site, é o mesmo de centenas de fãs que compareceram ao evento e saíram decepcionados em vários sentidos.
Felizmente, a situação se resolveu parcialmente no sábado (28), durante o segundo show da tour, na casa Estelita, no Recife. O atraso também foi longo (cerca de três horas com relação ao horário anunciado) e Di’Anno não vive seus melhores dias em termos de voz (o que é perfeitamente compreensível dadas as condições), mas a banda de apoio formada por membros das atrações de abertura Noturnall e Electric Gypsy estava mais entrosada, o repertório foi quase todo tocado (apenas duas músicas cortadas) e os graves problemas de som não se repetiram.
Ainda assim, há fãs desconfiados. Entre este domingo (29) e o meio de março, outros 29 shows ainda serão realizados em diferentes estados (clique aqui para conferir o itinerário completo da tour). Há quem desconfie que datas podem cair, dado o fiasco de Fortaleza. Paul, que está sem fazer turnês há anos e chegou a anunciar aposentadoria da música antes da pandemia, passou por uma cirurgia nos dois joelhos e está em processo de recuperação. Há motivos para manter o receio?
De acordo com Eliel Vieira, não. O produtor responsável pela turnê garante que o pior já passou e que os próximos shows ocorrerão conforme o combinado. Em entrevista exclusiva a IgorMiranda.com.br, Vieira explicou tudo o que levou ao show catastrófico em Fortaleza – segundo ele, Paul estava em estado deplorável quando veio ao Brasil – e incentivou o público a comparecer nas próximas apresentações, visto que os problemas estão sendo resolvidos.
A ideia da turnê e a saúde de Paul Di’Anno
Ainda em maio de 2022, Paul Di’Anno prometeu em um post de Facebook a realização de 14 shows pelo Brasil. No mês seguinte, uma apresentação em São Paulo foi confirmada. Sua aguardada cirurgia de joelho ocorreu em setembro; poucos dias depois, uma tour de 24 datas foi anunciada. Depois, divulgaram um itinerário ainda maior, de 31 cidades.
Eliel Vieira garante que desde o início eram planejadas 31 apresentações, mas parte delas foi anunciada posteriormente devido a questões contratuais ainda pendentes na primeira divulgação. O produtor explicou que o número alto de datas foi um pedido do escritor croata Stjepan Juras, fã de Iron Maiden que “adotou” Paul Di’Anno quando ele estava na pior e arrecadou mais de 100 mil euros para seu tratamento através de campanhas, vaquinhas e vendas de merchandising. A ideia era fazer com que o sacrifício de uma viagem internacional valesse a pena financeiramente.
“Ele apenas pediu que não agendássemos do mais do que 3 shows em sequência e que a logística fizesse sentido. E foi o que fizemos. Em muitos pontos tivemos que sacrificar um dia bom para shows, como sexta-feira, para que o dia de folga fosse respeitado. Também cuidamos para que as viagens maiores acontecessem apenas em dias sem shows. Mas a turnê poderia ter sido muito maior. Se tivéssemos dito ‘sim’ para todas as propostas que chegaram, facilmente passaria de 60 datas apenas no Brasil. Optamos que a turnê não se estendesse por mais de 6 semanas no Brasil, já que Paul também queria visitar outros países da América Latina.”
A realização da turnê de Di’Anno por meio da editora Estética Torta ocorreu, inclusive, porque no Brasil os livros de Juras são editados pela empresa. Vieira foi pessoalmente à Croácia para negociar a turnê e ver o cantor – que “estava ótimo” na época, justificando um investimento que ultrapassou R$ 2 milhões para a realização da tour. O produtor confirmou que os shows foram marcados para que o tratamento de saúde do ex-Iron Maiden continuasse a ser pago.
“As cirurgias foram bem-sucedidas, mas depois de um tempo o dinheiro levantado acabou. Como o tratamento precisava continuar, surgiu a ideia de uma turnê. A equipe médica que acompanhava Paul na Croácia não apenas ‘autorizou’ que ele fizesse a turnê, mas o incentivou a fazê-lo, diante do progresso na sua recuperação. Seria uma ótima oportunidade para tirá-lo da zona de conforto, o que é necessário no caso dele. Stjepan ficou encarregado então de agendar os shows e, já que éramos os parceiros dele no Brasil, foi natural o convite.”
O início dos problemas
Paul Di’Anno chegou a fazer alguns shows na Grécia ao lado do guitarrista Gus G antes da turnê pelo Brasil. Foram apresentações isoladas, mas que serviram para mostrar que ele ao menos conseguiria subir no palco. Até meados de janeiro, segundo Eliel Vieira, o vocalista estava ótimo. A situação desandou a partir da segunda metade do mês.
“Por razões que desconheço, Paul deixou a Croácia no dia 14 de janeiro e ficou 9 dias sozinho e desassistido em Londres. Quando Stjepan encontrou Paul no aeroporto de Londres em 23 de janeiro para que viessem juntos para o Brasil, Paul estava em um estado completamente deplorável, cheirando muito mal, roupas encharcadas de urina, que aparentemente não eram trocadas há dias. Seu estado estava tão catastrófico que ele foi impedido de viajar pela companhia aérea por duas vezes (na segunda e terça-feira, dias 23 e 24), o que não apenas matou o planejamento feito para que Paul tivesse três dias inteiros de descanso e ensaios no Brasil, mas criou uma tensão muito grande na cabeça de Paul sobre se a turnê aconteceria ou não. Chris Dale (ex-baixista da banda solo de Bruce Dickinson) se ofereceu a ajudar e veio com Paul para o Brasil, e eles conseguiram voar na quarta-feira (dia 25) à noite.”
De acordo com Eliel, Paul chegou ao Brasil “no estado mais totalmente caótico que se possa imaginar”. O vocalista teve que esperar 3 dias inteiros no aeroporto para conseguir viajar “sem conseguir administrar suas necessidades fisiológicas e com uma preocupação forte de que a turnê pudesse ser cancelada”. Nas palavras do produtor da turnê, “cuidados médicos urgentes” eram necessários, mas a turnê seria iniciada no dia após a chegada do cantor – que sequer quis discutir a possibilidade de cancelar as apresentações da primeira semana, pois queria muito cumprir todas as datas.
“Então montamos uma operação de guerra. Alteramos os voos de São Paulo para Fortaleza (que seriam naquela mesma quinta, 26) para o dia seguinte (sexta, 27) e passamos o dia cuidando do Paul em São Paulo. Foi um pesadelo pra gente (que não tinha uma equipe apta a receber uma pessoa naquele estado) e para ele. Mas conseguimos que Paul recebesse um cateter urinário, cuidamos de sua limpeza e higiene, compramos roupas novas, uma cadeira de rodas adequada… e contratamos em Fortaleza um fisioterapeuta, uma enfermeira e um segurança bilíngue para ficarem com Paul em tempo integral até o fim da turnê.”
Caos em Fortaleza; recuperação no Recife
Com tantos problemas, era de se esperar que o primeiro show da turnê de Paul Di’Anno não fosse bom. Mas foi pior do que o esperado, tendo em vista que a equipe dos shows teve, segundo Eliel Vieira, muitos problemas técnicos com equipamentos locais – o que afetou a apresentação do Noturnall, antes do ex-vocalista do Iron Maiden.
“O próprio show do Noturnall teve muita microfonia, falta de retorno, correria dos técnicos de um lado para o outro, a ponto do show deles próprios ter sido diminuído por causa desses problemas. Além disso, o baterista Henrique Pucci passou mal e quase desmaiou na bateria durante o show. Foi um conjunto de fatores que não teriam acontecido se Paul tivesse conseguido voar para o Brasil na data que programamos.”
No Recife, a situação começou a ser controlada. Di’Anno chegou na capital pernambucana às 20h, pois, segundo Vieira, optou-se que ele “viajasse terrestre e dormindo o dia todo” em vez de avião.
“Ele chegou descansado em Recife, já recebendo o tratamento dos profissionais de saúde que estão o acompanhando. A banda de apoio é a mesma do dia anterior, mas em Recife o baterista não passou mal e não houve problemas técnicos. Tudo funcionou lindamente bem.”
Ainda assim, o caso de Fortaleza não foi esquecido pela produção. Eliel Vieira diz que há a possibilidade de adicionar um show extra na cidade, mas depende de como será a evolução do artista ao longo das próximas semanas.
“Ainda estamos estudando o que fazer e como. Temos uma perna no Nordeste em março e chegamos a pensar em adicionar uma data em Fortaleza para que todos possam ter o show inteiro. O problema dessa possibilidade é que precisaríamos usar um dos dias de folga do Paul para essa data. Se as condições de Paul melhorarem com o passar das semanas, essa pode ser uma boa possibilidade. Caso isso não aconteça, encontraremos alguma forma de compensar/ressarcir os fãs.”
A condição atual de Paul Di’Anno
Eliel Vieira negou qualquer boato de que o clima do Nordeste brasileiro teria causado problemas na voz de Paul Di’Anno – algo também notado durante as apresentações em Fortaleza e Recife. Porém, estamos diante de um vocalista que fuma há décadas e não é exatamente conhecido por tomar cuidados com a saúde. Muitos fãs já sabem que não se deve esperar uma performance perfeita do cantor, mas é importante enfatizar sua situação atual.
“A equipe médica que está seguindo Paul está fazendo o melhor dentro das possibilidades que existem e daquilo que Paul permite que façamos para ajudá-lo. Ele fuma há décadas e não é realista pensar que no contexto de estresse que ele enfrentou nas últimas semana ele vai simplesmente estalar os dedos e mudar seus hábitos. Mas os profissionais conseguem ajudar com algumas orientações e técnicas.”
Fora isso, de acordo com Vieira, Di’Anno tem no Brasil uma situação melhor do que teve em seus dias no Reino Unido. Então, a tendência é de melhora.
“Paul está acompanhando de um fisioterapeuta, uma enfermeira e um ajudante bilingue, 100% do tempo. Ele terá aqui o que tinha na Croácia e não teve no Reino Unido: cuidado médico profissional. Aliás, os EPN (especialistas em porra nenhuma) que disseram que a turnê deveria ser cancelada e que Paul ir pra casa são muito inocentes. Eles imaginam o cenário de conto de fadas no qual Paul saiu de um lugar idealizado, onde ele tem toda atenção e suporte, para vir para a selva do vale-tudo. E que as contas se pagam sozinhas com um estalar de dedos. Os 9 dias que Paul passou em sua casa foram suficientes para comprometer boa parte da evolução que ele teve na Croácia. Não há mais dinheiro para que o tratamento continue até onde fui informado. Aqui, pelo menos, ele está 100% assistido por excelentes profissionais, fazendo o que ama, e recebendo valores que ajudarão a pagar suas contas.”
Por fim, Eliel Vieira acredita que os problemas vistos em Fortaleza não irão se repetir. E deixou um recado final para os fãs de Paul Di’Anno.
“Creio que os motivos por trás do desastre de Fortaleza foram devidamente explicados. Estamos fazendo tudo para que sua estadia aqui seja acolhedora e ajude em sua recuperação. Estamos viajando com uma equipe de 22 pessoas agora, todos trabalhando para que tudo saia bem. A tendência que dia após dia as coisas fiquem mais fáceis para o Paul. É nossa esperança. Compareçam aos shows, comprem o merchandising das bandas. Paul recebe uma comissão grande por cada item comprado dentro das casas de show. E tudo será usado no seu tratamento. Comprem também os itens das bandas convidadas: Noturnall e Electric Gypsy. São bandas excelentes que estão contribuindo bastante com a turnê.”
Paul Di’Anno segue em turnê pelo Brasil até o meio de março. Clique aqui para conferir o itinerário completo.
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Esse negócio de ser encontrado em estado deplorável em Londres deve ter a ver com drogas. Só pode.
Pelos relatos, dá pra ver que Di’anno está cercado pelas melhores pessoas no Brasil, que lhe dedicam esforços verdadeiramente profissionais e são humanamente devotados a ele. Pena que muitos rock stars, e é notável que Di’anno também, não se comportam á altura, tendo atitudes até indigentes em relação ao cuidado de si mesmos!
Cair na lábia do Eliel, conhecido por dar o calote nas vendas de livros de sua antiga editora (que ele fechou depois das inúmeras denúncias) e de ingressos de shows que ele ‘tentava produzir’ e simplesmente sumia com o valor dos ingressos vendidos, é ser muito pré-mirim, para dizer o mínimo. Infelizmente, devido ao fato de ele ser o organizador da turnê do Paul, eu não arriscarei ir ao show. Não quero correr o risco de ser mais um dos inúmeros compradores de ingressos que acabaram perdendo o dinheiro e passando raiva tentando reaver os valores. E nem quero entrar na estatística dos compradores de livros (de péssima qualidade, tanto na tradução horrorosa feita pelo Google como na qualidade do papel) que não receberam os livros que compraram. E tudo isso enquanto o ‘produtor-tradutor-escritor-editor’ bloqueava tudo e todos no Facebook e Instagram quando pediam explicações sobre as compras e solicitavam o dinheiro de volta. Depois não reclamem que caíram nesse lero-lero de novo. Melhoras ao Paul, só lamento que esteja ‘assistido’ por esse naipe de gente.