5 discos para conhecer as diversas faces de Alice Cooper

Inquietude é a marca registrada nas mais de cinco décadas em atividade do cantor; resultados frequentemente passaram longe do satisfatório

Embora fosse David Bowie o chamado “camaleão do rock”, Alice Cooper também muda — ou pelo menos mudava — de estilo musical a cada temporada.

Alice nasceu Vincent Damon Furnier no dia 4 de fevereiro de 1948 em um hospital que chamavam de “Palácio do Açougueiro” em Detroit, Michigan. Ainda criança, mudou-se com a família para Phoenix, Arizona.

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Sua primeira banda, ainda na época da escola, foi o The Earwigs, que mudaria de nome para The Spiders e, por fim, para The Nazz. Ao tomar conhecimento que Todd Rundgren tinha uma banda chamada The Nazz, Vince e os colegas escolheram Alice Cooper; pseudônimo que também adotaria para si.

Nos primórdios, a banda espalhou o boato de que Alice Cooper era o nome de uma garota acusada de ser uma bruxa no ano de 1600, que a havia contatado por meio de um tabuleiro Ouija. Furnier explicou mais tarde que pensou em Alice Cooper por ser um nome doce e inocente que contrastaria com o que seria apresentado nos shows: cobras, camisas de força, cadáveres de mentirinha e outros adereços no estilo de filmes de terror. Os shows eram concluídos com a “execução pública” de Alice por vários meios, incluindo cadeira elétrica, forca e guilhotina.

Apesar de ter mudado seu nome oficialmente para Alice Cooper, Vince pensa em Alice como um personagem totalmente separado de si mesmo, conforme escreve na autobiografia “Alice Cooper, Golf Monster” (2007):

“Posso viver minha vida e ser Alice Cooper, o jogador de golfe ou o dono do restaurante ou o filantropo. Se você quer ver o outro Alice, você tem que ir ao show.”

A carreira discográfica de Alice Cooper compreende 28 álbuns de estúdio — dos quais nove lhe renderam disco de ouro e três, disco de platina —, onze ao vivos e mais de vinte coletâneas. A abrangência de estilos é tremenda também: acid rock, hard rock, ópera-rock, new wave, glam metal, metal industrial, rock and roll…

Veja abaixo quais os 5 discos mais indicados para conhecer muitas das diversas facetas de sua longeva e diversificada discografia.

5 discos para conhecer as diversas faces de Alice Cooper

“Pretties for You” (1969)

Se os critérios do quadro “5 discos para conhecer” fossem o gosto pessoal do autor ou a popularidade ostentada pelo álbum, nunca que teríamos a estreia de Alice Cooper, então um grupo homônimo a seu vocalista, entre os indicados. Isso porque “Pretties for You” beira o anti-rock tamanho o grau de experimentalismo.

Embora “The Piper at the Gates of Dawn” (1967), único álbum gravado pelo Pink Floyd sob a liderança do vocalista e guitarrista Syd Barrett, seja apontado como a principal influência — o guitarrista Glen Buxton chegou a declarar que ouvia o disco repetidamente na época —, “Pretties for You” carece de um norte, de uma identidade, de algo que amarre seu repertório que não a esquisitice.

Dito isso, à deriva na psicodelia fajuta que saiu pelo selo Straight Records de Frank Zappa, algumas pérolas do cânone cooperiano, como “Levity Ball” (um remonte aos primórdios dos videoclipes) e “Reflected”, que posteriormente serviria revisitada e, após mudar de nome e letra tornando-se “Elected”, viraria uma espécie de hino do rock galhofa-eleitoreiro de meados da década de 1970.

“Love It to Death” (1971)

A bem da verdade, qualquer álbum de estúdio lançado pelo Alice Cooper Group entre 1971 e 1974 cairia bem na lista. Optei por “Love It to Death” por ser o primeiro da série que muitos consideram o ápice da carreira de Alice.

Sob o crivo do produtor Bob Ezrin — cuja folha corrida posterior incluiria clássicos como “Destroyer” (1976), do Kiss, e “The Wall” (1979), do Pink Floyd —, Cooper, Buxton, Michael Bruce (guitarra), Dennis Dunaway (baixo) e Neal Smith (bateria) virariam as costas para o lisergismo despropositado de “Pretties for You” — e cuja remanescência em “Easy Action” (1970) ajudou o álbum a despontar para o anonimato —, abraçando, de vez, o rock de viés mais clássico. Tudo bem que “Black Juju” chupa “Set the Controls for the Heart of the Sun” (Pink Floyd) até o caroço, mas é uma em nove em que o ontem dita as regras.

Estão em “Love It to Death” algumas das peças mais referendadas do catálogo do Alice grupo e do Alice cantor, como “I’m Eighteen” (seu primeiro hit nas paradas), “Is It My Body?” e a dramática “Ballad of Dwight Fry”, que Cooper interpretava nos shows vestindo uma camisa de força.

“From the Inside” (1978)

O Alice Cooper Group foi desmanchado em 1974. Durante 1977-1978, Alice, o cantor, estava o próprio pé de cana. Estima-se que sua ingestão alcoólica diária ultrapassava dois engradados de cerveja e uma garrafa de uísque. Antes que o alcoolismo o incapacitasse, a esposa Sheryl Goddard e o empresário Shep Gordon o internaram, quase que compulsoriamente, num sanatório em White Palms, Nova York.

Empreitada autobiográfica com parceiros de peso — o letrista Bernie Taupin (Elton John) e os guitarristas Rick Nielsen (Cheap Trick) e Steve Lukather (Toto), entre outros —, “From the Inside” é fruto de experiências vividas por Alice no período em que ficou em tratamento no Cornell Medical Centre. As letras refletem a dura rotina de uma celebridade em reabilitação, aprendendo a substituir o álcool por alimentação saudável, exercícios físicos e drogas pesadas que aplacam o revés da abstinência.

Também entram em cena alguns personagens bizarros, inspirados nas amizades feitas durante o isolamento; alcoólatras, viciados e pessoas com graves problemas mentais, além de enfermeiras “saídas das profundezas do inferno” — como diz a letra de “Nurse Rozetta” — e de um terapeuta que era a cara do lendário compositor Burt Bacharach.

É, sobretudo, um disco de contrapontos: enquanto “The Quiet Room” é de uma agonia claustrofóbica, “Serious” mistura drama e humor involuntário em seu refrão que define o cotidiano de um rockstar adepto dos excessos.

Mas a canção de destaque é, sem dúvida, “How You Gonna See Me Now”. Dedicado a Sheryl, o lindíssimo e tristérrimo único single extraído do álbum atingiu um surpreendente 12º lugar nas paradas; feito que Alice comemorou tomando um porre homérico.

“Flush the Fashion” (1980)

Da mesma forma que qualquer álbum lançado entre 1971 e 1974 poderia constar da presente lista como representante do que de melhor Alice Cooper produziu em sua extensa carreira, “Flush the Fashion” não era a única opção para simbolizar o fundo do poço criativo no qual o cantor foi atirado na primeira metade da década de 1980.

Sob comando de Roy Thomas Baker, lendário produtor do Queen e do The Cars, e cheirando cocaína como nunca antes, Cooper investiu numa pegada new wave que serviu para o bem e para o mal. Por um lado, lhe rendeu um hit inesperado com “Clones (We’re All)”; por outro, alienou os fãs que, não obstante a notória queda de rendimento e público nos shows, continuava dando a Alice o crédito por ter sido ele o “inventor da coisa toda”.

No repertório de “Flush the Fashion”, poucos são os destaques: além da supracitada queridinha dos noveau riche, apenas “Pain”, “Model Citizen” e “Grim Facts”, todas batizadas a partir de manchetes de jornal, possuem algum apelo; o que justifica terem sido as únicas mantidas no setlist ao vivo uma vez encerrado o fiasco que foi a turnê do álbum.

“Trash” (1989)

Alice Cooper estava de férias no Havaí quando Bob Pfeifer, da Epic Records, entrou em contato convidando-o para assinar com a gravadora. Por mais grato que fosse à MCA, responsável por seu retorno aos holofotes com “Constrictor” (1986) e “Raise Your Fist and Yell” (1988), Alice tinha ciência de que o selo não possuía a força necessária quando o assunto era hard rock. Além do mais, Pfeifer prometeu não poupar despesas: “Faça o que você acha que deve ser feito; nós pagamos”.

Com a faca e o queijo na mão, Alice pediu alto: Desmond Child, coautor de sucessos como “I Was Made for Lovin’ You” (Kiss), “Livin’ on a Prayer” (Bon Jovi) e “Angel”, do Aerosmith, que, reza a lenda, foi escrita em apenas 45 minutos.

Além de compor em escala industrial, Child era muito bem-relacionado. Com isso, entre as músicas oferecidas para o ainda vindouro “Trash”, figuravam composições de Jon Bon Jovi e Richie Sambora (“Hell is Living Without You”) e Joan Jett (“House of Fire”). Mas o carro-chefe do álbum, lançado a 25 de junho de 1989, foi “Poison”, cujo sétimo lugar nas paradas estadunidenses só seria superado por uma monstruosa segunda posição no Reino Unido.

Apesar de ter sido o maior álbum de Alice desde “Welcome to My Nightmare” (1975) e ter marcado a última vez que ele pôde ser considerado um competidor genuíno no mercado, a crítica não perdoou: “‘Trash’ é tão bizarro quanto seria ouvir Barry White cantar sobre cobras e bebês mortos”, escreveu Mark Coleman, da Spin.

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Marcelo Vieira
Marcelo Vieirahttp://www.marcelovieiramusic.com.br
Marcelo Vieira é jornalista graduado pelas Faculdades Integradas Hélio Alonso (FACHA), com especialização em Produção Editorial pela Universidade Estadual Paulista (UNESP). Há mais de dez anos atua no mercado editorial como editor de livros e tradutor freelancer. Escreve sobre música desde 2006, com passagens por veículos como Collector's Room, Metal Na Lata e Rock Brigade Magazine, para os quais realizou entrevistas com artistas nacionais e internacionais, cobriu shows e festivais, e resenhou centenas de álbuns, tanto clássicos como lançamentos, do rock e do metal.

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