Pitchfork dá nota 2 em 10 para novo álbum do Måneskin e gera reações nas redes

Site americano arregaçou o grupo italiano de tal maneira a ponto de questionar para quem esse tipo de música seria

Fãs do Måneskin estão furiosos com o Pitchfork após o tradicional site sobre música publicar uma resenha extremamente negativa do disco mais recente do grupo italiano, “Rush!”. A nota final foi de 2 em uma escala de 10.

Escrita por Jeremy D. Larson, o editor da seção de resenhas do site (conhecido por ter descascado o disco de estreia do Greta Van Fleet), não teve a menor piedade. O subtítulo já resumia sua opinião do álbum do Måneskin de maneira curta e grossa:

“A banda de rock italiana se tornou uma sensação global. Seu disco novo é absolutamente terrível em qualquer nível concebível.”

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O teor da resenha em si vai a fundo em uma procura de compreender qual o público alvo desse trabalho, e se na realidade é feito mais para uso comercial do que para pessoas. Larson também discute o papel de música alternativa no mundo pós-streaming, onde tudo é acessível ao mesmo tempo sem a necessidade de priorização financeira por parte do ouvinte.

Role mais abaixo para ler a crítica na íntegra e traduzida para o português.

Veja reações à resenha

Por sua parte, alguns internautas expressaram suas opiniões com relação à resenha. Foram de estupefação com o grau de crítica a risadas e uma tradicional relativização de elogios feitos a artistas pop.

Confira abaixo uma seleção dessas reações (via Loudwire).

“Eu não me importo com o Maneskin, mas Jesus Cristo essa resenha do Pitchfork é brutal.”

“Eu não gosto do Maneskin tanto quanto qualquer um, mas Jesus Cristo o Pitchfork realmente é o maior hater de todos os tempos.”

A.C. Newman, líder do grupo indie The New Pornographers:

“Pitchfork realmente indo com tudo ao odiar o disco novo do Maneskin. Pra que gastar tanto tempo falando de música que você não gosta? Só um tolo faria isso.”

“Se é pra entrar de sola em algo, não dá pra fazer melhor que o Pitchfork nesse disco novo do Maneskin.”

“Dividida entre meu ódio ao Pitchfork e ao fato da resenha do Maneskin ser muito engraçada.”

“Pitchfork chamando o Maneskin de rock corporativo clichê um mês depois de eleger o disco da Beyoncé como o melhor de 2022.”

Leia a crítica na íntegra

Para quem quiser conferir a resenha completa traduzida, confira abaixo o texto:

Existe um espectador que foi puxado para dentro do mundo do Måneskin. Eu consigo sentir sua empolgação, o espírito livre, a vontade de morder o lábio inferior e imitar um bend de guitarra como um gesto de afirmação. Eu sei que, nessa banda italiana muito popular, o ouvinte descobrir uma coisa rara e poderosa. Måneskin não são só três caras e uma mulher que tocam rock tradicional e – se dá pra acreditar – todos usam delineador. Para esse ouvinte, Måneskin são algo muito mais importante: uma alternativa.

Uma alternativa ao quê, exatamente, é a questão. A ascensão global do Måneskin – a palavra dinamarquesa para luar, pronunciada MOAN-eh-skin – parece mais uma necessidade do inconsciente coletivo por outra coisa, uma atitude retrô lasciva que não parece cool ou popular, e portanto fica em oposição ao o que é cool ou popular. A música deles pode soar como se fosse feita para apresentar o novo modelo de Ford F-150, mas eles ainda assim venceram o concurso pop Eurovision em 2021. No mesmo ano, eles se tornaram mega-virais no TikTok com a cover de “Beggin’,” uma canção originalmente escrita para o grupo pop do meio do século passado The Four Seasons. Måneskin são de Roma, uma cidade famosa por mil coisas antes de chegar em música rock boa. “Conseguiriam eles conquistar o mundo?”, perguntou o New York Times. E “Rush!”, seu primeiro álbum gravado principalmente em inglês, é absolutamente terrível em todo nível concebível: vocalmente irritante, liricamente sem imaginação, e musicalmente unidimensional. É um disco de rock que soa pior à medida que você toca mais alto.

Måneskin agora se veem na posição onde “Rush!” precisa apresentar as perguntas que justificam sua popularidade: Com tudo acontecendo no mundo, você não gostaria que música rock fosse tarada de novo? Não gostaria que mais álbuns tivessem Tom Morello fazendo uma versão preguiçosa de seus solos de guitarra com pedal de Whammy? E se fôssemos a primeira banda a cantar as palavras “kiss my butt” [beija minha bunda]?  Não gostaria que comerciais de perfume fossem mais longos? Não gostaria que uma loja de guitarra genérica ganhasse um Grammy? E se o Max Martin trabalhasse com o Wolfmother? Lembram da banda Foxy Shazam? Por que ninguém está falando sobre o quanto que Hollywood é falsa e artificial? Você não acha letras como “Oh, mamma mia, spit your love on me, I’m on my knees, and I can’t wait to drink your rain” [Oh, mamma mia, cuspa seu amor em mim, estou de joelhos, e mal posso esperar para beber sua chuva] são o tipo de coisa que pessoas tem medo demais para cantar hoje em dia?

O resultado é um álbum suado e cheio de esforço que sempre procura atenção, mas nunca a captura. A tentativa mais esdrúxula de justificar seu status como uma alternativa a algo é “Kool Kids”, onde o frontman Damiano David adota um sotaque britânico falso para mandar um ataque satírico contra “a turma cool” que soa como uma versão bolsonarista de Mark E. Smith [líder do The Fall] gritando por cima dos Vines. “We’re not punk, we’re not pop, we’re just music freaks” [Não somos punk, não somos pop, somos apenas loucos por música], canta David. “Cool kids, they do not like rock/They only listen to trap and pop” [Galera cool, eles não gostam de rock/só escutam trap e pop], ele continua, procurando por mais upvotes pro comentário. Esse é uma insatisfação social interessante vinda de uma banda não só vestida de Gucci, mas vestida pela Gucci. 

Mas esse é o atrativo estranho do Måneskin, uma banda tão ruim que não tem como escutar a música deles sem pensar que, finalmente, como uma cultura, chegamos a um evento Måneskin em massa inevitável. Isso tem que significar algo. Em teoria, Måneskin – em seus trajes iconoclastas, jovens, europeus, anti-mainstream – talvez se encaixe no que americanos uma vez conehciam como “rock alternativo”. Era um gênero que dizia – de acordo com regras sociais dos anos 80 e 90 – o que você gostava também simboliza o que você não gosta: ao ter um disco do Sonic Youth, você desviava a energia talvez consumida por um álbum do Spin Doctors. Era meio física, e dava para construir uma identidade em torno disso. Talvez a popularidade global do Måneskin esteja prevendo um retorno à força opositora capaz de mobilizar uma alternativa ao mainstream monocultural? Talvez os 6.5 bilhões e contando de streams Måneskin’s sejam um presságio de um novo revival do rock?

O problema é que, uma década atrás, no despertar da era de streaming, “alternativo” como conhecemos ficou extinto. Consumo de música em serviços de streaming fez música um evento multiversal, uma conversão em massa para escutar tudo em todo lugar ao mesmo tempo. Gêneros se tornaram silos, definhando por fora e prosperando por dentro. A cover de “Beggin” do Måneskin chegar às posições superiores da Billboard não foi uma reação cultural a nada, foi apenas uma anomalia. É conteúdo sem significado. Eles não foram Nirvana chegando para tirar hair metal do mapa. Seu sucesso foi criado a partir de reality shows europeus, algoritmos e vantagem cumulativa. Eles são caos num vácuo, e estamos aqui tentando extrair sentido de uma banda que soa como uma paródia de uma capa do NME dos anos 2000 e cuja vibe poderia ser descrita como “Cirque du Soleil: Buckcherry”. 

Mesmo se você aceitar a premissa que Måneskin sejam “loucos por música” que amam “rock”, você será decepcionado de saber que nada em “Rush!” passa essa impressão. Sua influência principal parece ser os cantos de “Seven Nation Army num jogo de futebol, seguidos de perto da era mais recente do Red Hot Chili Peppers, seguidos extensamente por nada. Na inacreditável “Mammamia”, o baixo, guitarra e vocais são apresentados quase inteiramente em uníssono marcial. . É uma escolha fascinante que te lembra aula de música do ensino fundamental, ou enxaquecas. Contraste isso com “Read Your Diary,” uma das poucas faixas talvez dinâmicas de “Rush!”, cujo ritmo shuffle mesmo assim exige que nós escutemos versos sobre derramar champanhe na sua calcinha e “usar minha mão esquerda porque sinto como se fosse você”.

Começando com uma arte de capa dos integrantes da banda reagindo um de cada maneira enquanto olham debaixo da saia de uma estudante, a libido do Måneskin nunca atinge a qualidade lasciva, panssexual e transgressiva que eles querem passar. Todo verso sobre orgasmos e fluidos e sexo oral parece que foi passada pra você no metrô via AirDrop. Isso não é uma reação puritana ou negativa sobre sexo a canções sobre transar tanto quanto é um problema de design: “Rush!” foi produzido pela banda junto com o megaprodutor pop Max Martin, junto com uma lista de hitmakers de rádio cujo trabalho plástico é insolúvel com o rock tarado do Måneskin. A produção soa tão apertada, digitalizada e sem balanço que parece otimizada para ser trilha de uma transa num banheiro de um Buffalo Wild Wings. 

Para quem é isso? Cadê o ouvinte cativado do Måneskin? É difícil de imaginar que “Rush!” mobilize o público nostálgico pelos dias de música de verdade do mesmo jeito que os Black Keys ou Greta Van Fleet ou qualquer outro artista rock feito pros Grammys. Rock idiota e viciado em sexo – um gênero incrível e cheio de história que vai desde T.Rex a AC/DC a Van Halen a Jane’s Addiction ao The 1975 – merece mais que isso. Mas o Måneskin chegou, e eles estão aqui para você, seja lá quem você for: uma banda para você construir sua identidade em torno e dizer, eu não estou com a galera legal, estou com o Måneskin.

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Pedro Hollanda
Pedro Hollanda
Pedro Hollanda é jornalista formado pelas Faculdades Integradas Hélio Alonso e cursou Direção Cinematográfica na Escola de Cinema Darcy Ribeiro. Apaixonado por música, já editou blogs de resenhas musicais e contribuiu para sites como Rock'n'Beats e Scream & Yell.

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